09/05/19

O Ouvido Biônico e uma nova chance de ouvir

Você sabe o que é isso? O ouvido biônico é na verdade uma oportunidade para algumas pessoas com surdez profunda voltarem a ouvir (Foto: Reprodução/Internet)

Ouvir uma canção, o barulho da chuva ou a buzina de um carro. Parecem coisas comuns do dia a dia de todos, mas têm pessoas que escutam o mundo de maneiras bem diferentes. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, quase 10 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência auditiva.

Por causa disso, a medicina tem se esforçado para melhorar a qualidade de vida da Comunidade Surda, como por exemplo através da cirurgia para um implante coclear ou ouvido biônico. Mas você sabe o que é isso?

O ouvido biônico é, na verdade, uma oportunidade para algumas pessoas com surdez profunda voltarem a ouvir. Ele funciona através da implantação cirúrgica de um dispositivo eletrônico computadorizado que substitui a função do ouvido interno.

Marcos Rabelo de Freitas, otorrinolaringologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica sobre como é feito esse procedimento e quem pode ser candidato a receber o ouvido biônico.

“É importante que as pessoas entendam que não é só colocar o aparelho lá e no outro dia vão ouvir, eles vão ter que reaprender a ouvir, é um novo código de audição. É um aparelho que vai estimular diretamente o nervo auditivo, é como se ele tivesse aprendendo um novo idioma. Nem todas as pessoas são beneficiadas pelo implante coclear, existem critérios bem rigorosos para a seleção dos pacientes. Mas o principal é que o paciente que vai para o implante é aquele que não está tendo benefício com o aparelho de audição convencional”.

O primeiro implante coclear realizado pelo Hospital Universitário Walter Cantídio beneficiou agricultora Maria Liduína de Castro, de 33 anos.O primeiro implante coclear realizado pelo Hospital Universitário Walter Cantídio beneficiou agricultora Maria Liduína de Castro, de 33 anos (Foto: Divulgação)

O servidor público da UFC, Fábio Nogueira, é surdo e não fez o implante, no entanto, teve contato direto com o resultado da cirurgia. Suas duas filhas fizeram o procedimento ainda pequenas. Através do intérprete Marcos Borges, ele relata como foi sua experiência com o ouvido biônico.

“Eu tenho duas filhas surdas, elas são implantadas e a vida deles está ótima, é um lado positivo do implante coclear. Elas também sabem a língua de sinais o que é melhor ainda, porque elas sinalizam muito bem, o implante coclear ajuda sim. Com a língua de sinais, elas conseguem abstrair o mundo por meio da Libras, então eu vejo outras crianças surdas com o implante coclear  e tem sido positivo. Os pais ajudam, acompanham a criança nesse processo de adaptação. É muito importante essa iniciativa, mas os conselhos que eu dou: primeiro a pessoa tem que conversar com o médico, segundo a pessoa surda que quiser fazer isso precisa ser bilíngue, precisa saber a língua de sinais. Se não houver isso já cria um problema”.

Desde 2005, o Hospital Universitário Walter Cantídio tentava credenciamento com a Secretaria da Saúde do Estado para habilitação do programa de implante coclear, que permite que o Sistema Único de Saúde (SUS) cubra os procedimentos realizados. A boa notícia é que no dia 25 de abril deste ano o Hospital Universitário conseguiu realizar o primeiro implante coclear. O Dr. Marcos Rabelo acrescenta  sobre a importância desse fato.

“É nessas horas que a gente valoriza o SUS. O SUS pode sofrer uma série de críticas, mas se não fosse o SUS, como é que uma agricultora de Baturité ia conseguir implantar um dispositivo que custa em torno de 43 mil reais? Pelo SUS. A gente deve dar muito valor a essa questão do Sistema Único de Saúde, ele é quem possibilita que as pessoas tenham acesso a esse tipo de procedimento”.

Apesar da conquista, o servidor Fábio Nogueira, esclarece sobre a importância da integração da Saúde e a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a Comunidade Surda.

“Nós temos a área da Saúde e a língua de sinais, e é muito importante que haja a junção dessas áreas porque se trata do ser humano. A língua de sinais ela ajuda, ela entra como uma base para que possa haver o pleno desenvolvimento”.

A discussão sobre a utilidade da cirurgia para o implante, assim como o fortalecimento das Libras é, segundo Fábio, uma oportunidade para que médicos e grupos de estudos sobre o tema percebam que língua de sinais é também uma forma de comunicação do sujeito surdo.

Reportagem de Calianne Celedônio com orientação de Thaís Aragão e Igor Vieira

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