Carol [00:00 - 00:26] Mateus eu tô bem feliz de poder conversar contigo. Você já participou de vários projetos artísticos, eu lembro que a Casa de Velho já foi na rádio há algum tempo. A gente mesmo teve a oportunidade de conversar em 2018 com a “Espelho Negro”. E agora a gente tá batendo esse papo, porque você tá lançando, né, acabou de lançar o teu primeiro disco, que é “Rolê nas Ruínas”, então tô muito feliz cara, valeu por conversar com a gente!
Mateus [00:27 - 00:29] Eu também tô feliz, agradeço demais pelo convite!
Carol [00:30 - 00:51] E o que mais me chamou atenção sabe Mateus é a multiplicidade de sonoridades que você trás, sabe? Pra falar dessa experiência de resistência para corpos violentados historicamente. E eu fiquei pensando sobre o que é que mais te inquietou pra você poder construir esse teu trabalho e porque intitular como “Rolê nas Ruínas”?
Mateus [00:52 - 01:39] Eu acho que é “rolê” primeiro que é rolê, porque… É sobre corpos em movimento, assim, eu não penso que é um… que esse trabalho tenha uma paisagem estática assim, eu acho que ele fala sobre uma travessia, sobre um movimento mesmo de… quando um corpo sai da sua favela pra viver uma rotina de trabalho ou de lazer e o que acontece nesse percurso, nessa ida e nessa vinda. Quais são os conflitos, qual é a aflição, o que que traumatiza, o que que encanta… nesse percurso. Eu acho que é bem sobre isso, assim, sobre um corpo caminhando, indo e voltando.
Carol [1:41 - 01:51] E essa questão também foi o que mais te inspirou, talvez, e que mais te inquietou na hora de produzir esse trabalho… Esse teu primeiro trabalho solo, digamos assim.
Mateus [1:52 - 02:41] Acho que sim, mas, é… as músicas elas foram feitas ao longo de um processo, assim, sabe? é meio que desde o final de 2016, começo de 2017 eu já tava fazendo músicas que já vinham muito nesse caminho. Então na hora de reunir elas, é… enquanto álbum, foi que eu fui percebendo, assim, o que que eu tava tratando, de que paisagem… quem tava, é… não que eu não soubesse na hora de fazer as músicas mas… digo assim, elas juntas, enquanto um disco, né? quem atravessa, o que acontece. Eu acho que as “Ruínas” é… sobre isso, é sobre mundos que se destroem quando outros chegam, acho que é bem por aí, assim…
Carol [02:42: 03:00] E o que me chamou atenção também no material que “cê” mandou aqui pra que eu pudesse ter um pouco mais, uma ideia um pouco maior do teu trabalho é o “Rock de Favela”, né? e eu fiquei pensando sobre o que seria esse “rock de favela”, se você pudesse explicar pra gente a origem desse “rock de favela”.
Mateus [03:01 - 04:33] Eu acho que, acho não… ele é rock de favela porque é sobre favela, é produzido a partir desse lugar, trás as questões desse lugar, seja de dor, seja de festa… é… a partir do ponto de vista, óbvio. Mas… acho que é de favela porque é da onde ele vem, assim, o que que ele ressoa, o que que ele grita… é desse lugar, sabe? coloco isso por que, de propósito até, porque pensando sobre uma cena rock que já se estabeleceu, essa cena rock, de certa forma, a que predominou, ela é muito de condomínio, ela é muito… realmente… de uma classe branca que pode tá acessando sempre estúdios, pode tá produzindo, inclusive as referências, se for pensar historicamente, se for pensar que o rock surge através do povo preto, e ele ao longo da história foi sendo ressignificado e se tornado uma cultura branca hegemônica, um dos maiores ídolos do rock, inclusive meus também, são brancos e são europeus, então é… “rock de favela”, quando eu uso esse termo eu acho que eu retomo o caminho, assim… tento retomar um caminho, um lugar e também cutucar, apontar uma questão, assim.
Carol [04:34 - 05:28] Eu acho que isso me faz pensar sabe Mateus sobre a faixa que eu escutei as “Vozes da Cabeça”, que é a que abre o teu disco ela tem um trecho que diz assim: “boto fé que esse som tá desgostoso, mas se for necessário, vou cantar de novo, não, não, não, não…” e todo o teu álbum é um grande grito político, e teve inclusive tem um comentário lá no Youtube que eu achei que descreve bem, assim, o teu trabalho. Se eu não me engano foi o perfil “Cemitério das Flores”, esse perfil escreveu assim: “é um corte na carne, é esgaçar as feridas, é olhar para dentro, é perceber o que me cerca.” Então porque falar de uma realidade que parte dessa sociedade ela quer tanto apagar? É uma forma de dar voz a tantos jovens que assim como você, sobre com o preconceito, com o racismo, com as desigualdades?
Mateus [05:29: 06:57] Não sei se dar voz, mas uma coisa que eu penso muito é que o poder de contar histórias ele é espelho, ele revela e ele abre possibilidades, sabe? e eu penso que esse álbum de alguma forma eu conto muitas histórias, conto muitas histórias que são minhas, que são dos meus amigos, de pessoas que vivem ao meu entorno, que são coisas que eu vejo e que eu vivo. E é isso, assim, quando a gente conta histórias, a gente não repete, não é sobre repetir o que já sabemos, assim, é… por mais que as pessoas finjam não saber elas sabem que na favela a realidade e a repressão que os corpos jovens, eles têm… jovens favelados, pretos, indígenas eles têm possibilidades mais restritas, diferente de uma pessoa branca, rica e tal, pensando em educação, pensando em perspectivas de futuro. Então quando eu conto… o contar histórias ele não é só, tipo, relembrar. Mas ele mostra pra gente outros caminhos, assim, quando a gente entende a nossa história, de alguma forma, quando a gente escuta alguém contando algo que… “nossa, eu já vivi!” ali a gente consegue despertar pra um outro lugar, assim, enxergar a possibilidade de mudanças a partir do encontro com alguém que parece comigo.
Carol [06:59 - 07:29] Legal… e inclusive essa música ela é a querida, assim, de muitas pessoas, né? eu tava conversando com uns amigos, falando que ia entrevistar você, e a galera fala assim: “ah pô, ‘Vozes da Cabeça’ é a minha preferida!” mas ela tem um ritmo tão dançante, e ao mesmo tempo ela aborda questões tão densas, e aí eu fiquei: por quê será que o Mateus escolheu um ritmo tão dançante, uma mescla de sonoridades pra falar desse assunto tão denso em ‘Vozes da Cabeça’, que também fala sobre saúde mental, né?
Mateus [07:30 - 08:32] Então… eu acho que, quanto ao ritmo, aos ritmos inclusive que passam pelo disco, eles vieram num processo muito natural, assim, digo… porque não foi uma escolha matemática, ou uma escolha exatamente racional… no sentido de que quando eu fiz a música, quando eu fiz as primeiras estrofes, eu já percebi, eu fiz no violão que geralmente eu componho ou só cantando ou no violão… eu e o violão. Então, tipo, eu já percebi ali que aquela melodia era muito vinculada ao funk, ao funk brasileiro, ao funk BR. Então, dali partiu-se, né? tipo, a primeira partícula que veio dessa música já tinha esse ritmo. E não é que eu pensei matematicamente “vou sentar e fazer um funk”, mas ele veio, e... só desenvolvi a partir exatamente do que já tá comigo, assim, não só no meu corpo, mas no meu entorno, na minha memória.
Carol [08:33 - 08:51] E se eu não me engano essa música teve a parceria do Caiô e do Nego Célio, que inclusive conversamos os três a… 2018, há dois anos, e essa é uma parceria que já vem sendo estabelecida há muito tempo, né? Como é que surgiu a vontade também de trazer os meninos pra esse teu primeiro disco?
Mateus [08:53 - 09:57] Muito de que… na realidade essa galera já tava no meu processo, assim… da vida, assim, a gente é amigo, a gente é um coletivo, né, o “Espelho Negro”, atuante também, juntos. E com eles eu partilho muito dos meus processos. Com eles a gente… eu faço uma música e mostro como é que tá, a gente troca ideia junto, eles me mostram… E as músicas desse disco elas foram muito compartilhadas com eles, a gente tava muito junto. É… então sempre que eu fazia eu já mostrava, antes mesmo de ser um disco quando é… então eles tavam ali o tempo todo. São pessoas que eu confio, que eu admiro, e as “Vozes da Cabeça” quando eu fiz… Várias dessas músicas eu fazia um pedacinho eu já mandava pro Caio, já mandava pro Célio. Essa, no caso as “Vozes da Cabeça” foi a que ele já me mandou uma outra parte ali, e a gente fez outra parte juntos… Então, eles tão ali comigo, então fazia muito natural e todo sentido eles estarem presentes nesse disco também.
Trecho de música [10:04 - 10:23] “Deve de ser a realidade, mas a mentira tá tão igual, vou te contar mas pela metade, que é pra tu querer ver o final. Legal (13x)”
Carol [10:24 - 10:33] A terceira faixa que é “Legal, legal” inclusive tem um clipe muito bom galera pode correr lá no Youtube pra conferir, tem um trecho dessa música que você canta:
Trecho de música [10:34 - 10:40] “Um branco aperta a minha mão, me oferece um ‘não’, pede compreensão”.
Carol [10:41 - 10:57] O que você sente, Mateus, quando por exemplo a gente escuta esses discursos pessoas defendendo a meritocracia, de que só depende de você pra obter sucesso né, o sucesso só depende de você? E quantos “nãos”, cara, você já levou?
Mateus [10:59 - 12:29] Não? Sempre, a gente recebe vários, né? E muito disso, esse discurso meritocrata é “embaçado” né? Porque assim, a galera detém os recursos, estão nos cargos principais de poder dentro de todos os tipos de instituições possíveis que a gente imaginar, seja universidade, seja uma instituição artística e cultural que tem a possibilidade de colocar artistas pretos favelados ali dentro, não só artistas mas outras pessoas que trabalham em outras funções, produção etc… Dentro de cargos ali dentro que possam oferecer alguma dinâmica e alguma mobilidade a essas pessoas. Não só no meio cultural e outros... Então eu acho que as pessoas pretas recebem esses “nãos” assim em várias camadas da vida. E aprendem a viver, a driblar isso, ou até as vezes se submeter a situações tristes ou desconfortáveis em prol disso, assim, também, né? É isso, a gente entra num shopping, uma pessoa segue. Você recebe um “não” no trabalho porque o seu cabelo é X ou Y, e não consegue uma entrevista de emprego. Aí sai na rua, aí tem uma polícia que dá baque, “eu vi um grupo de meninos ali reunidos e com certeza eles estão fazendo alguma coisa errada”. É meio cotidiano, né?
Carol [12:30 - 12:46] Cê falou sobre essa questão da polícia, ou o famoso “baculejo” né? eu acho que, se eu não me engano, o “Bem lentinha/Slowmotion” que é a segunda faixa, cê fala né um pouco isso né? “eu me preparo pro baca”.
Trecho de música [12:47 - 13:00] “eu me preparo pro baque, me preparo pro baca, me preparo pra baco, mil treta e urucubaca, eu calo a boca e ainda assim a boca fala…”.
Carol [13:13 - 13:56] Então eu inclusive tava pesquisando um pouco pra gente poder conversar, né, sobre o disco, eu olhei lá o teu twitter também, e eu acho que você, se eu não me engano fez um relato também sobre um pouco dessa experiência que, infelizmente, é uma experiência bem corriqueira pra muitos jovens negros e periféricos. Você falou sobre um mercadinho que tem perto da sua casa e que você sempre foi lá desde que o mercadinho era minúsculo, e agora que cresceu tem um segurança que fica te olhando, né? E que você de uma certa maneira já ensaiou várias vezes coisas pra falar pra esse segurança, mas que você nunca fala. Eu acho que é um pouco desse sentimento, né Mateus?
Mateus [13:57 - 15:15] Demais, demais. demais. É muito doido porque assim, é um lugar, é um mercantil que, como eu moro aqui desde que eu nasci, você acaba criando um certo sentimento de pertencimento e intimidade. “Ah, vou ali na bodeguinha”. Você vai, compra um pão. Eu vou desde criança mesmo, era muito pequeno, era um corredorzinho. Hoje ele é um grande, comprou as casas ao entorno, e virou um grande mercantil, com vários corredores e vários caixas e vários funcionários obviamente. E esse sentimento de pertencimento… não que eu tenha algum afeto, mas é aquela coisa, né? Eu tô no meu bairro, na minha rua, eu me sinto em casa, e aí “bufo”! De repente não, você não tá tão em casa assim. O cara, é sério, eu vou e isso é cotidiano, eu vou, as vezes eu tô aqui escolhendo uma coisa e ele, de repente [latidos de cachorro], vem ficar no mesmo corredor que eu, fingindo que tá escolhendo alguma coisa, ele fica bem paradão, assim, me olhando. E tipo, eu sei que isso não é só comigo, eu acho que outras pessoas devem ter se deparado com essa sensação também.
Carol [15:15 - 15:17] É, infelizmente. Como é o nome do teu cachorro Mateus?
Mateus [15:17 - 15:18] É a sol!
Carol [15:19 - 15:24] Ah, é a sol. A sol tá participando também deste bate-papo, ela tá concordando contigo, viu? [risos]
Carol [15:27 - 16:30] Olha Mateus, tem uma coisa também que eu percebo muito presente no teu trabalho é a questão da segurança pública. E esse teu trabalho ele não ia ser diferente, né, nesse teu álbum. Teve uma faixa, e o álbum todo ele tem 9 faixas, e a oitava que é “Do Harlem a Cajazeiras” ela me fez, assim, viajar sabe? eu fiquei pensando nela um tempão, e criando relações, e tentando entender tudo e escutando assim com muita calma. E a relação que eu fiz é muito desse lance da chacina que aconteceu no Forró das Cajazeiras em 2018 e o assassinato a tiros do Malcolm X, que era o líder dos Panteras Negras que foi assassinado a tiros em 1965. E eu fiquei pensando: “será que essa relação de fato existe, ou eu viajei muito?” queria entender um pouco se eu tô no caminho certo se foi mais ou menos por aí que você também pensou para poder compor essa música.
Trecho de música [16:31 - 17:00] “No harlem, homens brancos, chegavam com seus carros metálicos, armados, tiros e pânico. Na cajazeiras, encapuzados…”.
Mateus [17:00 - 18:54] Com certeza essa relação existe, sabe? óbvio que contextos são diferentes, né? são além de países diferentes, contextos históricos e motivos diferentes, mas os corpos que são assassinados, dizimados e apagados são os mesmos ao longo da história, né? por diversos motivos. Teve um menino que ele escreveu uma crítica sobre o disco no Instagram e aí uma parte ele comentava sobre essa música, e ele fez um paralelo a criminalização dos rolezinhos e dos baile funks e tal, que é no caso o que acaba acontecendo quando rola essas chacinas, quando rola eventos violentos em lugares de festividade. É isso, né? Essa relação histórica dos corpos que são apagados independente dos motivos, independente do contexto, quer dizer, são os mesmos, né? É um racismo que direciona a violência a determinados corpos que tão ali num contexto urbano, que se reúnem por motivos diversos, né? no caso do assassinato do Malcolm X e não só, mas, de várias outras pessoas tinha uma organização política preta ali, né? se movimentando em prol de uma mudança. Mas ao mesmo tempo pessoas se reunindo num forró pra festejar a vida, pra relaxar do peso de uma semana de trabalho, é também importante, né? é a saúde dessas pessoas, é o lazer de gente ali que tá em jogo, e eles estão dentro da sua comunidade, do seu lugar de conforto, e é isso. Se é polícia, facção, os corpos mortos são os mesmos, assim. E quem lucra ainda é as mesmas entidades, as mesmas etnias.
Carol [18:55 - 19:51] Eu pensei agora cê falando e eu lembrei de uma música que eu cantava quando eu era pequena, assim, e depois, só depois quando eu cresci e que, enfim, a gente vai, vai ganhando mais vivências de vida é que eu fui entender mesmo a música, né? é o “Rap do Silva”, que fala justamente sobre essa pessoa que é assassinada ao ir ao baile funk, né? É um trabalhador, era uma pessoa que ia ao baile funk pra poder se divertir, e lá encontrava com os amigos, e um dia foram lá e mataram, né, uma bala pegou e, enfim, ele morreu. Então… eu tô aqui só fazendo várias relações né Mateus, durante essa conversa mas é massa, assim, quando a gente pega a arte. A arte também tem esse poder de levar a gente para vários caminhos, né? Às vezes você pensa numa coisa, outra pessoa já leva pra outro, já ramifica, né? isso que eu acho mais massa assim da arte.
Mateus [19:52 - 20:07] Total, e pra você ver, né? Como esse movimento, ele é recorrente e ele atravessou o tempo, né? é uma coisa que precisa dessa atenção, né? tipo, o “Rap do Silva” é dos anos 90 ou dos anos 2000?
Carol [20:08 - 21:08] Dos anos 90! Dos anos 90! ali no começo do…aquele funk antes do “Furacão 2000” né? Então é nos anos 90 mesmo. E as cenas se repetem, né? Agora você falou sobre a sua vivência no seu bairro, sobre esse lance do pertencimento, né? Você é morador da Sapiranga, você tem muito orgulho disso, inclusive é um dos organizadores da “Sapiranga Sound System”, e eu até olhei, o movimento lá no Instagram também achei bem legal já acontece desde o ano passado, se eu não me engano, e infelizmente já que a gente tá falando sobre essa recorrência de violência, as mortes, né? Infelizmente é um bairro que muitas vezes quando aparece na mídia só aparece por conta da violência. E eu acho que o “Sapiranga Sound System” é justamente essa oportunidade de mostrar essas outras vivências que existem nesse bairro, inclusive através da arte, então eu queria que tu falasse um pouco sobre esse movimento, né, de porque organizar esse movimento no teu bairro.
Mateus [21:09 - 22:24] Primeiro que, pra nós, eu sou muito feliz de fazer parte disso, de organizar isso com a galera que organiza comigo, é todo mundo muito novinho também. Essa praça onde acontece, já foi um lugar bem esquecido, assim, num período mais complicado do bairro, alguns anos atrás, foi um lugar bem esquecido e sair de um lugar novo, uma novidade pra um lugar onde não se podia ir. E fazer esse evento já veio junto de um outro movimento que tava rolando um pouquinho antes, que era uma batalha de rap que acontece aqui. E a gente meio que conta com o apoio de certa forma dos moradores do entorno da praça, que nos cedem energia, às vezes a galera ajuda a gente na limpeza, e eu acho que é muito disso. Além de cuidar da limpeza de um ambiente que é nosso, a gente consegue fazer uma festa ali, consegue mostrar o que a galera do bairro tá fazendo artisticamente, e consegue reunir gente, reunir gente jovem num espaço que é massa, que é nosso, de uma forma massa, assim. Eu gosto de fazer, dá trabalho mas é muito massa.
Carol [22:25 - 22:49] É, eu imagino o trabalhão que deve dar, viu? E como é que tá Mateus agora nesse processo, a gente tá passando por um período de pandemia, em que as pessoas tão em distanciamento social, a nossa rotina mudou por conta do novo Coronavírus. Como é que tá a realidade aí na Sapiranga, no teu bairro, como é que ficam também essas movimentações como o “Sapiranga Sound System” nesse momento?
