Ouvir uma canção, o barulho da chuva ou a buzina de um carro. Parecem coisas comuns do dia a dia de todos, mas têm pessoas que escutam o mundo de maneiras bem diferentes. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, quase 10 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência auditiva.
Por causa disso, a medicina tem se esforçado para melhorar a qualidade de vida da Comunidade Surda, como por exemplo através da cirurgia para um implante coclear ou ouvido biônico. Mas você sabe o que é isso?
O ouvido biônico é, na verdade, uma oportunidade para algumas pessoas com surdez profunda voltarem a ouvir. Ele funciona através da implantação cirúrgica de um dispositivo eletrônico computadorizado que substitui a função do ouvido interno.
Marcos Rabelo de Freitas, otorrinolaringologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica sobre como é feito esse procedimento e quem pode ser candidato a receber o ouvido biônico.
“É importante que as pessoas entendam que não é só colocar o aparelho lá e no outro dia vão ouvir, eles vão ter que reaprender a ouvir, é um novo código de audição. É um aparelho que vai estimular diretamente o nervo auditivo, é como se ele tivesse aprendendo um novo idioma. Nem todas as pessoas são beneficiadas pelo implante coclear, existem critérios bem rigorosos para a seleção dos pacientes. Mas o principal é que o paciente que vai para o implante é aquele que não está tendo benefício com o aparelho de audição convencional”.
O primeiro implante coclear realizado pelo Hospital Universitário Walter Cantídio beneficiou agricultora Maria Liduína de Castro, de 33 anos (Foto: Divulgação)
O servidor público da UFC, Fábio Nogueira, é surdo e não fez o implante, no entanto, teve contato direto com o resultado da cirurgia. Suas duas filhas fizeram o procedimento ainda pequenas. Através do intérprete Marcos Borges, ele relata como foi sua experiência com o ouvido biônico.
“Eu tenho duas filhas surdas, elas são implantadas e a vida deles está ótima, é um lado positivo do implante coclear. Elas também sabem a língua de sinais o que é melhor ainda, porque elas sinalizam muito bem, o implante coclear ajuda sim. Com a língua de sinais, elas conseguem abstrair o mundo por meio da Libras, então eu vejo outras crianças surdas com o implante coclear e tem sido positivo. Os pais ajudam, acompanham a criança nesse processo de adaptação. É muito importante essa iniciativa, mas os conselhos que eu dou: primeiro a pessoa tem que conversar com o médico, segundo a pessoa surda que quiser fazer isso precisa ser bilíngue, precisa saber a língua de sinais. Se não houver isso já cria um problema”.
Desde 2005, o Hospital Universitário Walter Cantídio tentava credenciamento com a Secretaria da Saúde do Estado para habilitação do programa de implante coclear, que permite que o Sistema Único de Saúde (SUS) cubra os procedimentos realizados. A boa notícia é que no dia 25 de abril deste ano o Hospital Universitário conseguiu realizar o primeiro implante coclear. O Dr. Marcos Rabelo acrescenta sobre a importância desse fato.
“É nessas horas que a gente valoriza o SUS. O SUS pode sofrer uma série de críticas, mas se não fosse o SUS, como é que uma agricultora de Baturité ia conseguir implantar um dispositivo que custa em torno de 43 mil reais? Pelo SUS. A gente deve dar muito valor a essa questão do Sistema Único de Saúde, ele é quem possibilita que as pessoas tenham acesso a esse tipo de procedimento”.
Apesar da conquista, o servidor Fábio Nogueira, esclarece sobre a importância da integração da Saúde e a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a Comunidade Surda.
“Nós temos a área da Saúde e a língua de sinais, e é muito importante que haja a junção dessas áreas porque se trata do ser humano. A língua de sinais ela ajuda, ela entra como uma base para que possa haver o pleno desenvolvimento”.
A discussão sobre a utilidade da cirurgia para o implante, assim como o fortalecimento das Libras é, segundo Fábio, uma oportunidade para que médicos e grupos de estudos sobre o tema percebam que língua de sinais é também uma forma de comunicação do sujeito surdo.
Reportagem de Calianne Celedônio com orientação de Thaís Aragão e Igor Vieira