A valorização da produção de documentários estudantis é o objetivo do FIDÉ – Festival Internacional do Documentário Estudantil. Surgido na França em 2008, o evento foi trazido para o Brasil e teve sua primeira edição em 2012. EM 2019, o FIDÉ acontece em Curitiba, no mês de novembro, e recebe inscrições de documentários realizados por estudantes até o dia 1º de agosto.
A iniciativa surgiu para fomentar, discutir e difundir a produção documental realizada em escolas, cursos livres e nas universidades, fornecendo um espaço para que os estudantes possam exibir seus trabalhos. Mariana Sanchez, uma das organizadoras e curadora do FIDÉ Brasil, explica o porquê do Festival ser voltado especificamente para produções documentais:
"O gênero documental, o cinema de não-ficção é um pouco mais marginalizado. Ele tem poucas vitrines, tem poucos festivais de documentário, e menos ainda de filmes produzidos em âmbito estudantil. Então a ideia é valorizar essa produção de pessoas que estão estudando, investigando, pensando cinema documental dentro desse âmbito de formação. E existe muito preconceito em torno desse tipo de cinema. As pessoas pensam ‘poxa, um festival de documentário estudantil; devem ser aqueles filmes mal acabados, meio amadores’. E quando vão pro FIDÉ, as pessoas se surpreendem com a qualidade dos filmes porque têm muitos institutos e centros de formação pelo mundo que estão pensando as linguagens contemporâneas do documentário hoje".
Cada vez mais pessoas se interessam pela produção documental nos mais diversos espaços de formação. Mariane Silva se graduou no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) com a produção do documentário Conexão Fortal, sobre a vida de dez jovens que se dedicam a fazer música em Fortaleza. Ela explica o que despertou o interesse na produção documental:
"Primeiro porque a gente é uma geração muito visual, então é mais fácil você ver um documentário do que ler um livro ou uma revista. E porque ele é um gênero que te faz ter uma liberdade. Eu posso fazer sobre qualquer tema, que cabe naquele formato".
O publicitário e estudante de Cinema na Universidade de Fortaleza (Unifor) Leão Neto é um dos realizadores do documentário Maria Maculada, vencedor do prêmio de Melhor Filme no 17º Festival NOIA. Ele fala sobre a importância da exploração do gênero documentário nos espaços de formação:
"Eu acho muito importante que tenha esse fomento dentro das universidades para as pessoas poderem conhecer o que se pode fazer dentro do documentário. Não é só ‘ah, eu vou descobrir um personagem ali no meio da rua que tem uma vida assim e eu vou acompanhar ele, fazer uma entrevista e vou fazer o documentário do rapaz da rua’. Também é isso, mas existem outras possibilidades. Você pode fazer um documentário sobre o vento se você quiser, de uma forma poética, de uma forma performática, e você coloca essas suas necessidades enquanto artista".
Apesar de existirem festivais direcionados especificamente para o documentário, o gênero ainda possui menos espaço de divulgação se comparado a produções ficcionais. Essa é uma das dificuldades que a jornalista Mariane Silva destaca no meio:
"O audiovisual é uma plataforma muito elitizada, em que os materiais são caros para você ter algo de qualidade. E quando você ainda consegue isso, você não tem lugares para mostrar o seu trabalho. São poucos festivais, não tem sala de exibição ou alguma plataforma além do YouTube. Então falta sim uma forma para você expor melhor o seu trabalho".
Serviço
Festival Internacional do Documentário Estudantil
07 a 10 de novembro
Curitiba/PR
Inscrições abertas até 1º de agosto
18ª edição do NOIA – Festival do Audiovisual Universitário
22 a 27 de outubro
Fortaleza/CE
Inscrições abertas até 31 de agosto
Reportagem de Caroline Rocha com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira