Desde o dia 24 de julho os sistemas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico estão fora do ar. A base de dados do CNPq reúne, nas Plataformas Lattes e Carlos Chagas, os currículos de mais de 7 milhões de pesquisadores brasileiros, e também estrangeiros, além dos registros de todos os grupos de pesquisa e bolsistas vinculados à instituição.
O CNPq informou que houve falha em um dos computadores onde os sistemas estão hospedados, mas que dispõe de novos equipamentos e que a migração teve início antes da falha. Também garantiu que não houve perda de dados. A instituição havia comunicado o prazo para restabelecimento das plataformas na última segunda-feira, dia 2, mas até agora seguem fora do ar.
O apagão, como tem sido chamado, vem gerando apreensão na comunidade científica brasileira. Em carta aberta, a SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência manifestou estar preocupada com a fragilidade da infraestrutura do CNPq e chamou atenção para o estrangulamento financeiro ao qual a instituição vem sendo submetida
nos últimos anos. A professora da Universidade Federal do Ceará Cláudia Linhares,
atual secretária-geral da SBPC, avalia que esse contexto desencadeou o apagão que
vemos hoje:
“Esse apagão era previsível, porque nenhuma instituição poderia resistir a esses cortes de orçamento ano a ano, desde 2014 praticamente, como vem sofrendo o CNPq. Em 2014, o orçamento (não o executado) foi quase 2,8 bilhões de reais. E hoje o orçamento 2021 é de 1,26 bilhões de reais. A ciência brasileira se recente, se recente hoje e as consequências disso virão logo a seguir."
Além de afetar as condições para a manutenção de sua infraestrutura, a redução de orçamento do CNPq tem provocado cortes de funcionários e do próprio financiamento para pesquisas. Realidade impensável para uma instituição histórica responsável pela potência científica do país, como afirma o secretário regional da SBPC, Armênio Aguiar, professor da Faculdade de Medicina da UFC:
"Nos seus 70 anos de existência, o CNPq foi e é a casa do cientista brasileiro. Desde a possibilidade de formação de recursos humanos de jovens talentos, onde o CNPq, numa iniciativa pioneira em todo o mundo, abriu a possibilidade de financiamento para bolsas de iniciação científica; e não somente financiando atividades de pesquisadores isolados, como de grupos de pesquisa, e até mesmo de institutos nacionais de ciência e tecnologia, permitindo o intercâmbio acadêmico com outras nações e, portanto, favorecendo a ampliação de novas linhas de pesquisa."
É essa capacidade que Cláudia Linhares espera que o CNPq possa restabelecer:
“O que podemos torcer agora é que esse quadro se reverta rapidamente. É que, por algum milagre, eu diria, as pessoas que estão no poder hoje, e que tem o poder de mudar essa situação, se deem conta de que a falta de investimentos no CNPq causa prejuízos irreparáveis. E é preciso urgentemente restabelecer o orçamento do CNPq, restabelecer a sua capacidade de trabalho, e restabelecer o seu papel fundamental para o desenvolvimento da ciência, e para o desenvolvimento do Brasil, evidentemente."
O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, ao qual o CNPq é vinculado, não se
pronunciou sobre a carta aberta da SBPC.
Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.