25/08/21

Alerta do Relatório do IPCC para Semiárido Brasileiro

O sexto relatório do IPCC mostra que já subimos os primeiros degraus do aquecimento global (Foto: EBC)

Os rumos das mudanças climáticas reservam um cenário de agravamento da estiagem para o Semiárido brasileiro. As constatações científicas estão no mais recente relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

O pesquisador Alexandre Araújo Costa, físico, climatologista e professor da Universidade Estadual do Ceará, vem estudando sobre o tema há quase vinte anos. Ele foi um dos cientistas responsáveis pelo primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Diante das informações do relatório do IPCC, ele observa que a região semiárida terá mudanças na dinâmica hidrológica: chuvas mais concentradas ao longo do ano, e aumento de dias sem precipitação.

"Nossa questão realmente não é a mudança de precipitação média, mas a mudança na distribuição, definitivamente. (...) As condições que prejudicam a agricultura, os recursos hídricos, elas se tornam mais prováveis. Não é algo que você vá sentir de uma hora pra outra, mas a chance de ocorrência, e na repetição do processo, a frequência de ocorrência dos extremos vai aumentar. [Os cientistas] Não têm a menor dúvida nisso. Então os períodos de seca severa se tornam mais prováveis, e as chuvas mais concentradas - os extremos de chuva também. Além dessa gradual piora na questão da temperatura".

O sexto relatório do IPCC mostra que já subimos os primeiros degraus do aquecimento global, e é enfático ao apontar que as atividades humanas foram responsáveis por esta realidade.

Daqui pra frente, o relatório projeta níveis diferentes desta subida, que vão depender da atitude global com relação às emissões de gás carbônico. Eles vão desde a subida íngreme em direção ao pior cenário - atingindo quase 6 graus de aquecimento médio até o final deste século; até a subida mais favorável, alcançando 1,5 graus celsius de aquecimento até 2040. O que já será suficiente para eventos climáticos ainda mais severos do que os que já estamos observando no mundo, como enchentes e recordes de temperaturas de 50 graus.

No semiárido brasileiro, algumas ações contribuíram para as emissões de gás carbônico para a atmosfera, e devem agravar as próprias consequências das mudanças climáticas para a região.

"São três grandes variáveis. Uma é o desmatamento e degradação ambiental - desmatamento, queimadas etc, porque você remove vegetação, remove solo, e você facilita a aceleração desses processos. Vegetação e solo fixam umidade, mantém umidade, e com isso você preserva pelo menos uma fonte local. A outra coisa, obviamente, é a questão hídrica, a pressão de demanda, principalmente do agronegócio e indústria, né?".

A terceira variável está nas opções energéticas adotadas na região. No Ceará, atividades de extração de ferro e aço, além de opções de produção energética como a da Termelétrica do Complexo Industrial do Porto do Pecém, são intensivas em carbono. Segundo o pesquisador Alexandre Costa, uma rota completamente errada para as condições climáticas do planeta, conforme os próprios dados do IPCC atestam.

Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.

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