16/07/18

Quadrinhos e zines autorais do Ceará

O Mercado de Quadrinhos é promovido pela Secultfor e acontece a cada três meses no Mercado dos Pinhões (Foto: Di Araújo/Divulgação)

Quando se pensa em quadrinhos, geralmente o que vem em mente são as obras estadunidenses dos heróis da Marvel e da DC. Mas você sabia que o mercado cearense também produz quadrinhos? Além disso, há também no estado a produção de zines, que são outros tipos de publicações autorais, feitas normalmente de forma independente e com baixo custo.

Segundo o Coordenador da Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira, Eduardo Pereira, os quadrinhos autorais do Ceará só foram surgir nos anos 80 com a criação da Oficina de Quadrinhos da UFC. Foi lá que surgiu uma das primeiras publicações, a Revista PIUM. Eduardo Pereira fala que a cena atual de quadrinhos cearense é rica, tanto em quadrinhos quanto em zines. “A cena é bem fragmentada, no bom sentido, de você ter pessoas que buscam na sua cultura pessoal ou na cultura enraizada, mostrar o Ceará ou até mesmo levantar uma bandeira”, destaca.

Eduardo Pereira ressalta a diferença entre revistas em quadrinhos e zines: "O zine é um veículo, ele pode comportar a linguagem dos quadrinhos. É como se fosse uma revista que não é feita por uma grande editora e normalmente é fotocopiada", explica.

Os quadrinhos além da Capital

" antes de escrever quadrinhos, eu tentava a sorte em coletâneas e antologias de literatura fantástica, onde estão minhas primeiras experiências publicadas. Hoje eu me sinto muito à vontade com esse rótulo de autor do gênero especulativo, que inclui fantasia, ficção científica, terror e muitos outros", relata o quadrinista Zé Wellignton (Foto: Gerardo Aragão)

"Antes de escrever quadrinhos, eu tentava a sorte em coletâneas e antologias de literatura fantástica, onde estão minhas primeiras experiências publicadas. Hoje eu me sinto muito à vontade com esse rótulo de autor do gênero especulativo, que inclui fantasia, ficção científica, terror e muitos outros", relata o quadrinista Zé Wellignton (Foto: Gerardo Aragão)

Em abril deste ano, o quadrinista sobralense Zé Wellington lançou juntamente com Walter Geovani o quadrinho Cangaço Overdrive, um cyberpunk que se passa no sertão. Este é o terceiro lançamento de Zé Wellington. O primeiro é Quem matou João Ninguém? e o segundo Steampunk Ladies: Vingança a Vapor, que lhe rendeu o prêmio Troféu HQMIX 2016 de Novo Talento – Roteirista.

O seu início no mundo dos quadrinhos aconteceu há cerca de 13 anos e se deu por acaso, quando participava de um evento e surgiu a ideia de fazer um quadrinho com a mascote. Dali em diante não parou. As pessoas envolvidas no evento formaram um grupo de fanzines chamado Gattai, que produziu zines entre 2007 e 2013. “Foi um dos períodos em que mais aprendi sobre quadrinhos na vida”, afirma.

Os três quadrinhos de Zé Wellington têm diálogo com a ficção científica, com influência de nomes do cinema como John Carpenter, Steven Spielberg e George Lucas. "Antes de escrever quadrinhos, eu tentava a sorte em coletâneas e antologias de literatura fantástica, onde estão minhas primeiras experiências publicadas. Hoje eu me sinto muito à vontade com esse rótulo de autor do gênero especulativo, que inclui fantasia, ficção científica, terror e muitos outros", diz.

Em 2015, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE) fez uma pesquisa sobre o panorama de quadrinhos no estado e constatou que 81% dos profissionais se encontra na região metropolitana de Fortaleza. Segundo Zé Wellington, os principais polos de quadrinhos no Ceará fora da capital estão na região do Cariri e em Limoeiro do Norte. “No Interior, até o consumo de quadrinhos é difícil, já que nem sempre há livrarias, bancas ou eventos de quadrinhos na cidade. Ainda que a internet hoje tenha se tornado um ponto de venda e de encontro importante, contribui negativamente a falta destes pontos físicos para aglomerar artistas e fãs”, ressalta.

