O uso de psicofármacos durante e após a gestação é um tema que gera dúvidas e insegurança em muitas mulheres. Os psicofármacos são aqueles remédios que agem no sistema nervoso, utilizados para tratar diferentes transtornos mentais. Pensando nisso, a DIAPS - Divisão de Apoio Psicossocial, da Universidade Federal do Ceará, produziu a cartilha Maternidade, gestação e o uso de psicofármacos. O material faz parte das ações da DIAPS através do Projeto Mais Saúde da Mulher.
"O objetivo do projeto é justamente contemplar temáticas que se relacionam à condição de vida das mulheres, e, por consequência, impactam a sua condição de saúde."
Esta é Erny Coelho, assistente social da DIAPS e responsável pela elaboração da cartilha. Para isso, ela contou com a colaboração de um profissional que atua na área e que apoia a necessidade de ampliar o acesso à informação sobre o tema. É o psiquiatra Igor Emanuel Vasconcelos, coordenador do Psicomater - Ambulatório de transtornos psiquiátricos do período perinatal, da MEAC - Maternidade Escola Assis Chateaubriand.
"É de fundamental importância a existência de material informativo como a cartilha de cuidados na perinatalidade, porque há muitos mitos, muitas inverdades a respeito do uso de medicamentos durante a gestação, durante o pós-parto, e naturalmente quanto aos diagnósticos, né? Se estima que 1 a cada 5 mulheres tenha depressão durante a gestação ou durante o período do pós-parto, e é esperado socialmente que a mulher se sinta com a alegria extrema, em júbilo, devido à maternidade, quando na verdade isso é um mito. As pessoas precisam aprender a identificar suas emoções, e quando elas não estão harmonizadas, equilibradas; ou seja, quando há um transtorno mental. A partir dessa identificação, a gente começa a pensar na intervenção, e fazendo uma análise do custo-benefício sobre o uso dos remédios."
Igor Vasconcelos elenca que o maior receio das mulheres é sobre os impactos dos medicamentos na formação e no desenvolvimento dos bebês, seja na gestação ou no período da amamentação. Mas o médico afirma que é preciso levar em conta alguns dados. O primeiro é que a má formação é comum em 3% dos fetos, independente do uso de remédios pelas mães; e que a possibilidade de impacto para o bebê é de apenas 1%. O segundo dado é que 95% dos remédios psiquiátricos não são identificados no leite materno, ou ficam abaixo de 10%.
A conclusão é que o benefício do uso dos psicofármacos é maior do que os malefícios do não uso, considerando que o sofrimento da mulher pode levar a desfechos obstétricos negativos para o próprio bebê, como a prematuridade, o baixo peso ao nascer e outras adversidades para a mãe e a gestação.
No contexto da UFC, Erny Coelho comenta que a produção também foi motivada pela análise de dados da PROGEP - Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, ao qual a DIAPS é vinculada. Erny afirma que nos últimos quatro anos, a UFC identificou que o adoecimento mental esteve entre as três principais razões de afastamento de servidores da universidade, e que o número é maior entre as mulheres:
"E é provável, e possível, que boa parte deste grupo de servidoras afastadas e adoecidas estejam em período fértil, desejem engravidar, estejam gestantes, usem medicações psicofármacos, e tenham dúvidas a respeito disso."
No perfil Conexão UFC no Instagram, Facebook e Youtube, você encontra a cartilha e outros materiais produzidos pela DIAPS, além de ações com foco na democratização do acesso à informação e na garantia e ampliação de direitos.
Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.