18/08/17

Narrativas construídas pela imagem

No dia 19 de Agosto, a fotografia completa 178 anos (Foto: Henri Cartier-Bresson)

Um clique, um milésimo de segundo para sempre na história. No olhar poético de Cartier-Bresson, na beleza cotidiana registrada pelas lentes de Vivian Maier ou na proximidade do momento sempre buscada por Robert Capa. Em comum, o objetivo de narrar uma história por meio de imagens, narrativas que transmitam sentimento, que representam um símbolo, que se revelam em uma possibilidade. Nas palavras de cada fotógrafo, uma visão diferente sobre esse ofício que comemora 178 anos no dia 19 de agosto.

Historicamente, a fotografia surge na busca por um meio de reproduzir o real de forma verossímil, tendo na invenção do Daguerreótipo seu pontapé inicial. Esse processo, estudado por Joseph Nicèphore Niépce, e posteriormente desenvolvido por Louis Jacques Mandé Daguerre, foi anunciado pela Academia de Ciências da França em 1839. Ao longo da história, a fotografia desempenha inúmeros papéis além daqueles comprometidos com seu propósito original. Já em suas primeiras décadas, a fotografia passa a ser explorada também a partir do viés artístico com o movimento Pictorialista*, como conta o professor da UFC, fotógrafo e coordenador do Grupo de Análises e Estudos da Imagem Contemporânea (GAEIC), Fernando Maia da Cunha.

Primeira fotografia bem-sucedida com o uso do Daguerreótipo (Foto: Reprodução/Internet)

Se ao longo do tempo, a oralidade e as narrativas construídas por meios das palavras sempre foram a principal forma de contar histórias, com a fotografia a humanidade vive uma revolução na forma de se comunicar. Segundo Fernando Maia, essa revolução não representa uma desvalorização do aspecto narrativo das palavras, mas uma complementaridade trazida pelas imagens. Em sua opinião, a fotografia tem nesse aspecto o seu principal papel.

Em tempos de redes sociais e câmeras ao alcance das mãos, é natural que haja um maior número de fotografias. De acordo com estatísticas do Instagram, são 400 milhões de imagens compartilhadas diariamente na rede social em 2017. Debates acerca desse crescimento e a preocupação com a situação da fotografia são naturais, contudo, sua raiz não é nova. Fernando Maia aponta discussões semelhantes em momentos históricos passados, como a própria invenção do Daguerreótipo e a preocupação dos artistas da época em relação ao futuro da pintura. E, mais recentemente, com o futuro da fotografia em decorrência da popularização das câmeras compactas, com a fundação da Kodak.

Com uma maior acessibilidade às câmeras portáteis e smartphones, cresce o número de fotografias compartilhadas, o que gera um excesso de imagens. Contudo, essa popularização apresenta novas possibilidades, segundo Fernando. “Popularizou a fotografia de certo modo que nós estamos vendo surgir novos fotógrafos, novas vertentes artísticas, novas vertentes documentais, novas vertentes importantes no mundo da imagem”, conclui.

Atualmente, a rede social Instagram já conta com 700 milhões de usuários (Foto: Jay Wennington/Unsplash)

Atualmente, a rede social Instagram já conta com 700 milhões de usuários (Foto: Jay Wennington/Unsplash)

*Pictorialismo: fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que consideravam como fotografia artística, capaz de conferir aos seus praticantes o mesmo prestígio e respeito conquistados pelos praticantes dos processos artísticos convencionais.

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