A recente tragédia do Museu Nacional evidenciou o problema da preservação das instituições museológicas, assunto pouco discutido pelo governo e pela sociedade, e que sofreu períodos de altos e baixos em termos de investimento. Como, por exemplo, quando o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) divulgou que o investimento realizado no campo museal no Brasil passou de R$ 20 milhões para R$ 216 milhões entre os anos de 2001 e 2011. Nesse período, o Ibram também foi criado e forneceu ao setor museológico um instrumento com autonomia para lidar com suas demandas devido à vinculação ao Ministério da Cultura.
Ainda assim, o investimento no setor tem caído nos últimos anos, o que resultou no incêndio do Museu Nacional no dia 2 de setembro de 2018. Administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os cortes promovidos por uma série de medidas reduziram o orçamento de R$ 709 mil em 2013, para R$ 166 mil em 2017, de acordo com dados da Câmara dos Deputados. A tragédia já era anunciada, em 2004, quando o secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo Wagner Victer emitiu alerta sobre a possibilidade de incêndio no local. Em 2015, o museu chegou a fechar as portas por atraso nos repasses do governo federal.
Após o incêndio, o presidente Michel Temer assinou, no dia 10 de setembro de 2018, uma medida provisória que institui a criação da Agência Brasileira de Museus (Abram) que deve substituir o Ibram. A agência será como uma organização social desvinculada da administração pública direta.
História e Cultura
Especialistas afirmam que a importância do museu vai além da preservação histórica e cultural, mas é antes de tudo um espaço de reflexão, como afirma a historiadora da arte e professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carolina Ruoso. “Através dos museus é possível conhecer o passado e o futuro de um povo, os museus abrigam a história e a partir disso é possível refletir sobre esse espaço”, afirma.
Para a diretora do Museu do Ceará, Carla Vieira, os museus são um espaço de constante transformação. “O museu é o espaço de como as memórias e as identidades se constroem, eles são centros pulsantes da construção de conhecimento, de crítica e reconstrução constante do que se entende sobre as próprias comunidades”, ressalta.
Investimentos
A historiadora Carolina Ruoso cita o investimento como o principal fator que dificulta o processo de preservação dos museus, embora alguns avanços tenham acontecido nos últimos anos. “Nós tivemos alguns avanços como a criação do Ibram, mais 13 cursos de Museologia foram criados no Brasil fora o da UFRJ. Aqui na UFMG nós temos o primeiro curso de Conservação/Restauração de Bens Culturais Móveis”, explica.
O caso do Museu Nacional cria uma reflexão sobre a preservação museológica no país. O Museu do Ceará, por exemplo, é a primeira instituição museológica do estado criada em 1932, como explica a diretora Carla Vieira. “O Museu do Ceará é o mais antigo do estado, a edificação é histórica e a preservação se torna mais delicada com um trabalho de manutenção constante”, afirma.
O processo de digitalização foi citado por especialistas como um dos fatores que poderia ter reduzido o dano causado ao Museu Nacional, embora a digitalização não preserve todas as características do objeto. As políticas de preservação do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC) são cotidianas desde a sua criação em 1961, conforme explica a museóloga e diretora Graciele Siqueira. “O acervo que não está sendo exposto fica guardado na nossa reserva técnica e, além disso, nós temos políticas constantes de preservação que incluem o transporte, o manuseio do material com luvas e cuidados que o próprio visitante deve ter”, explica.
Preservação da Memória
O Ibram realiza dois eventos no Brasil: a semana dos museus que acontece em maio e a primavera dos museus em setembro. Com o tema Celebrando a Educação em Museus, a Primavera dos Museus deste ano ocorre entre os dias 17 a 23 de setembro e tem a repercussão de um evento a nível nacional incentivando os museus participantes a divulgarem às suas ações para o público local e nacional. No Ceará, os museus do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura – o Museu da Cultura Cearense (MCC) e o Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC) – realizam apresentações, oficinas e palestras abertas ao público.
Segundo o coordenador educativo do MCC Ícaro Souza, a partir do século 20 os museus reforçaram as ações educativas. “Nós tivemos como uma conquista muito importante com a aprovação do Caderno da Política Nacional de Educação Museal que reorienta os museus a organizarem seus núcleos, desenvolver ações de educação patrimonial e acessibilizar a participação do público nesse processo”, aponta.
O coordenador ainda destaca a falta de uma política mais ampla e efetiva voltada para a educação museal. “Existe pouco financiamento, dificuldade em atrair as escolas, o ataque as ciências humanas que são disciplinas que giram em torno da própria cultura popular, da arte contemporânea e dificultam o acesso das pessoas aos museus”.
Visite alguns museus de Fortaleza
Museu do Ceará
Criado em 1932, o Museu do Ceará foi a primeira instituição museológica do estado. Localizado no centro da cidade, o acervo possui mais de 13 mil peças que contam a história do Ceará. O museu funciona de terça a sábado, das 9h às 17h, na Rua São Paulo, 51. A entrada é gratuita.
Museu da Cultura Cearense e Museu da Arte Contemporânea
O Museu da Cultura Cearense (MCC) e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) abrigam obras de artistas locais, nacionais e até internacionais. Enquanto o MCC tem a proposta de promover a difusão e apropriação do Patrimônio Cultural do Estado, o MAC possui mais mil obras em seu acervo, como a obra do pintor Antônio Bandeira. A visitação dos espaços é gratuita, aberta de terça a sexta-feira, das 9h às 19h; e aos sábados, domingos e feriados das 14h às 21h.
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
Localizado na Avenida da Universidade, o Museu de Arte da UFC (MAUC) foi inaugurado em 1961. Com elementos da arte popular à erudita, 12 salas de exposição dão ao público a oportunidade de ver milhares de obras, entre quadros, esculturas e outras formas de arte. O MAUC fica aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h. A entrada é gratuita.
Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal