Os estuários, onde o rio encontra o mar, são a principal porta de entrada de plásticos no oceano. A informação abre o documento “10 fatos sobre a poluição marinha por microplásticos”, elaborado pelo projeto internacional I-plastics, com participação do LABOMAR – Instituto de Ciências do Mar da UFC.
O documento relata que, desde o ano 2000, o número de partículas de plástico, no fundo do oceano, triplicou. Sem erosão, oxigênio ou luz, a poluição se acumula: de acordo com a pesquisa, plásticos de 1960 ainda se mantém no fundo do oceano.
Em Fortaleza, o LABOMAR identificou contaminação por microplásticos no rio Cocó e na costa da Capital. Fragmentos, invisíveis a olho nu, se espalham pela água, por sedimentos e pela fauna. 75% dos peixes coletados pelos pesquisadores estavam contaminados, destaca o professor Marcelo Soares, do LABOMAR, coordenador da equipe brasileira:
" A gente está comendo o plástico e o microplástico ele se acumula nos organismos, na cadeia alimentar, e ele também traz uma série de substâncias. Junto ao plástico se acumulam outros tipos de substâncias que estão no ambiente, como por exemplo, pesticidas, substâncias industriais...essas substâncias causam uma série de problemas, como mutações no DNA e até câncer.
O documento sobre a poluição marinha por microplásticos foi elaborado também em espanhol, francês, inglês e italiano. O assunto é tratado como “um dos maiores problemas ambientais” da atualidade e tem investimento de 15 países europeus, além do Brasil. O professor Marcelo Soares, do LABOMAR, destaca:
"Esse tema foi pauta do Parlamento da União Europeia porque esse é um fato científico só que pra isso a gente precisa de políticas públicas urgentes, como a proibição do uso de plásticos individuais. Já tem locais, como Jericoacoara, que já proibiu o uso de sacolas plásticas".
O coordenador da equipe brasileira fala ainda sobre como a pesquisa foi realizada:
"Uma ação que nós fizemos que foi muito legal, a gente fez um cruzeiro de pesquisas. Saiu um navio de Salvador, na Bahia, e que foi até a Espanha. Foram quase 30 dias pesquisando o oceano e vendo como está a contaminação, desde as áreas mais profundas do oceano às zonas mais superficiais. E neste cruzeiro foram duas alunas do mestrado do Labomar, inclusive elas nunca tinham viajado para o exterior. Você imagina a oportunidade dessas mulheres cientistas de poder viajar, cruzar o oceano, no mar!?"
O projeto concorreu com mais de 30 propostas internacionais e foi um dos quatro selecionados. Ele é uma colaboração entre cinco instituições de quatro países. O documento pode ser acessado em link disponível no portal ufc.br.
Reportagem de Ana Mary C. Cavalcante