Na primeira parte do especial dedicado a apresentar artistas autorais LGBTI+ no estado foi compartilhada a arte de Luiza Nobel, Getúlio Abelha e Isabel Gueixa. Mas além da carreira solo, muitos desses artistas desenvolvem seu som através de grupos musicais expressando suas individualidades no trabalho coletivo. Conheça três deles:
Lua Underwood, Intuición
Com Clapt Bloom, Lua Underwood compõe a dupla de Electro Punk e Pop, Intuición. Juntos desde 2012, os artistas se destacam na produção autoral underground de Fortaleza e disputam espaço com a cultura de apresentações cover, ainda muito forte na cidade.
O jovem afirma que apresentar o trabalho da dupla ao público da capital ainda é um grande desafio, apesar do auxílio das redes sociais e das plataformas de streaming.
“Uma das únicas formas de divulgar o trabalho aqui na cidade como banda é fazendo shows grandes, com boa visibilidade. Não é sempre que rola e quando rola é em um círculo muito fechado de artistas e muitos trabalhos autorais competentes ficam de fora ainda”, reforça Lua.
Nessa luta por espaço, a Intuición foi selecionada no início de 2018 a participar do Festival Maloca Dragão em Fortaleza onde apresentaram pela primeira vez a música Qué Rico!
Lua Underwood já desenvolveu projetos como a duo pop New Model com a cantora Lola García e tem produções solo que conversam com o pop e sons mais experimentais. Ele destaca que as vantagens de transitar entre trabalhos no meio da música estão justamente nas diferenças entre elas.
“A sonoridade é o principal. Mas também as vivências das meninas e as minhas vivências com elas. Então, acabou que nesses projetos se tornou uma coisa distorcida da outra, mas de uma forma boa porque eu me encontrei em ambientes legais, diferentes de trabalhar, de fazer arte e criar coisas”, comemora.
Carolina Rebouças, GhettoRootsO grupo musical iniciado em 2015 tem o Reggae como matriz e difunde a cultura Hip Hop na cidade através do Rap com letras que reforçam a luta pela igualdade e pela cultura de paz. Esse trabalho na música é o reflexo direto da ação social de acesso à cultura que a GhettoRoots desenvolve como coletivo na comunidade do Dendê em Fortaleza desde 2007.
Carolina Rebouças, que divide os vocais com Gabriela Savir, Roni Flow e Rodrigo Revolução, acompanhou a evolução do projeto desde o início e reconhece a força do trabalho em conjunto, seja na arte como no desenvolvimento social.
“A gente cresce muito em coletivo. Em todas as experiências que a gente tem na sociedade, por mais que houvessem pessoas revolucionárias à frente como liderança, precisou de uma massa para que houvesse de fato uma mudança. A gente parte desse viés. O projeto cresce cada vez que mais pessoas apostam e são agregadas”, afirma.
Em diversas situações essa força parece ser em vão, diante de tantos desafios do mercado. Principalmente com artistas vindos da periferia.
“Não tem uma democratização de acesso como deveria ter. E para quem vem da periferia as próprias informações são limitadas, a gente tem limitação tanto de acesso quanto de aprovação para esses meios”, acrescenta.
Zeca, Procurando Kalu
A banda sobralense Procurando Kalu está desde 2013 no mercado e trabalha com o que pode ser chamado de Tropical Indie, um som experimental influenciado por sonoridades da Psicodelia Nordestina e do Tropicalismo.
As experimentações tiveram início dentro da mesma casa, onde os integrantes moravam por conta da faculdade. Agora, cinco anos depois, o convívio ainda é próximo e a experiência na música ajuda bastante. Como reforça Zeca, cantor do grupo.
“O território está ficando mais plano. Porque quando a gente começou era tudo muito áspero, a gente tinha que ficar descobrindo as coisas e podando elas para poder encontrar um caminho”, lembra.
Zeca também comemora que, com o desenvolvimento e amadurecimento da banda, se permitiu aplicar nas letras e nas performances, questões mais particulares e, com isso, “desabafar em cima do palco”. Dessa forma, a identificação do público se torna imediata fortalecendo os laços com banda, principalmente com populações marginalizadas.
“A gente está procurando um abrigo ali dentro para todas as nossas questões e todas as nossas dores. Porque assim como qualquer pessoa, você recebe dores pelo que você faz na sua vida e, como a gente está dando a cara a tapa, os tapas estão vindo e a gente está sendo protegido também por essa relação que a gente tem”, reflete.
Assim, esses indivíduos se mostram e caminham entre as letras da Procurando Kalu. E caminham resistentes, insistentes, incômodos.
Reportagem de Lucas D'paula com orientação de Natália Maia.