Em meio a uma onda de novas tecnologias e comunicações de massa, as terras cearenses emanam uma impressionante diversidade em relação à cultura popular tradicional. Do interior à capital, são muitos os saberes compartilhados que acabam por se transformar em tradições de comunidades inteiras. Práticas como Manero Pau, Quadrilhas Juninas, Coco de Praia do Iguape, Circo Itinerante e Reisado são alguns exemplos dessas manifestações folclóricas que retratam a nossa forma de sentir, pensar e agir.
O Ceará é marcado por uma política de preservação e propagação destas tradições populares que, de forma espontânea, nasceram do povo e servem ao povo. Desde 2004, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) diploma grupos, coletividades e mestres da cultura que têm a capacidade de transmissão e partilha destas práticas. Estes são os chamados Tesouros Vivos da Cultura que pintam a vida com as cores de nossas ancestralidades.
O Coco de Praia do Iguape é uma tradição folclórica criada pelos pescadores do pequeno distrito de Aquiraz (Foto: Jr. Panela)
Todas as expressões populares têm décadas de existência e estes mestres e mestras aprenderam suas tradições com seus pais e avós. No decorrer deste tempo, a tecnologia avançou e o tradicional foi se relacionando com o moderno. A questão é: como se dá este elo? Segundo o pesquisador e professor aposentado da UFC Gilmar de Carvalho, esta relação se dá em uma via de mão dupla. A troca entre a tradição e as modernas culturas de massa é essencial. "O importante é ver como o massivo e a tradição se interrelacionam. Esta luta não tem vencedores. Aí é que se engendra a cultura: múltipla, rica, diversa", afirma Gilmar.
Dia após dia, os mestres da cultura popular compartilham suas amplas sabedorias com as novas gerações. Gilmar de Carvalho ressalta que qualquer tradição "busca um entendimento entre a herança mais ancestral e os novos padrões". Estas memórias vão se moldando a medida em que os filhos dos mestres aprendem as práticas de seus pais. As tradições populares se transformam junto com seu povo.
Como funciona o projeto Tesouros Vivos da Cultura
As Quadrilhas Juninas Cearenses também estão entre as manifestações populares valorizadas e propagadas pelas políticas públicas estaduais (Foto: Kid Júnior)
Periodicamente, a Secult abre o edital de inscrição para este projeto que surgiu em 2003 e é uma importante ferramenta quando se trata de valorização da cultura. A seleção de Tesouros Vivos fica a cargo de uma comissão composta por cinco membros com notável saber na área de tradições populares. São critérios de avaliação: a relevância da vida e da obra destes mestres e grupos, a capacidade de transmissão e partilha destes conhecimentos, além da necessidade de morar e atuar no território cearense há pelo menos 20 anos.
Até agora, já foram intitulados 79 mestres, 9 grupos e 1 comunidade. Os homens e as mulheres agraciados com este título recebem um auxílio vitalício de um salário mínimo por mês. Os grupos selecionados recebem uma cota única com o valor de R$ 4.200.
No último dia 20 de julho, no município do Crato, o Governo do Estado anunciou a ampliação de 60 para 80 o número de mestres e mestras. Este aumento é uma das metas do Plano Estadual de Cultura e está previsto para acontecer até o ano de 2018. Segundo Vinícius Frota, assistente técnico da Secult, esta mudança "é um avanço diante da importância de reconhecer mais mestres, diante da necessidade que tenhamos mais manifestações representadas e é uma avanço dentro outros que faremos pela frente".
Outra novidade do projeto se relaciona com o processo de seleção. A partir do edital deste ano, que está aberto até o dia 6 de setembro, a inscrição poderá ser realizada através do envio de uma gravação em vídeo de até 20 minutos. A ideia é que o processo de seleção abranja um maior número de candidatos que tenham dificuldades com a escrita.
