No princípio, era o silêncio. O início da epidemia de aids, há mais de quarenta anos, foi marcado pelo medo. Inclusive, o medo da vida. Os primeiros protocolos de atendimento não orientavam sobre a gravidez das mulheres infectadas com o HIV. Uma memória desse tempo são as mulheres soropositivas que foram laqueadas sem o próprio consentimento.
Quem conta a história é a professora Marli Galvão, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). Junto com o Núcleo de Estudo em HIV/AIDS e Doenças Associadas da UFC, ela organizou uma cartilha educativa para o planejamento reprodutivo de pessoas com HIV/AIDS. As informações vão ao encontro dos silêncios, destaca a professora Marli Galvão.
"Durante as interações de cuidado pra saúde, como nas unidades de saúde, hospitais ou mesmo nos domicílios, observamos que o desejo de ter filhos não é perguntado a essas pessoas, assim, essa vontade é como dizer um silêncio. Por conseguinte, fomos estudar formas de oferecer a possibilidade de planejamento familiar, assim está aqui a cartilha."
Para a professora, o conhecimento divulgado na cartilha possibilita o planejamento reprodutivo consciente, reduzindo as chances de transmissão do vírus. O estudo tira dúvidas e esclarece sobre direitos, destaca a professora Marli Galvão.
"Como o vírus passa da mãe pro bebê? Qual a melhor maneira de evitar o risco de passar o meu vírus para a pessoa que eu vou ter o filho? Quem fez laqueadura está protegida do HIV? É justamente o que com a cartilha, oferecer de modo simples as possibilidades de ter direitos, pois para que os direitos à saúde sexual reprodutiva das pessoas que vivem com HIV possam ser exercidos é importante garantir condições de escolhas, mas mediante ofertas de informações adequadas."
As informações da cartilha também direcionam novas abordagens do cuidado reprodutivo de pessoas com HIV/AIDS.
"Os profissionais dos diferentes serviços de saúde, quer públicos ou privados, deveriam oferecer discussões com os próprios profissionais sobre os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas que vivem com HIV. Eu sugiro que utilizem a cartilha como instrumento pra guiar as discussões."
A cartilha é gratuita e está disponível online. Ela pode ser acessada no Repositório da UFC.
Reportagem de Ana Mary C. Cavalcante