01/06/18

Entenda as diferenças entre monarquia e república

Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito por voto popular após a redemocratização. A posse aconteceu em 15 de março de 1990 (Foto: Reprodução/Internet)

O casamento do príncipe Harry com a atriz americana Meghan Markle trouxe à tona a discussão da existência de famílias reais ao redor do mundo. Ao todo, 28 países ainda possuem o sistema de governo regido por monarcas, como a Espanha, Suécia e Malásia.

Mas afinal, por que em alguns lugares ainda existem reis e rainhas? O que dizem aqueles que defendem a volta do regime monárquico no Brasil? A professora Valéria Aparecida Alves do Departamento de História da Universidade Estadual do Ceará explica porque a monarquia é tão forte em alguns países no Reino Unido:

"Tem a questão da tradição e isso é muito forte. Há uma questão da figura da monarca, apesar das polêmicas que existem em torno da rainha Elizabeth. Embora não haja uma unanimidade ela tem uma popularidade, tem o respeito da população e, principalmente, essa monarquia inglesa consegue se reinventar. Quando parece que ela vai sucumbir, ela se renova. Por exemplo, o próprio casamento do príncipe Harry atraindo a mídia do mundo inteiro, a maneira como esse casamento é apresentado, um casamento multiétnico pela primeira vez, uma mulher desquitada, negra, norte-americana chega na Família Real."

Em relação ao Brasil, a monarquia chegou ao fim com a Proclamação da República no dia 15 de novembro de 1889. Atualmente existe uma onda crescente de vários grupos e associações que reivindicam a volta da família real brasileira Orleans e Bragança ao poder.

Segundo a professora Valéria Aparecida Alves, o casamento do príncipe Harry com a atriz Meghan Markle é um exemplo de como a monarquia britânica se reinventa (Foto: Damir Sagoji/Reuters)

Segundo a professora Valéria Aparecida Alves, o casamento do príncipe Harry com a atriz Meghan Markle é um exemplo de como a monarquia britânica se reinventa (Foto: Damir Sagoji/Reuters)

O Círculo Monárquico de Fortaleza é um grupo que defende os valores cívicos e morais da monarquia há 29 anos. O presidente da organização Juvenal Arruda Furtado considera a Proclamação da República um golpe que impediu o Brasil de se tornar uma das maiores potências mundiais atualmente:

"A monarquia é uma forma de governo que garante o que república nenhuma garante que é a unidade, a estabilidade e a continuidade. Nós mesmos estamos vivenciando há uma semana uma crise política e institucional terrível, um governo fraco, incompetente que não sabe como resolver e entrou numa situação como se diz na gíria, numa sinuca de bico."

Juvenal Arruda ainda afirma, com convicção, que a instauração do regime monárquico deve reduzir gradativamente a corrupção.

"O monarca, o imperador por ele não pertencer a um partido político, por ele ser suprapartidário, por não depender de grupos econômicos, ele fica acima dos partidos políticos, acima dos três poderes, ele fica isento, não deve favor a ninguém a não ser a nação. Ele depende da nação, o compromisso do imperador é com a nação, é com o povo."

Para a professora Valéria Alves, diversos grupos se organizam com menor ou maior intensidade reivindicando a volta do regime monárquico desde 1889. Sobre a ideia de que monarcas não poderiam ser corruptos, a professora discorda.

"No caso a corrupção, ela está presente tanto nos regimes monárquicos como republicamos, infelizmente. A corrupção tem a ver com as ações, as práticas dos sujeitos, que não se refere exclusivamente a um sistema político, infelizmente. Então, eu não vejo nesse sentido nenhuma vantagem da monarquia em relação a república."

Mrechal Deodoro da Fonseca proclamou a república em 1889 (Retrato: Ernesto Cesar Novak)

Mrechal Deodoro da Fonseca proclamou a república em 1889 (Retrato: Ernesto Cesar Novak)

Alguns jovens também defendem os valores patriotas, é o caso de Mateus Matos Dantas, colaborador do Grupo de Estudos Veritas. Embora o grupo não apoie formalmente a monarquia, o estudante afirma que todos os membros têm liberdade de expor as ideias nas reuniões. Mateus Matos Dantas defende a volta da monarquia parlamentar, sistema de governo semelhante ao do Reino Unido:

"De uma forma ou de outra, nós vamos ter que eleger um poder perene. Resta saber se as pessoas vão querer ideólogos e ideologias ou um rei. A principal diferença disso nós vemos nas figuras que ilustram esses tipos. Na ideologia nós estamos vendo o Fernando Henrique Cardoso, o Lula. O Lula no caso é um semianalfabeto, Fernando Henrique Cardoso apoia ditaduras como a ditadura cubana. No intermédio disso nós temos a monarquia parlamentarista, temos o Dom Bertrand que é um homem muitíssimo erudito, conhece a história do Brasil de cabo a rabo, é poliglota, é um exemplo de patriota."

Já a professora da UECE Valéria Alves defende a república e o seu caráter de representatividade popular.

"Quando você tem a representação pelo voto, uma escolha feita pela participação popular, aí já está a primeira vantagem. A monarquia é um regime cuja sucessão é hereditária, você não tem participação nessa escolha. Então, para mim, isso já é uma desvantagem."

Assim como a professora Valéria Alves, muitas pessoas pelo mundo também apoiam a república. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, na Espanha, regida pelo rei Filipe VI, 37% dos cidadãos são favoráveis à abolição da monarquia.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal

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