Os rios Ceará e Cocó, que se estendem pela Região Metropolitana de Fortaleza, estão contaminados por agrotóxicos urbanos. Os poluentes são parte dos chamados pesticidas, muito usados no combate a pragas domésticas como formigas, baratas e ratos.
O problema é revelado em uma série de quatro estudos, feitos por pesquisadores do LABOMAR – Instituto de Ciências do Mar da UFC e que também chegam a outros rios do Estado, além do delta do Parnaíba, no Piauí. A pesquisa comprova a poluição na água, nos sedimentos, nos peixes e nos mariscos dos rios.
O material é destaque da Agência UFC como as primeiras pesquisas que atestam a presença de agrotóxicos em animais marinhos. Os estudos tiveram início há 15 anos, com um inventário dos agrotóxicos mais utilizados na área rural do Ceará e a repercussão dessa prática no ambiente.
O projeto se desdobrou na avaliação dos agrotóxicos usados também em área urbana, completa o professor Rivelino Cavalcante, coordenador dos estudos.
"Principalmente nessa parte de jardinagem, doméstico e de saúde pública, ou seja, combate à pragas urbanas. Então, nesses 15 anos, nós temos dados no Rio Potí, no Rio Jaguaribe, no Rio Cocó, no Rio Ceará, no Rio Acaraú e no Delta do Parnaíba, que no caso já é no Piauí. Nós temos praticamente dados em quase todos os principais rios da região que nós conhecemos como semiárido brasileiro."
Os agrotóxicos estudados causam problemas no sistema endócrino-hormonal e no sistema nervoso, com sérias repercussões ao meio ambiente até então pouco reveladas, comenta o pesquisador.
"Essas substâncias podem causar a diminuição da fertilidade e aí a espécie pode entrar em diminuição. O que nos chamou muita atenção é que não existe muitos dados dessas substâncias até em termos de níveis mundiais. O mundo todo usa agrotóxico, mas nós não encontramos muitos dados, isso em organismo como peixe, em sururu e em caranguejo. Talvez seja porque a maioria dos estudos, as pessoas focam nas substâncias que causam câncer."
O professor Rivelino Cavalcante destaca ainda que as substâncias têm vasto uso popular.
"Tanto no combate à pragas de rato, de barata, de formiga, cupim, como também do mosquito da dengue, no caso do fumacê é usado um agrotóxico. Tudo começa pela ausência, que nós temos uma dificuldade muito grande no gerenciamento de resíduo sólido ou líquido, especialmente o líquido, e levando em conta que 40% das doenças são hídricas, elas iniciam na água que não foi muito bem dado um destino."
Para o pesquisador, a ampliação do saneamento básico é fundamental e mais sustentável na prevenção contra as pragas urbanas.
Os detalhes do estudo estão no site da Agência UFC.
Reportagem de Ana Mary C. Cavalcante