A praia é o berçário natural das tartarugas marinhas. E, no litoral cearense, a época da desova vai de dezembro a junho, quando nascem os últimos filhotes.
Cada tartaruga põe de duas a cinco ninhadas, explica Alice Frota, coordenadora do programa Gtar-Verdeluz (Tartarugas do Futuro):
"Vem aqui e desovam. A primeiro ninhada tem cerca de 180/170 ovos e depois ela volta pro mar, desenvolve mais ovos, volta de novo pra desovar, na mesma praia. Protege bem os ovos, faz o que a gente chama de 'cama de desovos', depois de cerca de 56 a 60 dias, a média daqui é 58 dias, os filhotinhos todos nascem e começam essa escalada tentando subir pra fora do ninho. Eles passam cerca de dois a três dias aí nessa empreitada."
Entre a Praia do Futuro e a Sabiaguaba, em Fortaleza, é possível cruzar com inúmeros ninhos na areia, ou filhotes já tentando alcançar o mar. Mas, no meio do caminho das tartarugas marinhas, existem muitos obstáculos.
De acordo com estimativas do Instituto Verdeluz, que monitora a espécie local desde 2015, de cada mil filhotes, apenas um ou dois chega à fase adulta. Além dos predadores naturais, como os caranguejos e as aves, os filhotes precisam vencer desafios muito maiores do que eles, mostra Alice Frota, do Instituto Verdeluz:
"As marcas de pneu de carro, principalmente carro grande (4x4) criam valas não naturais e eu filhote fica ali preso, ele não tem força pra escalar. Tem o problema dos predadores não naturais que são cachorros, pombos, a gente na Sabiaguaba já perdeu ninhadas inteiras, quando a gente chegou lá estava o ninho todo remexido, cheio de pata de cachorro do lado. Então, assim, foram cachorros que violaram o ninho, comeram os filhotes, os ovos que estavam ali. Tem o lixo, isso atrapalha muito."
Muitos filhotes morrem presos no lixo. Outros ainda se perdem no caminho até o mar, confundidos pela iluminação artificial:
"Filhotes normalmente seguiam pela luz da lua que bate ali nas ondas, na espuminha e forma aquela claridadezinha branca, mas uma praia com a Praia do Futuro que tem um holofote gigantesco da prefeitura virado pro mar, a luz da lua não tem como ganhar, então os filhotes vão todos pra pista, não é tipo um, são todos. A gente já perdeu ninhadas inteiras, é uma cena assim horrorizante. Centenas de filhotinhos em volta de um pote de luz mortos, ressecados porque ficaram ali naquela tentativa de perseguir essa luz. Eles gastam toda a energia que eles têm, ressecam porque eles são seres marinhos, eles precisam dessa hidratação o tempo inteiro, de viver na água. É muito, muito, muito triste."
E ainda existem os casos de pessoas que levam os filhotes para casa.
A orientação do Instituto Verdeluz é observar se existem placas com sinalização de ninhos na praia.
Locais como Jericoacoara, Aquiraz e Caucaia já são sinalizados. Os cuidados devem ser, então, redobrados: nunca conduzir veículos na praia e nem mexer nos ninhos ou com os filhotes.
Em parceria com o Instituto Verdeluz, o Corpo de Bombeiros também monitora os pontos de desova de tartarugas marinhas. Ele pode ser acionado pelo telefone 193.
Reportagem de Ana Mary C. Cavalcante