20/06/23

Julgamento da Chacina do Curió tem início dia 20/06

Nesta terça-feira (20), vão a júri 4 policiais acusados de terem participação no crime,consideradoo maior julgamento de violência policial dos últimos anos no Brasil (Foto: Tatiana Fortes/O POVO)

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"Meu nome é Edna Carla, sou mãe do Álef, morto na chacina do Curió, sou co-fundadora e coordenadora do movimento Mães da Periferia".

Justiça. Uma palavra com a qual se sonha, mas não para regozijo e sim por pura reparação. Há quase 8 anos, na madrugada do dia 11 para o dia 12 de novembro, 11 jovens da periferia, a maioria com menos de 20 anos de idade, foram assassinados na Grande Messejana, em Fortaleza, por policiais militares que entraram na comunidade caçando rapazes, considerada a maior chacina da história do Ceará. O motivo? A vingança pela morte de um soldado que havia sido baleado em serviço momentos antes.

Nesta terça-feira (20/06), vão a júri 4 policiais acusados de terem participação no crime, considerado o maior julgamento de violência policial dos últimos anos no Brasil. Ao todo, são réus 34 PMs. Desde o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996, não se viam tanto policiais acusados de maneira formal. A mãe de Álef Souza fala da trajetória de luta e da expectativa.

"Na verdade pra gente chegar até o júri, a gente fez uma construção da luta. A gente sabe que nós estamos num país que é cheio da ilegalidade quando se refere a policial que mata alguém, mas eu pelo menos estou confiante sim e tem uma grande possibilidade dos culpados serem condenados. E não pode ser diferente".

Um dos produtos dessa luta foi a construção do audiolivro ONZE, organizado pelo Movimento Mães e Familiares do Curió na busca por memória e justiça, disponível no Spotify, além do próprio livro “Onze: movimento mães e familiares do Curió com amor na luta por memória e justiça”, que pode ser acessado no site do Cedeca Ceará.

"Porque eu não quero que a morte do meu filho seja em vão. A gente quer mudar esse tipo de polícia. A polícia não tem que matar porque ela foi contratada pra trazer segurança, não importa quem. Quando um um policial lhe contratado ele já está sobre a aba do estado, é o estado que paga, é a sociedade civil que paga. Então, quando aquela bala atingiu o meu filho, eu me senti como se eu tivesse mandado matar meu filho, porque eu comprei aquela bala". 

As vítimas tinham um nome:

Álef Souza Cavalcante, 17 anos
Antônio Alisson Inácio Cardoso, 16 anos
Francisco Elenildo Pereira Chagas, 40 anos
Jardel Lima dos Santos, 17 anos
Jandson Alexandre de Sousa, 19 anos
José Gilvan Pinto Barbosa, 41 anos
Marcelo da Silva Mendes, 17 anos
Patrício João Pinho Leite, 16 anos
Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, 18 anos
Renayson Girão da Silva, 17 anos
Valmir Ferreira da Conceição, 37 anos.

O julgamento desta terça, 7 membros do Ministério Público devem atuar contando com a assistência de três defensores públicos.

Reportagem de Síria Mapurunga

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