Ouça "Mulheres na Ciência: Entrevista com a vice-reitora da UFC, Diana Azevedo" no Spreaker.
"Sempre sonhem muito alto, nunca admitam que alguém lhes diga o que vocês podem ou não podem alcançar dentro de uma carreira científica. Você pode ser uma líder de grupo de pesquisa, você pode ser uma bolsista de produtividade e pesquisa e você pode publicar um artigo como autora principal, ou autora de correspondência em um periódico de altíssimo fator de impacto, você pode fazer a palestra de abertura de um congresso internacional da sua área. Então, nunca admita que alguém lhe diga, inclusive você mesma, que você não pode chegar aonde quiser, dentro de uma carreira científica "
As palavras da vice-reitora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a engenheira química Diana Cristina Silva de Azevedo são encorajadoras neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres. Principalmente num mundo marcado por tantos desafios.
Segundo a UNESCO, Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, apenas 28% dos pesquisadores no mundo são mulheres. Em cursos relacionados a STEM, sigla em inglês em referência às áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, apenas 35% dos matriculados são mulheres, de acordo com dados da ONU Mulheres. No Brasil elas são menos de 25% em ciência da computação e matemática, apesar de serem a maioria com doutorado em diversas áreas.
Parte das dificuldades das cientistas tem a ver com a dupla e, às vezes, tripla jornada enfrentada por elas. Mães de três filhas nascidas em 1994, 2001 e 2003, a professora Diana Azevedo compartilha sua experiência:
"O primeiro desafio como professora e pesquisadora foi ter que conciliar a minha vida doméstica com as demandas a profissão me exigia. Então houve um período da minha vida em que eram necessárias muitas viagens para participação em congressos, para missões em outros estados, para trabalho de comitês e de assessoramento, e eu tive o privilégio, direi assim, de ter uma rede de apoio que pode me permitir ter essa vida."
Membro titular da Academia Cearense de Ciências, a professora é reconhecida pelo interesse em ações afirmativas e políticas públicas que promovam maior equilíbrio de gênero nas carreiras STEM. Nos locais de liderança onde atuou, a engenheira química promoveu ações nesse sentido:
"Dentro do que é o centro de tecnologia, do qual eu fui vice-diretora por quase oito anos e diretora por um curto período, nós iniciamos um processo de empoderamento, eu utilizaria essa palavra, das estudantes que eram minoria e que estavam nos cursos de engenharia. Então nós passamos a celebrar o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, que é o dia 23 de junho, todos os anos, trazendo pautas como assédio, a presença dos homens como aliados, como é que nós podemos ser gestoras e líderes dentro de carreiras chamadas carreiras STEM. A partir daí, as meninas começaram ver exemplos de pessoas que conseguiram chegar lá."
Agora integrando a administração superior da universidade, a professora Diana explica que está em gestação dentro da Divisão de Equidade, Diversidade e Inclusão recentemente criada, políticas de letramento, como por exemplo, o incentivo a sempre que se formar uma comissão na Instituição ter-se o cuidado do equilíbrio de gênero:
"Nós estamos tentando também, e esse será provavelmente a primeira experiência junto aos setores empresariais, ao setor industrial, fornecer oportunidades, ações afirmativas pra estágios, por exemplo, de meninas nessas áreas em que elas são minoria. Então, em breve, a gente deve lançar, em parceria com a ArcelorMittal, um estágio em engenharia exclusivamente para mulheres. Muito provavelmente, a gente vai revisitar também a nossa resolução de progressão funcional de professores, e colocar ações afirmativas para dar equidade a professoras que tem filhos e que normalmente tem um decréscimo de produção durante aquele período, aqueles dois anos em torno do nascimento do seu filho."
A vice-reitora considera ainda poderosa a medida implementada pela UFC que permite as estudantes mães com filhos até seis anos de idade, levarem as crianças ao Restaurante Universitário para se alimentar gratuitamente. A ciência não tem gênero e um pouco mais de respeito fará com que mais meninas e mulheres ingressem nas carreiras científicas.
Síria Mapurunga para a Rádio Universitária FM