São mais de duas décadas de estrada desde a primeira vez em que o Rádio Debate foi ao ar na Rádio Universitária FM. Idealizado pelos jornalistas Paulo Mamede e Agostinho Gósson, o programa nascia em 1996 com o apoio de movimentos sociais e sindicatos, tendo como proposta fundadora promover um jornalismo plural, crítico e construído em cima do debate.
Através da abordagem de temas tratados como tabus ou sequer abordados em outros espaços, o programa busca promover o esclarecimento e o debate de forma clara, mantendo o aspecto crítico próprio do jornalismo e dando voz àqueles que, normalmente, não teriam espaço na mídia tradicional. Essa característica é reconhecida pelos ouvintes, como Roberval Holanda, bancário aposentado e professor, que aponta o caráter democrático que é marca do programa. "O Rádio Debate é de importância fundamental para a sociedade. O programa é aberto e os convidados falam democraticamente."
Trabalhar a diversidade de fontes e discursos tem sido uma das prioridades. Na mesa redonda do Rádio Debate sentam, lado a lado, o vaqueiro com sua ampla sabedoria de vida e o doutor em seu mais amplo currículo acadêmico. Raquel Chaves, atual produtora, destaca o dia em que essas figuras construíram o mais rico debate através de suas experiências de vida e conhecimentos. Também relata que, em dado momento, envergonhado por seu grau de instrução frente aqueles acadêmicos, o homem do interior foi acolhido e incentivado a conversar de igual pra igual com os outros convidados daquele programa. "Esse respeito às fontes e ao que elas tem a dizer, não só reforça o caráter plural do programa, como torna essas pessoas fiéis ao Rádio Debate", como explica Raquel.
O debate entre os convidados, porém, nem sempre é fácil. Marcos Robério, um dos apresentadores que integrou o time do programa, destaca a edição em que participaram o jornalista e ator Ari Areia e a deputada Dra. Silvana (PMDB). "Esse foi um programa que marcou muito nossa equipe e também os ouvintes. A dificuldade dos participantes de manter um nível aceitável e de respeito ao ouvinte foi para mim o retrato de uma época, em que é quase impossível discordar em tom amistoso, sem precisar reduzir o outro", reflete Marcos Robério.
A rotina do Rádio Debate
Veiculado ao vivo de segunda a sexta-feira, das 11h30 às 12h30, o programa conta, atualmente, com a produção da jornalista Raquel Chaves, do estudante de jornalismo da UFC Calebe Rodrigues e apresentação de Pedro Vítor. As pautas tem como um de seus critérios, a factualidade, porém, assuntos de maior relevância podem vir a ser abordados independente de seu gancho factual. Além disso, o programa costuma receber, diariamente, sugestões de pautas, inclusive, de convidados que já participaram de edições passadas do programa.
A postura ética e crítica do Rádio Debate refletem sobre aqueles que já integraram a equipe. Marcos Robério destaca a experiência ganha durante o tempo em que esteve à frente do programa. "Foi um aprendizado enorme para mim, que impacta até hoje na forma de lidar com alguns debates que se colocam diariamente e exigem nossa reflexão para além do senso comum e da superficialidade".
Agostinho Gósson
Seria impossível falar de Rádio Debate sem mencionar sua mais célebre voz. É unânime, entre ouvintes e equipe, as contribuições, a seriedade, o profissionalismo e a ética do jornalista, que veio a falecer em 2015.
Marcos Robério, que assumiu a apresentação do Rádio Debate após o falecimento de Gósson, demonstra gratidão em ter feito parte da obra do jornalista. "Aprendi a admirá-lo mesmo sem conhecê-lo. Aprendi por ouvir tantos relatos e histórias de amigos que ele ajudou a formar, especialmente a Rachel Chaves e o Érico Firmo (O Povo). Então, foi uma honra enorme poder, humilde e minimamente, contribuir com a obra do professor Agostinho, pois o Rádio Debate tem a cara dele". Raquel Chaves também lembra com carinho de Gósson. Ex-aluna e colega de jornalismo, destaca o legado deixado por ele, como a seriedade, o compromisso, o cuidado com a informação e, sobretudo, a responsabilidade social com o público.
Marcos Robério pontua um dos dias mais difíceis de sua passagem pelo Rádio Debate, o dia em que teve que levar aos ouvintes a notícia do falecimento do jornalista. "Precisei ler a nota, que escrevi de improviso minutos antes do programa, comunicando aos ouvintes o falecimento do professor, que havia ocorrido dias antes, e também fazendo um agradecimento a ele. As palavras saíram com muita dificuldade e, certamente, também foi difícil e triste para quem ouviu". As contribuições de Gósson ao jornalismo cearense, enquanto profissional e formador de jornalistas, sempre serão lembradas. Agostinho vive.