João Gabriel Coelho
Especial para a Rádio Universitária FM 107,9
“Tudo no mundo tropeça antes de andar. Essa verdade inquieta; anseia com razão um lugar ao sol.” Assim canta Gabriel Aragão em “Ainda está no ar”. No último sábado, 22 de julho, o músico subiu ao palco do Teatro Riomar Fortaleza inaugurando a turnê Rua Mundo Novo, que traz o nome do mais recente trabalho do artista, lançado no fim de junho. Para quem esperava um show introspectivo, como eu, se surpreendeu de maneira muito positiva. O que recebemos foi um show enérgico, de banda completa. O espetáculo ainda contou com as participações de Mateus Fazeno Rock, Di Ferreira e MAKEM.
Aos que não conhecem, Gabriel é membro da popular banda Selvagens à Procura de Lei, na qual escreve, canta e toca vários instrumentos. O artista começou sua carreira solo há três anos, com a canção “Tempo de partir”, em parceria com o cantor Ítalo Azevedo. Sua caminhada solo conta até o momento com onze lançamentos entre singles, EPs, álbuns e trilha sonora. Para além de músico, Gabriel também é escritor. Em 2021, lançou O Livro das Impermanências, contendo poesias escritas em 2010, 2018 e, principalmente, em 2020, durante a pandemia de Covid-19.
Convenhamos, todo mundo fica meio desconfiado quando líderes de suas bandas favoritas começam carreiras solo. Você teme pelo fim da banda, não? Com os Selvagens à Procura de Lei não foi diferente. Eu mesmo podia jurar que “o fim estava próximo”. Mas após o show que vi, entendi que, para a continuação de Selvagens, era mais que necessário a carreira solo de Gabriel Aragão e Rafael Martins.
O que foi visto no último sábado foi uma demonstração de versatilidade por parte do cantor e da banda de apoio. Em momento algum me senti em um show da banda Selvagens à Procura de Lei. Apesar de haver músicas da banda no repertório, foi um show de carreira solo mesmo. E por que foco tanto em falar de “carreira solo”? Porque há uma diferença entre cantar sozinho e ter carreira solo. Refiro-me a ter um repertório com músicas marcantes, fazendo com que esse caminho solo não vire uma extensão daquilo que se faz quando se está em grupo. Explorando outras sonoridades, o show foi uma diversificação de gêneros, passando por cumbia, rock latino, bossa nova, samba rock e, aquela que não poderia faltar, MPB.
O show trouxe muitas canções do álbum Rua Mundo Novo, do EP Abre Caminhos, além de canções lançadas pela banda Selvagens à Procura de Lei. As surpresas ficaram por conta de medleys inusitados, como a canção “Dia Cheio”, que do meio pro fim sofreu uma transformação beatlemaníaca, desaguando na canção “Dear Prudence”. Em “Desejos Carnais”, a cantora MAKEM marcou presença e roubou a cena, com um timbre diferenciado que justifica todo seu destaque na cena musical. Ao final, a música também se misturou com “Mania de Você”, da saudosa Rita Lee.
Além da participação especial de MAKEM, a apresentação contou ainda com Mateus Fazeno Rock cantando “Caminando, Caminando” e “Slowmotion” e Di Ferreira cantando “Canto Bom” e “Jamoga”. A banda que subiu ao palco era formada por Bruno Rafael na guitarra, Agê no synth e trompete, Thiago Nunes e Di Ferreira nos backing vocals, Leandro Marechal na percussão, Matheus Brasil na bateria, e Cláudio Mendes, no contra baixo e na sanfona, além de assinar a direção do show.
Gabriel Aragão é um Selvagem à procura de uma carreira solo robusta, e tem conseguido até aqui trilhar um caminho agradável, assim como seu companheiro de banda, Rafa Martins. Procurar seu lugar ao sol não é fácil, e é bom perceber que os anos de carreira (até aqui já foram 15 anos) não engessaram a criatividade de Gabriel.