20/11/18

Existe câncer de próstata em pets?

O câncer de próstata é uma doença silenciosa tanto no homem quanto no cão, o diagnóstico precoce é fundamental para manter a saúde e o bem-estar dos animais (Foto: Reprodução/Internet)

O mês de novembro é considerado o mês mundial da prevenção ao câncer de próstata, conhecido como Novembro Azul. A data instituída no Brasil em meados de 2014 foi criada com o intuito de incentivar a realização de exames periódicos por parte dos homens. A doença é silenciosa no estado inicial e por conta disso afeta muitos homens que não têm o costume de ir ao médico frequentemente.

O que pouca gente sabe é que doenças como essas também atingem os animais de estimação, entretanto os cães da raça Labrador, Pastor Alemão e Doberman com idade superior a cinco ou seis anos são os mais atingidos. De acordo com o Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), aproximadamente 4% dos cães acima dos sete anos desenvolvem a doença.

A médica veterinária, professora universitária e responsável pelo atendimento de clínica reprodutiva do Centro de Atenção à Saúde Animal (Casa), Annice Cortez, explica que a hiperplasia é uma doença prostática não tão grave e a neoplasia é realmente o câncer em si. “O câncer atinge principalmente os homens e os cães. As doenças prostáticas do cão são comuns, mas a neoplasia é rara. No cão a gente tem uma maior ocorrência da hiperplasia prostática benigna”, aponta.

A hiperplasia, considerada uma doença prostática não tão grave, acarreta o crescimento da próstata, mas ela não desencadeia a criação de tumores. A professora Annice Cortez explica porquê os gatos têm menor incidência da doença. “O câncer de próstata é influenciado pelos hormônios sexuais, principalmente a testosterona, e como na nossa região os gatos são castrados muito jovens, e os testículos que são a fonte de testosterona são retirados, então a incidência em gatos é menor”, afirma.

Primeiros sinais

Normalmente, os primeiros sintomas começam a partir dos cinco anos de idade, principalmente em cães que não são castrados. Em torno de 80% dos cães acima de 5 anos podem ser acometidos pela hiperplasia prostática benigna. Embora as outras doenças mais graves como infecções e a presença de cistos seja possível observar em cães de dois ou três anos de idade.

 Segundo a veterinária Annice Cortez, o diagnóstico tem vários passos, desde o exame físico, ultrassonografia, até a avaliação do líquido prostático (Foto: Acervo Pessoal)

Segundo a veterinária Annice Cortez, o diagnóstico tem vários passos, desde o exame físico, ultrassonografia, até a avaliação do líquido prostático (Foto: Acervo Pessoal)

Annice Cortez possui 17 anos de experiência em pesquisas na área de câncer de próstata e explica que algumas alterações no sistema gastrointestinal e urinário, como o crescimento da próstata do cão que comprime o intestino dos animais e a uretra leva o animal a ter dificuldades para defecar e urinar. “Eles sentem dor no momento da eliminação da urina, essa urina pode ter uma coloração avermelhada com a presença de sangue devido às alterações provocadas com o crescimento da próstata, isso também comprime o intestino e impede que o cão possa defecar normalmente”, afirma.

A estudante do 6° semestre de Medicina, Jéssica Kariza passou por situação semelhante com seu cachorro Severino de seis anos. Ela descobriu uma inflamação acidentalmente quando a professora pediu que ela levasse o cão para realizar alguns exames e descobriu que a próstata do animal estava maior do que deveria.  “A professora me aconselhou a castrá-lo, mas preferi não fazer naquela época. Tempos depois, ele apresentou urina com sangue e eu pensei que poderia ser alguma doença renal, levei ao veterinário novamente e após a ultrassom vimos que ele estava com uma inflamação na bexiga”, lembra.

A prevenção é o melhor tratamento

Segundo a veterinária, o diagnóstico tem vários passos, desde o exame físico, ultrassonografia, até a avaliação do líquido prostático. “Após ser encaminhado para o médico veterinário, começa o exame físico do paciente onde o médico faz a palpação retal e também outras avaliações clínicas que vão permitir a identificação do crescimento da glândula prostática”, explica.

Jéssica descobriu o aumento da próstata de seu cão Severino de 6 anos, quando a professora pediu que ela levasse o cão para realizar alguns exames (Foto: Acervo Pessoal)

Jéssica descobriu o aumento da próstata de seu cão Severino de 6 anos, quando a professora pediu que ela levasse o cão para realizar alguns exames (Foto: Acervo Pessoal)

Após a ultrassom de Severino e a constatação da inflamação na bexiga, Jéssica resolveu realizar o exame de urina. “Percebemos que a inflamação não foi causada por alguma bactéria ou microorganismo, mas sim pela inflamação da próstata. A próstata fica localizada próxima a bexiga, com o crescimento da próstata ela comprime a bexiga e acaba inflamando”, explica. Para o tratamento, Jéssica utilizou um inibidor da produção do hormônio da testosterona em Severino. Sem a presença desse hormônio que estimula o crescimento dos testículos, a próstata foi um pouco reduzida e alguns cistos sumiram.

A médica Annice indica que o melhor tratamento em casos de câncer de próstata ou até mesmo para evitar que a doença ocorra é a castração, embora outros tratamentos devam ser utilizados de forma específica caso seja infecção ou cisto. “O tratamento depende do diagnóstico e deve ser acompanhado pelo médico veterinário, o monitoramento no pós-cirúrgico e durante todo o tratamento é fundamental”, explica.

Além disso, ela alerta que o diagnóstico precoce é fundamental para manter a saúde e o bem-estar dos cães. “Devem ser realizados exames periódicos em cães de mais de cinco anos de idade que não são castrados antes do sinais clínicos, o que pode evitar o desconforto e o sofrimento do paciente”, afirma. Jéssica também reforça a importância de ir a fundo nesse processo de investigação através de outros exames. “O câncer de próstata é uma doença silenciosa tanto no homem quanto no cão, descobrindo cedo você pode tratar e evitar que um cisto se torne algo mais grave", ressalta.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal

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