Mateus [22:50 - 24:43] Então, a gente tava pouco antes desse período se organizando com as meninas do projeto “Princesinha de Favela” pra fazer um evento que ia ser até de dia, que era pra chamar algumas pessoas pra modelar, fazer maquiagem né, que esse projeto faz isso... Fazer um ensaio fotográfico com a galera daqui. Aí meio que a pandemia chegou e, enfim, as atividades tão meio que paralisadas, assim né, da gente? mas o bairro infelizmente rola muito de… sinto que boa parte das pessoas ainda não ativou o modo autocuidado, e continua nas ruas, além de todas as dificuldades obviamente… muita gente mora na mesma casa com um monte de gente, e aí tal hora o cuidado é totalmente diferente de uma casa que mora pouca gente, de uma casa muito grande que cada um tem o seu quarto, né? obviamente. Mas é isso, sinto também que falta um pouco essa sensação de autocuidado, esse entendimento de autocuidado ele é um negócio que a gente não tem ao longo da vida, né? E aí num momento desse, é natural, não sei se natural, mas acontece de muitas pessoas acabarem por negar, assim, a realidade, a situação de pandemia, esse ‘coisa’ eminente, que tá perto assim. E olha que, sinceramente, muitas pessoas… conheço várias pessoas, avô, vizinho de alguém, ou tio que foi pro hospital e tá internado agora e é isso, né?
Carol [22:44 - 25:27] É, a gente tá passando por um processo bem difícil, né? eu espero que saiamos desse momento, assim, com vontade de mudar né? por que do jeito que tá, tá bem difícil, assim, do jeito que o sistema tá agindo é bem complicado da gente se manter, né? nesse processo todo. São épocas bem difíceis, assim. Mateus, a nossa conversa já tá chegando ao fim. Infelizmente, assim, porque cara, eu vou te confessar: eu amei o teu disco, assim, amei o teu trabalho, eu vou recomendar pra todo mundo, escutar, tá em todas as plataformas, tá lá também no Youtube, inclusive dançar um a dois né, em “Névoa”. Fica a dica!
Mateus [25:28 - 25:33] Tomara que isso passe logo pra gente poder dançar esse “a dois”, todo mundo se encontrar nos reggae por aí.
Carol [25:34 - 26:12] Por enquanto só tá dando se for, ou se você tiver seu companheiro ou a sua companheira em casa, alguém em casa, né? ou então com a vassoura. Infelizmente é o que tá rolando, né? [risos] sabe o que foi que eu fiquei curiosa Mateus, e eu já ia esquecendo de te perguntar, porque quando eu te conheci era Mateus mesmo que você assinava. Aí quando eu vou olhar lá no Instagram, é “Mateus Fazeno Rock”, e não tem nada mais cearense pra mim do que esse “Fazeno”. “Ei menino o que que tu tá fazendo?” eu acho isso tudo! explica um pouco também desse teu nome porque o “Fazeno Rock” é sensacional.
Mateus [26:13 - 27:09] É natural, né, na fala assim. Digamos... A gente na fala corriqueira a gente já fala assim, né? E aí meio que era o nome do projeto, de alguma forma eu ainda... me chamo Mateus, se quiser falar comigo e me chamar na rua é Mateus, assim, mas é um nome que eu uso pra remeter ao projeto, que de alguma forma… Não sei... veio. Era mais pra remeter ao que eu vinha querendo propor, né? que era entender e fazer um rock que me colocasse, que me representasse, que eu me reconhecesse. E o “Fazeno” foi pra situar o disco nesse lugar, assim, de onde eu estou.
Carol [27:10 - 27:35] Massa, massa Mateus! Eu tô muito feliz cara, de verdade, eu desejo assim sucesso, vida longa total pra você, pra todos os projetos que você faz parte, pra esse teu disco. Deixar aí também o microfone do seu celular que a gente tá fazendo remotamente, gente, essa conversa, deixar aí a vontade pra você falar o que quiser, o espaço é todo seu, muito obrigado mais uma vez!
Mateus [27:36 - 28:07] Massa, eu que agradeço, fico feliz pelo convite, e também que você tenha curtido, que esse trabalho tenha sido motivo pra gente ter uma conversa, como essa. Isso pra mim já também me deixa muito feliz e eu sinto que de alguma forma me basta, assim, saber que através do disco a gente pôde, nós e outras pessoas puderam sentar e conversar sobre coisas da vida. É isso.
Carol [28:07 - 28:09] Massa Mateus, brigadão viu!
Mateus [28:10 - 28:11] Obrigado, obrigado também!