No ano em que o tempo parou frente à pandemia de Covid-19, o Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema chega às três décadas de exibição. Um percurso que tem como ponto de partida o cineasta e professor Eusélio Oliveira. Em 1991, havia apenas o Curso Básico de Cinema e Vídeo, mantido pelo cineasta, no antigo Cinema de Arte Universitário da UFC - que, mais tarde seria a Casa Amarela Eusélio Oliveira.
A formação superior e as grandes mostras ainda eram distantes, em escolas do Rio de Janeiro e de São Paulo. No princípio, aqui, era o quase nada, refaz o diretor do Cine Ceará, Wolney Oliveira, nesta entrevista para a Rádio Universitária FM.
"E era um festival de vídeo só sobre o centro da cidade e, a primeira inovação, ele passa a ser um festival nacional de cinema, ele sai do plano municipal para o plano nacional. Então, eu diria que dos 10 primeiros anos essa foi a grande inovação, e foi o crescimento do festival."
Wolney Oliveira é o diretor-executivo do Cine Ceará. Ele é formado pela Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, em Cuba (Foto: Rogério Resende)
Na década seguinte, o festival made in Ceará seguiu o mapa das produções nacionais e de países da América Latina, do Caribe e da Europa. O cinema ibero-americano entra em cena.
"Você tem aí cineastas da Argentina, do Chile, do México ganhando prêmios, ganhando Oscar na realidade. Você tem cineastas brasileiros como o Karim Aïnouz, que é do Ceará, com A vida invisível, que abriu o Cine Ceará, a 29ª edição do ano passado, e veio de um prêmio importantíssimo, ganhou o prêmio principal do Un Certain Regard de Cannes ( a segunda mostra mais importante do Festival de Cannes). Como você tem também o Bacurau do Kleber Mendonça Filho, que é pernambucano, e ganhou um dos prêmios principais da mostra principal de Cannes. Nosso querido Halder Gomes, que está aí, agora, sendo reprisada a série Cine Holliúdy, inspirada no primeiro curta que Halder produziu. Então, você tem um conjunto de ações que acontecem no audiovisual cearense que o Cine Ceará ajudou a construir."
Diversas gerações de cineastas caminharam junto com o Cine Ceará, retrata o diretor do festival, Wolney Oliveira.
"Eu começaria aqui destacando meu querido amigo Rosemberg Cariry, que ganhou vários prêmios em várias edições do Cine Ceará. Tem 15 longas-metragens em carreira, são poucos cineastas no Brasil que conseguem fazer 15 longas-metragens, sem esquecer que Rosemberg é nordestino, é cearense. Rosemberg é a nossa geração mór. Depois vem a minha geração, eu, Marcos Moura, Jane Malaquias, muita gente boa que passou também pela Casa Amarela Eusélio Oliveira da UFC. Depois disso a gente tem a geração do Halder Gomes, do Glauber Filho. Você tem a geração do Petrus Cariry e você tem novíssimas gerações que estão surgindo aí, todo ano se formam quase 70 novos cineastas no nosso estado."
"A Vida Invisível" de Karim Aïnouz foi o filme escolhido para abrir a 29º edição do Cine Ceará, em 2019. Na foto, o diretor está ao lado da atriz Fernanda Montenegro (Foto: Reprodução/Internet)
Nos últimos dez anos, o Cine Ceará acertou o passo com a indústria audiovisual brasileira, que gera mais de 400 mil empregos. Agora, aos 30 anos, o festival vai além, para alcançar todos os expectadores.
No cenário do novo coronavírus, o Cine Ceará também terá uma programação virtual. A parceria com o Canal Brasil vai garantir a exibição dos filmes das duas mostras competitivas do festival. O local das exibições presenciais ainda vai ser definido e seguirá os padrões de segurança sanitária, informa Wolney Oliveira.
O 30º Cine Ceará recebe inscrições até o dia 8 de setembro, pelo site www.cineceara.com. O festival será realizado entre os dias 28 de novembro e 4 de dezembro e tem apoio institucional da Universidade Federal do Ceará, do Governo do Estado e da Prefeitura de Fortaleza.
Reportagem de Ana Mary Cavalcante
