Você já acessou a internet hoje? Checou as redes sociais?
Estamos cada vez mais conectados à Internet. Em relatório realizado neste ano pelas empresas de marketing digital We Are Social, do Reino Unido, e a Hootsuite, dos Estados Unidos, foi divulgado que 62% da população brasileira está ativa nas redes sociais. Entre as plataformas mais acessadas pelos brasileiros está o YouTube com 60% de acesso, seguido pelo Facebook com 59%, o WhatsApp com 56% e o Instagram com 40%.
A psicóloga Maria Camila Moura, mestre pela Universidade Federal do Ceará (UFC), explica porque estamos usando cada vez mais as redes sociais:
"Em redes sociais, a gente tem uma conexão do eu e uma exibição do eu. O que a gente constata muito é que neste se expor há um imperativo da felicidade e há um imperativo estético também. Todos aparecem felizes mesmo que em condições adversas e todos aparecem atendendo a certas normas estéticas e alguns padrões também heteronormativos, entre outras questões. Alguns autores, como a Paula Sibilia, vão categorizar esse tipo de comportamento como um Show do Eu, sendo essas plataformas virtuais um grande palco em que as pessoas tenham espaço para realmente se expor, compartilharem sua rotina, seu dia a dia e falar de seus gostos, sobre suas maneiras de serem no mundo".
Mas para Ana Marques, mestre em Comunicação pela UFC, a Internet não pode ser considerada um espelho real de nós mesmos:
"Essa imagem de que a Internet, de que as redes sociais, essas plataformas são um espelho, eu discordaria delas. Porque, na verdade, nem tudo está na rede. As pessoas escolhem as suas melhores fotos, escolhem seus melhores momentos para postar. Não se posta tudo. Na verdade, aquilo ali é mais uma narrativa que esse sujeito tenta construir para que seja visto, para que seja compartilhado com a sua rede social, com seus pares, com a sua comunidade do que propriamente um espelho que mostre o todo desse cotidiano, desse sujeito e de suas experiências. Me parece mais plausível pensar numa tentativa de construção de uma narrativa de si do que propriamente a ideia do espelho".
Na Universidade de Pitsburgo, nos Estados Unidos, pesquisadores analisaram o comportamento de 1.787 pessoas avaliando os acessos diários delas nas redes sociais e quanto tempo passavam navegando. O resultado desse estudo mostrou que os mais viciados têm quase o triplo de chances de desenvolver depressão, uma vez que o abuso na interação virtual aumenta essa tendência.
A psicóloga Maria Camila Moura explica as consequências dessa imersão na rede:
"Existem várias hipóteses formuladas em relação a isso, mas acho necessário destacar que quanto mais tempo a pessoa fica em rede social, mais ela fica exposta a certos gatilhos de mal-estar. Como, por exemplo, a comparação social, gatilhos relativos a exigências estéticas e também ficam vulneráveis à validação dos outros. Além disso, o uso excessivo pode levar a comportamentos muito similares a de uma dependência, em que a pessoa já não consegue exercer seu autocontrole na hora de parar de usar a rede social, sofre caso seja impedida de usar a rede social. Há uma privação de sono por causa desse uso, o que pode desencadear uma série de alterações fisiológicas. Então tem muitas consequências negativas no uso excessivo de rede social, mas vale ressaltar também que esse mal-estar varia de rede social para rede social".
Ainda de acordo com relatório da We Are Social e da Hootsuite, o brasileiro ocupa o segundo lugar em termos de horas gastas em plataformas de redes sociais, chegando a passar três horas e trinta e quatro minutos por dia conectado.
Reportagem de Thays Maria Salles com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira