26/10/21

Saúde e meio ambiente em risco com microplásticos

Dado de 2020, da organização internacional Oceana, mostra que no Brasil, anualmente, cerca de 325 mil toneladas de plástico vão parar nos oceanos (Foto: Reprodução/Internet)

Nosso cotidiano é cercado por plástico. Apesar de ser uma constatação óbvia, às vezes só reparamos nisso ao observar o volume de embalagens de comida e de outros produtos que acumulamos na cesta de lixo ao longo de poucos dias. Agora tente pensar em plásticos de 5 milímetros - ainda visíveis a olho nu, até 0,001 mm. São os microplásticos. E desse tamanho a gente não consegue perceber, mas eles estão por toda parte.

Essas partículas são divididas em dois tipos. A de origem primária, aquelas já produzidas em tamanho milimétrico, como as microesferas para esfoliantes; e a de origem secundária, que surgem a partir do processo de degradação de plásticos maiores no meio ambiente. Os impactos desse material na natureza têm sido foco de estudo de muitas pesquisadoras. É o caso da Dra. Tatiane Garcia, bióloga e servidora técnico-administrativa do LABOMAR, da Universidade Federal do Ceará. Ela estuda a presença e os efeitos dos microplásticos nos oceanos:

"Os primeiros impactos desses pequenos fragmentos de plástico estão associados principalmente ao processo de alimentação da cadeia alimentar. Pensando em relação à partícula de microplástico, ela pode ser ingerida por organismos pequenos, como larvas de peixe; e esse organismo ser ingerido por animais maiores. A gente também tem que considerar que diversas substâncias químicas nocivas estão presentes no plástico; e aí, por isso, podem ser acumuladas nesses organismos, e vai passar na cadeia alimentar".

Tatiane Garcia afirma que estudos em laboratório mostraram prejuízos em relação ao comportamento alimentar, ao crescimento, à reprodução e à expectativa de vida de microcrustáceos contaminados por essas substâncias.

Dado de 2020, da organização internacional Oceana, mostra que no Brasil, anualmente, cerca de 325 mil toneladas de plástico vão parar nos oceanos. O número dá uma amostra da dimensão do nosso problema, já que esses plásticos vão ser transformados em microplásticos no processo de degradação.

Segundo Tatiane, apesar de não ser uma tarefa fácil, a população global precisa diminuir o consumo de plásticos, mudar hábitos e rever a produção contínua do material, especialmente de itens de único uso, como canudos e copos descartáveis. Essa virada é uma condição para garantir a saúde de todos os organismos vivos do planeta.

"O plástico nos ofereceu uma facilidade e uma grande comodidade para as questões do dia a dia. Mas, infelizmente, o descarte inadequado vem trazendo diversos prejuízos para a sociedade, mesmo pra quem acha que somente os animais marinhos estão sofrendo com sufocamento ou a ingestão, por exemplo. Diversos estudos mostram que os pequenos fragmentos de plástico já estão em nossos alimentos, no ar que respiramos, na água potável e dentro de nossos corpos".

No ano passado, pesquisadoras italianas descobriram microplásticos em placentas de mulheres saudáveis em análise feita com gestantes em um hospital de Roma. E em 2021, pesquisadores do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo divulgaram estudo sobre a descoberta de microplásticos em tecidos pulmonares de 13 pessoas, numa amostragem feita com 20. Descobertas que deixam evidente o quanto o ser humano não sai ileso do próprio impacto que provoca ao meio ambiente.

Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.

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