Uso das redes sociais e os lançamentos impressos

Meninas e Magia é um livro de colorir das ilustradoras Natália Prata e Erika Sampaio que tem como tema meninas mágicas (Foto: Divulgação/Catarse)

Meninas e Magia é um livro de colorir das ilustradoras Natália Prata e Erika Sampaio que tem como tema meninas mágicas (Foto: Divulgação/Catarse)

A artista Dhiovana Barroso faz quadrinhos desde 2013, o seu trabalho sempre foi compartilhado na internet. Sua primeira plataforma de divulgação foi o Tumblr e posteriormente uma página do Facebook. Hoje, o Instagram é a sua única forma de divulgação. “Além de ser uma rede social totalmente visual, o que facilita muito pra quem trabalha com ilustrações, quadrinhos e outros, o Instagram é bem fácil de usar e de brincar também, com estilos de publicação e diagramação”, complementa.

Dhiovana faz parte do coletivo Terroristas del Amor, junto com a artista visual Marissa Noana. O primeiro trabalho delas é o zine sismonastia que será lançado na próxima quarta-feira, 18, dentro do evento Zine-se, que acontece na Casa Vândala. Ela explica que sismonastia é o nome do movimento que a planta dormideira faz quando é tocada e a zine fala sobre medo, aceitação, religião e sobre relacionamentos. “A zine fala desse tipo de sentimento que existe na gente. Às vezes já aconteceram tantas coisas durante a vida que nos sentimos indefesos, e acabamos nos fechando para qualquer pessoa que tente nos tocar de forma mais profunda”, explica.

A ilustradora Natália Prata também usa as redes sociais para divulgar seu trabalho. Ela possui uma loja online onde vende, além de zines, adesivos, postais e marcadores de páginas com as suas ilustrações. “Dá bastante trabalho cuidar das redes sociais e mantê-las sempre atualizadas, mas elas costumam dar um bom retorno, mesmo que isso possa demorar. Eu dependo muito delas para atualizar as pessoas sobre o meu trabalho e mantê-las interessadas pelos projetos que estão por vir”, comenta.

Seu próximo trabalho que será impresso é o livro Meninas e Magia, com a colaboração da também ilustradora Erika Sampaio. “Nós duas crescemos assistindo desenhos com meninas mágicas e  adoramos desenhar bruxinhas, fadas, magas e todos os tipos de menina. Assim, juntamos 34 ilustrações nesse tema em um só livro”, diz. O livro recebeu financiamento coletivo via Catarse e em 60 dias conseguiu arrecadar o valor desejado de cerca de R$ 6 mil para a impressão das edições e recompensas.

Eventos de quadrinhos e zines em Fortaleza

O quadrinho blablabla das artristasirá ser lançado no próximo Zine-se

O quadrinho sismonastia das artistas Dhiovana Barroso e Marissa Noana será lançado no próximo Zine-se (Foto: Divulgação)

As feiras de quadrinhos e os artists' alley de eventos são ótimas oportunidades para os artistas terem contato com seu público, lançarem e venderem seus produtos.

A escritora Fernanda Meireles é idealizadora da feira Zine-se que acontece desde 2002, com periodicidade variada e em lugares diferentes. Fernanda explica que o público-alvo geralmente são os jovens, mas não somente eles. “Trata-se da construção de uma comunidade que cresceu (em idade e número de pessoas) celebrando a autonomia criativa, a partilha de descobertas artísticas e sociais, conhecendo e experimentando a cidade em que vive de uma forma menos consumista e mais livre, enfim, mais saudável”, afirma.

O Mercado dos Quadrinhos é outro evento bastante conhecido. Ele acontece a cada três meses no Mercado dos Pinhões. A Coordenadora de ação cultural da Secultfor, Norma Paula, fala que a iniciativa se deu pela necessidade de ocupar o Mercado dos Pinhões com assuntos pertinentes a cultura, então foi escolhido o campo das histórias em quadrinhos. “Dessa forma, a Secultfor está fomentando o Mercado dos Quadrinhos e fazendo circular as produções de quadrinhos do estado”, diz. Os interessados em participar do evento como expositores devem entrar  em contato com a SecultFor através do telefone (3105 1146) ou email do órgão ( secultfor.fortaleza@gmail.com).

Reportagem de Mariane Silva com orientação de Natália Maia.

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