03/03/21

Pesquisadores da UFC publicam artigo sobre Autismo e TI

a inclusão de autistas em empresas pode representar um ganho tanto para quem contrata como para a própria pessoa com TEA (Foto: Reprodução/Internet)

Quando se fala em TEA, Transtorno do Espectro Autista, o senso comum é pensar nas limitações de quem recebe esse diagnóstico. No entanto, a inclusão de autistas em empresas pode representar um ganho tanto para quem contrata como para a própria pessoa com TEA. É o que mostra um artigo publicado na Revista Interdisciplinar de Gestão Social de autoria dos professores Cláudio Leopoldino e José Carlos Lázaro, do curso de Administração da UFC, com a professora Katrin Maria Nissel da Universidade de Ciências Aplicadas de Bremen, na Alemanha.

Os pesquisadores trataram dos processos de inclusão em uma empresa europeia de consultoria em TI e Compliance, a Auticon, na qual todos os consultores são autistas. O professor Cláudio Leopoldino, que coordena um projeto de pesquisa sobre Vínculos entre Gestão e Autismo, fala sobre como foi feito o processo de inserção de pessoas no espectro na empresa:

"A empresa mesmo foi atrás dos profissionais no mercado, selecionou esses profissionais, treinou quando necessário, colocou na instalação das empresas contratantes da consultoria da Auticon, fez o monitoramento dessas pessoas na empresa e isso sem precisar de entidades do terceiro setor, ONGs ou entidades governamentais. Com isso, eles tiveram um diferencial de mercado, tiveram um maior acesso aos profissionais, não tiveram que concorrer com outras empresas por exemplo, e isso permitiu que eles largassem na frente e tivessem maiores resultados."

O professor destaca que o caso da Auticon demonstra que autistas têm plena capacidade de contribuir em atividades técnicas de alta complexidade numa empresa que cobra muito em termos de desempenho e com processo seletivo rigoroso.  Cláudio Leopoldino observa que a Auticon teve um grande crescimento se expandindo inclusive pra outros países. Ele elenca uma série de capacidades dos autistas a despeito de suas dificuldades e deficiências.

"Elas têm muitas vezes capacidade maior de concentração e capacidade de se dedicar à atividades repetitivas com mais facilidade do que as pessoas típicas, elas têm uma menor propensão a perder tempo de trabalho com fofoca, telefone, com outras distrações. Elas são muito focadas. Mas, claro, todas essas qualidades elas variam de pessoa para pessoa." 

Apesar de serem mais de 1% da população mundial,os autistas não têm tido historicamente acesso a tratamentos adequados e à escola inclusiva. Eles são excluídos do processo educacional e acabam não concluindo os estudos, o que torna muito mais difícil o acesso ao mercado de trabalho. Tori Virgínio é estudante de Medicina da UFC e tem grau leve de autismo. Apesar de ser uma exceção nesse contexto, ela passa por dificuldades quando se depara com trabalhos fixos, que exijam uma rotina rígida e longa. Tori fala sobre alguns dos pontos fortes de pessoas no espectro:

" Mas, o que nós temos a oferecer é uma paixão imensurável pelas coisas que nós gostamos. Por sermos neuro divergentes, temos até padrões neurológicos diferentes, a gente também pode oferecer muitos pontos de vistas que são muito fora da caixa, que independem de cultural, que independem de alguns valores mais abrangentes na sociedade, a gente simplesmente consegue ver além. Eu acho que são diferenciais muito interessantes nas nossas peculiaridades."

Síria Mapurunga para a Rádio Universitária FM

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