14/11/17

Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil

Libras é reconhecida como a segunda língua oficial do Brasil pela Lei nº 10.436/2002 (Foto: Reprodução/Internet)

Libras é reconhecida, desde 2002, como a segunda língua oficial do Brasil pela Lei nº 10.436. Essa língua é extremamente importante para a comunicação de pessoas surdas, mas apesar desse reconhecimento, o ensino no país ainda é pouco acessível a esse público.

A professora do curso de Letras-Libras da Universidade Federal do Ceará (UFC), Vanda Magalhães Leitão explica porque a educação adequada às pessoas surdas precisa estar em pauta no país:

"Não é privilégio, é um direito que eles têm como pessoas, como cidadãos que são, brasileiros, de ter acesso ao conhecimento na sua língua, e como a língua de sinais é a língua de acesso de conhecimento para as pessoas surdas, ou essas mediações são feitas pela língua de sinais ou precisa de um intérprete para fazer essa mediação. Só assim eles têm acesso ao conhecimento que todos nós outros temos direito e podemos acessar. Eles precisam acessar, mas com esse recurso de acessibilidade de tradutor intérprete ou que o ambiente seja bilíngue, que nesse ambiente de aprendizagem haja o compartilhamento de uma mesma língua que, no caso para os surdos, tem que ter a língua de sinais".

Mas a falta desse acesso na educação é uma das maiores queixas das pessoas surdas no Brasil. Joaci Gomes é presidente da Associação dos Surdos Organizados de Fortaleza. Ele é surdo desde quando nasceu e destacou, em resposta à Revista da Educação, os desafios que ainda precisam ser superados por essas pessoas:

"Um dos maiores problemas que as pessoas surdas enfrentam em relação à educação é o descaso por falta de acessibilidade linguística, uma vez que quando se trata de acessibilidade o que vem à tona é simplesmente a arquitetônica, porém a linguística é comumente desrespeitada".

E por conta dessa necessidade que afasta essas pessoas das escolas regulares, instituições brasileiras de ensino se dedicam à formação de pessoas surdas, como o Instituto Cearense de Educação de Surdos no bairro Aldeota, em Fortaleza. Wagner Santana é coordenador da instituição que já atua há 56 anos na capital. Ele dá detalhes sobre o trabalho realizado pelo instituto:

"A nossa escola é uma escola bilíngue porque aqui nós nos preocupamos em dar acessibilidade aos nossos alunos, fazendo nossas atividades priorizando a língua em libras que é a língua oficial deles. Por exemplo, as nossas provas todas são bilíngues, nós temos a prova impressa em português, um pouco diferente das provas das outras escolas, porque os textos são mais objetivos, mais enxutos, tem muita imagem porque o surdo é muito visual e temos também a prova filmada em vídeo-libras, cada aluno recebe um notebook com a prova que estava impressa, a prova original toda traduzida pra libras em forma de vídeo".

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui disponibiliza serviços que podem ser acessados por estudantes, professores e servidores surdos da Universidade (Foto: Divulgação)

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui disponibiliza serviços que podem ser acessados por estudantes, professores e servidores surdos da Universidade (Foto: Divulgação)

Já no ensino superior, algumas universidades buscam realizar a integração de pessoas surdas. A professora Vanda Magalhães também coordena a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui. Ela explica que além do suporte dado ao curso de graduação para formação de professores no curso de Letras-Libras na UFC, a secretaria disponibiliza outros serviços que podem ser acessados não apenas por estudantes, como por professores e servidores surdos:

"Eles solicitam também o serviço de intérprete para fazer a mediação da conversa ou do que ele está querendo resolver em qualquer instância da Universidade. Quer ir no serviço médico, o intérprete vai junto, quer ir na biblioteca, muitas vezes o intérprete tem que ir junto também, se vai na “projeto” resolver um problema funcional, o intérprete também vai acompanhando esse professor. Nosso principal serviço aos surdos estudantes, ou professores, ou servidores técnico-administrativos, é o serviço de tradução e interpretação da libras. Há esse serviço de interpretação concomitante e instantaneamente e há também o serviço de tradução dos textos básicos das disciplinas que são ofertadas nos cursos".

Mas apesar desses esforços, a rotina acadêmica para pessoas surdas ainda é bastante dificultada por conta da falta da disponibilidade de intérpretes de libras durante as aulas da grande maioria dos cursos. Segundo Joaci Gomes, as barreiras em relação à língua precisam ser superadas desde muito cedo e se estender a todos os níveis de educação:

"A educação é transformadora, porém se em tenra idade eu não tiver acesso aos conteúdos que outras crianças têm de forma plena, e quando falo plena eu me refiro à língua materna dessa criança surda, a língua de sinais, eu terei atrasos significativos e quiçá por toda a vida acadêmica".

E para que isso aconteça, a educação deve ser pensada de forma inclusiva e quem sabe até ampliada a partir de ações que já estão dando certo no Brasil. Como aponta Wagner Santana:

"Alguns estados também possuem institutos bilíngues para surdos como o Rio de Janeiro, nós temos centros universitários bastante desenvolvidos na questão acadêmica para surdos como em Santa Catarina, como aqui no Ceará na UFC o curso de Letras-Libras e isso abre portas pra eles. Nós temos muitos surdos se destacando no mercado, professores universitários, gente trabalhando com informática em grandes empresas multinacionais, profissionais que estudaram aqui na escola e hoje são profissionais da escola e isso é importante".

Dessa forma, a inclusão dentro do processo de ensino permite que pessoas surdas tenham autonomia para garantir seu espaço na sociedade.

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