Em apenas um mês, o número de casos de Covid-19, entre os povos indígenas do Brasil, triplicou. E o número de mortes quase dobrou no mesmo período. Já são mais de 14 mil indígenas infectados com o novo coronavírus e 256 mortes registradas, oficialmente, pelo Ministério da Saúde.
A situação é ainda mais grave no levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Até o último dia 26 de julho, eram quase 19 mil indígenas infectados, 582 mortes contabilizadas e 145 povos afetados pelo novo coronavírus. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, os dados oficiais são subnotificados porque só consideram os casos em terras indígenas homologadas.
No Ceará, já são 401 casos confirmados e cinco mortes, segundo o último levantamento da instituição. Nesse cenário, o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Ceará e comunidades indígenas do Estado lançam a campanha Índigenas sem Covid. A campanha reforça informações de prevenção ao novo coronavírus.
Em vídeos, lideranças indígenas das etnias Tremembé, Jenipapo-Kanindé e Tapeba reforçam as orientações sanitárias de manter o distanciamento social e usar máscaras. A procuradora da República Nilce Cunha orienta sobre a necessidade de proteção das aldeias do Ceará neste momento de flexibilização do isolamento social:
"A Constituição Federal assegura o respeito à cultura dessas populações e nosso esforço é pela garantia de todos os direitos dos povos indígenas. Precisamos agora, mais que nunca, da colaboração de todos para que sejam cumpridas, rigorosamente, as medidas sanitárias de proteção e prevenção ao novo coronavírus dentro das aldeias do Ceará".
O Ceará tem 15 povos indígenas registrados, destaca o procurador-geral de Justiça Manuel Pinheiro. Estudos demonstram que são populações mais vulneráveis a novas doenças, como a Covid-19. O procurador-geral de Justiça pede a colaboração do Estado e dos cidadãos no reforço às medidas de segurança contra a disseminação do novo coronavírus entre os povos indígenas:
"Precisamos que o Estado reforce a vigilância e precisamos, principalmente, que as pessoas que interagem com os povos indígenas, que as pessoas que entram e que saem das aldeias cumpram rigorosamente as medidas sanitárias em distanciamento social. Nesse momento, eu sei que isso não faz parte da cultura dos povos indígenas, mas eu quero pedir aos moradores das aldeias que usem máscara, evitem aglomerações, enfim, que tomem todos os cuidados para não espalhar os vírus nas aldeias."
Reportagem de Ana Mary Cavalcante