Objeto que representa paixão para pessoas de várias gerações, o disco é um artigo que proporciona uma experiência ímpar com a música. Celebrado no dia 20 de abril, como uma homenagem ao músico Ataulfo Alves, a data é simbolizada como o marco de um produto que parecia estar nos seus últimos dias, mas que se reinventa diariamente e hoje é disputado de todas as formas por colecionadores e apaixonados por artes.
Principal integrante da revolução dos armazenamentos musicais que aconteceu no século XX, o disco de vinil surge em 1948, como uma substituição aos discos de goma-laca, que eram utilizados anteriormente. Feito de um material mais leve e resistente a quedas, o vinil ganhou espaço de forma rápida e logo conquistou o público, apresentando uma série de artistas que dominaram as paradas musicais nas décadas posteriores.
A reinvenção de quem faz história
O disco proporciona ao público o contato com produções que são consideradas obras de arte. No Brasil, além do significado musical que abrangeu diversos momentos históricos, como a ditadura, os vinis também apresentaram uma evolução do design gráfico em seus projetos, fomentando a concepção de discos históricos como “Todos os Olhos” (1973), de Tom Zé e “A Tábua da Esmeralda” (1974), de Jorge Ben.
Proporcional a sua importância dentro da história, o disco também representa um objeto de estima para os apaixonados por música. A cada ano que passa, a quantidade de admiradores aumenta. A “maneira diferente de se relacionar com a música”, como coloca o DJ, pesquisador e colecionador, Alan Morais, apresenta uma perspectiva surpreendente. De acordo com o relatório anual de 2017 da Recording Industry Association of America (RIAA), pela primeira vez, desde 2011, as vendas de discos superaram as de downloads digitais de músicas.
Alan, inclusive, não somente coleciona (atualmente, possui cerca de 4100 discos), mas também proporciona que outras pessoas possam conhecer o universo desta mídia. Desde 2014, organiza feiras de vinil na cidade de Fortaleza. Inicialmente concentradas na casa de shows Kukukaya, o negócio se espalhou e “hoje tem crescido e tem em vários lugares”, ressalta o pesquisador.
O lado B da realidade
Entretanto, o disco ainda está longe de manter um equilíbrio que permita a sua força dentro do mercado sonoro. As lojas de disco, por exemplo, são cada vez mais raras e poucas resistem ao tempo e a evolução das plataformas de armazenamento. Proprietário da Planet Cds, loja de discos que está no mercado há mais de 20 anos, Márcio Alves credita a resistência de seu negócio a “ter uma clientela física”, mas lamenta a queda das vendas nos outros anos. “Não tem perspectiva de melhora”, lamenta.
O mercado também está longe de ser produtivo para quem vive da música. Atualmente, a principal receita obtida pelos artistas vêm de shows e consumo de suas obras em plataformas de streaming como Spotify e Deezer. É comum encontrar cantores comentando que só fazem discos por conta de seus fãs mais assíduos, mas que não encontram nestes uma oportunidade lucrativa.
A cantora e compositora Rebeca Câmara pretende fazer parte de uma geração que deve lançar suas canções apenas em plataformas digitais. Devido ao alcance do Spotify, a artista cearense tem a sua obra ouvida em vários estados do Brasil e “em países que nunca imaginava que iam ouvir”, ressalta.
Rebeca lançou o seu primeiro álbum no ano passado. Desde então, ela vem recebendo um retorno positivo na internet com a publicação de seu trabalho. Esse fato, faz a cantora pensar em seguir apenas no universo digital. “Acho que a partir de agora eu vou fazer como o mercado está fazendo (lançar as músicas em streaming) e migrarei só para as plataformas digitais”, conta.
A resistência de quem já foi objeto de protesto
Mesmo com uma realidade distante dos seus dias de glória, o disco de vinil ainda mostra que pode ser importante no conhecimento cultural das atuais e futuras gerações. Há quem acredita que ele se encontra nos últimos dias, mas também que pode dividir espaço com outras plataformas de armazenamento.
O jornalista e radialista Nelson Augusto vislumbra essa permanência do vinil nas prateleiras e no coração dos apaixonados por música. Apesar de “os tempos serem outros”, o jornalista destaca uma perspectiva positiva com a abertura de novas fábricas de discos no Brasil, mas ressalta a importância dos músicos para a estabilidade dessa mídia física. “Se eu fosse artista, deixaria uma porcentagem (de produção) para discos físicos”, conta.