A sigla RPG vem da expressão em inglês role-playing game, que pode ser traduzida como jogo de interpretação de papéis. O jogo é uma espécie de faz de conta onde os jogadores assumem o papel de personagens em um universo alternativo. Além disso, a narrativa é criada de forma colaborativa.
Por se desenvolver de forma lúdica, o RPG vem sendo pensado como uma importante ferramenta de ensino nas escolas. Vinicius Oliveira, professor de História na rede estadual, explica alguns dos benefícios pedagógicos que esse jogo pode trazer:
"O RPG trabalha com a ideia de comunidade, de companheirismo mesmo entre os jogadores e o mestre. Ele trabalha também com a interação, com o caráter imaginativo, criativo mesmo, da mente daquele que tá jogando. E, principalmente, com a relação da leitura e do estudo, porque pra você compor um personagem ou criar uma história, é necessário que você tenha uma base de leitura, de estudo e de referências. Então o RPG, pedagogicamente falando, vai trabalhar com várias habilidades que diferentes áreas do ensino desenvolvem com os estudantes".
Dmitri Gadelha também é professor de História na rede estadual de ensino e fundador do projeto Vila do RPG. Ele destaca, ainda, outro benefício que o aluno pode desenvolver ao ter contato com o jogo:
"Outro ponto também fundamental é a questão da argumentação, a questão da capacidade de oralização. Os jogadores vão estar constantemente precisando falar entre si, precisando interagir entre si e com os personagens que o narrador vai colocar na história. Então é um jogo em que os participantes vão estar constantemente argumentando entre si e desenvolvendo sua capacidade de oralização".
Dmitri explica que, para a disciplina que leciona, o RPG é uma boa ferramenta já que pode ser desenvolvida uma narrativa que se passe em épocas anteriores. No entanto, o professor destaca que todas as matérias podem ser beneficiadas com a inclusão do jogo como uma prática de ensino:
"Eu diria que não apenas para a História, mas para quaisquer disciplinas. Por exemplo, se um grupo for jogar uma história de ficção científica, eu posso colocar conhecimentos da física, da biologia. Se tiver uma situação em que dentro da minha história, que eu tô jogando com meu grupo, tiver alguém perdido em uma floresta e precisar reconhecer algum tipo de planta, aí eu já coloco conhecimentos da biologia, e por aí vai. Dependendo da história que os jogadores quiserem construir, dependendo do tema, da narrativa, da ambientação em que se passa essa narrativa, o narrador, que é esse jogador especial que conduz a história e vai criar as situações que são colocadas na história, ele pode inserir. Então ele serve para todos os tipos de disciplinas escolares".
Por isso, Dmitri garante que a recepção dos alunos costuma ser positiva:
"Geralmente, os alunos gostam bastante. Eles costumam ver isso como algo que quebra completamente aquela vivência escolar, porque o formato padrão de aula, aquela coisa formatada no professor falando ali na frente, ele já se mostrou bem esgotado ultimamente. Então, quando a gente traz uma nova metodologia, mais dinâmica, mais lúdica, que vai fazer o aluno aprender ou desenvolver habilidades que vão ser utilizadas depois, para aprender qualquer disciplina, o aluno geralmente tem uma recepção calorosa, porque vai quebrar aquele formato padrão que ele já está cansado, já está saturado".
Para o professor Vinicius Oliveira, a inclusão do jogo no ambiente escolar trouxe boas surpresas, principalmente sob o ponto de vista social:
"A gente viu que a aceitação dos estudantes era incrível. Nós descobrimos que existem pais de estudantes que são autores de RPG, pais que colecionam RPG e que incentivam o projeto aqui na escola, de diferentes formas. E também que estudantes de uma faixa etária muito diferente da nossa, porque a gente está numa faixa etária de 30 anos, então a gente pegou o início do RPG aqui no Brasil, os estudantes já conheciam não só o RPG de mesa que é o que a gente joga, que é o de interpretação de papéis, como também os RPG de jogos eletrônicos. E o mais interessante é que a procura feminina também é muito grande, coisa que a gente não tinha nos anos 1990. Via-se o RPG como um jogo puramente masculinizado".
O crescente uso do RPG nas escolas nacionais vem sendo estudado com maior frequência desde os anos 1990. Em grande parte dos artigos e dos livros publicados sobre o tema, os benefícios do jogo para a aprendizagem são confirmados.