No dia 8 de setembro é comemorado o Dia Internacional da Alfabetização. A data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1967, tem o objetivo de incentivar a alfabetização em vários países. De acordo com a pesquisa realizada pela ONU, 84% da população mundial está alfabetizada.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil ainda existem 11, 8 milhões de analfabetos. A concentração está na população com 60 anos ou mais e na região Nordeste, especialmente no interior. Especialistas apontam que “não ser alfabetizado significa não exercer a plena cidadania dentro do país, do estado ou da comunidade”.
A professora do Curso de Letras da UFC, e que atuou como coordenadora adjunta do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), Mônica Serafim, aponta as principais dificuldades no processo de alfabetização:
“É a falta de apoio e a participação efetiva da família dessas crianças, muitas vezes as crianças tem dificuldade de se alfabetizar, mas elas não têm em quem se apoiar. Uma outra dificuldade seria o grande número de alunos em sala de aula, uma sala de aula com mais de 25, 30 alunos para um professor alfabetizar é algo triste, é algo reprovável. Uma terceira dificuldade seria a falta de apoio pedagógico do professor. Nossos professores têm metodologias inovadoras, eles sabem fazer muito bem feito essa tarefa de alfabetizar, mas muitas vezes eles esbarram na falta de apoio pedagógico mesmo”.
A metodologia utilizada nas escolas segue o modelo tradicional em que o foco é a codificação e a decodificação do sistema de escrita. Mas já existem escolas que adotam o modelo de uma alfabetização mais lúdica em que o aluno aprende brincando. Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional, aumentou o número de brasileiros que chegam ao ensino médio, mas se manteve o percentual de 29% dos que são analfabetos funcionais.
O analfabetismo funcional é a incapacidade de compreender textos e operações matemáticas simples. O indivíduo tem dificuldade de interpretar informações. A escala do alfabetismo está dividida em cinco graus: analfabeto, rudimentar, elementar, intermediário e proficiente.
Em 2018, o Instituto Paulo Montenegro mostrou que 29% dos participantes foram considerados analfabetos funcionais, 8% no nível de analfabeto e 22% com o nível rudimentar. A professora Mônica Serafim explica a questão no analfabetismo funcional:
“Parece que assim, quanto mais a escolarização avança, mais o texto tem que ser difícil, tem que ser complexo, tem que ser um pouco distante da realidade do aluno para poder ser mais difícil, o que é um ledo engano. Na verdade, a questão do analfabetismo funcional, é porque a gente ao longo desse período de escolarização o que a gente vê muitas vezes nas escolas é um combate que estamos tentando fazer na formação de professores, tanto [educação] inicial como continuada, são as atividades de leitura com textos mais funcionais, textos que façam parte da realidade desse aluno”.
Adriana Limaverde é professora da Faculdade de Educação da UFC e pesquisadora na área de alfabetização e educação especial. Ela aponta o método de ensino dos alunos como um dos fatores que causam o analfabetismo funcional:
“Se esse professor baseia o seu ensino numa compreensão de que uma língua é um código a ser aprendido, com certeza isso já demonstra que essas crianças serão alfabetizadas numa perspectiva muito mecânica. E essa perspectiva mecanicista ela vai interferir diretamente na compreensão”.
Adriana Limaverde reforça que ler e escrever não devem ser consideradas atividades meramente escolares. Ela ainda cita problemas na formação dos professores e na utilização de práticas mecanizadas:
“A pessoa já compreende essa composição e decomposição das palavras, às vezes é capaz de decodificá-la, mas ao final não compreende. Então, a questão da compreensão e da interpretação tem relação diretamente com a concepção de leitura e escrita do professor que vai incidir sob a sua prática”.
Mesmo com o crescente índice de alfabetização no Brasil, três em cada dez brasileiros com mais de 15 anos têm dificuldades para ler, escrever ou fazer contas cotidianas. Em 2017, a pesquisa do IBGE apontava o Ceará como o quinto estado do País em analfabetismo.
Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal