Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a constatação é de que pouca coisa mudou nos últimos anos com relação ao mercado de trabalho. Os dados apontam que as desigualdades entre homens e mulheres no mundo não diminuíram. Elas continuam dispondo de menos oportunidades na hora de disputar uma vaga de emprego e o salário permanece menor que o dos homens.
As desigualdades entre os sexos são encontradas tanto em países subdesenvolvidos ou emergentes, bem como nos considerados desenvolvidos, segundo a última pesquisa divulgada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
E essa desigualdade melhora ou se acentua de acordo com a situação econômica em que o País vive, conforme avalia o Analista de Desenvolvimento do Mercado de Trabalho do IDT-SINE, Erle Mesquita.
"Teoricamente, há uma desigualdade muito grande entre os sexos. Paulatinamente, essas desigualdades caem, mas em período de crise econômica, como a vivenciada nos últimos tempos, essas desigualdades voltam a crescer. As mulheres ainda tem uma taxa de desemprego muito mais elevada que os homens. Percebemos que, aqui no estado do Ceará por exemplo, menores salários, algo em torno de 18%. Essa desigualdade chega a ser ainda maior quando há aumento de salário e o nível de escolaridade desses trabalhadores, por exemplo, trabalhadoras que têm pós-graduação, seja ela pós-graduação, mestrado ou doutorado, essa desigualdade pode chegar até 30%, o que mostra que realmente há uma grande disparidade entre os sexos."
Desde 2016, quando o Brasil entrou na situação de crise econômica, as disparidades entre os sexos só se acentuaram e atingiram o seu ápice em 2020, segundo afirma Erle Mesquita do IDT.
"Temos a tendência desde o ano de 2016, quando o Brasil realmente entra nessa situação de crise econômica, nós temos aí uma perda da capacidade da redução das disparidades entre os sexos. Então, as disparidades voltam a crescer, desde então, e podem realmente ter acentuado no ano de 2020, onde houve principalmente uma maior dificuldade das mulheres se inserirem no mercado de trabalho. Se olharmos apenas o emprego formal, onde há informação disponível, das 18 mil vagas criadas aqui no estado menos de 3 mil foram apropriadas pelas mulheres, o que mostra que realmente as mulheres tiveram a dificuldade muito grande de inserção no ano passado."
A entrada da mulher no mercado de trabalho ocorreu no início da década de 40, quando a industrialização começou a acontecer no Brasil. Até aí as mulheres exerciam somente o papel de administradoras do lar. Mas, foi a partir dos anos 70, que elas começaram, de fato, a ocupar outros espaços fora de casa. Isso porque passaram a exercer funções consideradas um pouco mais relevantes pela sociedade, como de costureiras, professoras ou funcionárias do comércio.
Mas ao longo de todos esses anos, a presença feminina no mercado de trabalho vem oscilando para mais ou para menos, conforme uma variedade de fatores. O período de pandemia, que além de afetar a economia, traz mudanças da vida em família, tem afetado mais mulheres que homens, demonstrando grande desigualdade de gênero neste momento.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD), apontam que mais de 63 por cento das mulheres estão fora do mercado de trabalho por conta da pandemia.
A professora Gema Galgani, da UFC, referência nacional e internacional na temática que engloba gênero, poder e feminismo, analisa que neste contexto de pandemia, as mulheres encontram muitos desafios para retornar ao mercado de trabalho, ressaltando que a recuperação da situação vai ser lenta:
"Essa recuperação vai ser muito lenta principalmente para as mulheres mais pobres, mulheres com menos qualificação e mulheres que são responsáveis pelo trabalho doméstico, [assim como] para as mulheres que são chefes de família , que precisam cuidar do elemento da educação e da saúde dos filhos, já que as escolas não têm apresentado um plano sólido de reabertura de creches e escolas, aí a responsabilidade da educação tem sido atribuída às mães."
A igualdade de gênero, no mercado de trabalho, segundo a professora Gema Galgani, da UFC, ainda é um sonho distante:
"Nós consideramos que ainda é um sonho distante a igualde de gênero no mercado de trabalho e eu poderia começar pela diferença salarial entre homens e mulheres nas mesmas categorias profissionais. As mulheres recebem 70% no máximo do homem, isso significa que a sociedade vê a mulher recebendo um complemento salarial da renda familiar e não compreende a família como da responsabilidade igual de homens e mulheres."
Segundo a professora Gema Galgani, é preciso que haja maior atenção das políticas públicas, para que a igualdade de gênero aconteça na sociedade. Para a educadora, é importante que as mulheres participem de coletivos, de grupos em seus sindicatos, em suas associações, para que elas possam trocar informações sobre suas vidas, suas angústias, e com isso, possam construir suas bandeiras de luta.
Márcia Vieira para a Rádio Universitária FM