Compreender de maneira profunda e plural as dinâmicas e os efeitos psicossociais da violência em Fortaleza é tema sobre o qual o VIESES tem acumulado experiência acadêmica e política. O VIESES é o Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação, vinculado ao Departamento de Psicologia e ao Programa de Pós-Graduação de Psicologia da UFC.
Este ano, o grupo lançou a coletânea Violências, Desigualdades e (Re)existências: cartografias psicossociais, fruto da junção de pesquisas e ações de extensão desenvolvidas entre 2015 e 2020. O coordenador do VIESES, professor João Paulo Pereira Barros, detalha o que a publicação oferece às leitoras e leitores interessados no assunto:
"Ela traz uma discussão e uma partilha de experiências de pesquisa e de intervenção em torno das temáticas da violência, da desigualdade e das resistências que populações em contextos de periferia urbana tem produzido a essas dinâmicas de violência e desigualdade. (…) Os efeitos psicossociais dessa violência, como essas violências atuam nos modos de viver das pessoas, como elas produzem subjetividades. E como também as pessoas resistem, enfrentam, não sucumbem a essa violência, existem e se constroem subjetivamente também na luta contra essas dinâmicas de desigualdade e de opressão."
As pesquisas começaram na Barra do Ceará e se estenderam para o Grande Jangurussu, Grande Bom Jardim, Vicente Pinzón, Titanzinho e Mondubim. A partir da escuta e do diálogo com os moradores, movimentos e entidades sociais desses territórios, as pesquisas ajudaram a produzir intervenções de enfrentamento e resistência à violência.
A produção de conhecimento que está na coletânea é fruto dessa rede de articulação e troca de saberes que se faz nos territórios, e que congrega pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas, dentro e fora da UFC.
Para contribuir com a compreensão de um assunto tão complexo, a coletânea mergulhou em três grandes temas: Violências no Brasil - abordando as continuidades históricas e as especificidades do cenário atual; Segurança Pública - trazendo experiências de articulações da sociedade civil, como o movimento Cada Vida Importa e o Fórum Popular de Segurança Pública; e por último, as reflexões teórico-metodológicas desenvolvidas ao longo dos processos de pesquisa-intervenção do VIESES.
É neste ponto onde o grupo percebe ter acumulado os maiores aprendizados para a sua própria atuação.
"Eu acho que nós diversificamos os nossos referenciais teóricos e passamos a olhar a violência também a partir de lentes teóricas produzidas no Brasil, no contexto latinoamericano, e também que tematizam as relações raciais, especialmente o racismo, a branquitude, como ele perpetua violência e desigualdades, mas também as insurgências coletivas que as diversas periferias do mundo vão produzindo também para enfrentar a violência; inclusive no que a violência tem de silenciamento das outras produção de conhecimento."
João Paulo Barros se refere àqueles produzidos nas periferias pelos diversos coletivos e movimentos. São esses conhecimentos que têm alimentado teórica e politicamente o VIESES, fruto do diálogo da academia com a sociedade na forma participativa de fazer pesquisa.
Para conhecer melhor o trabalho do VIESES, o grupo está no instagram @viesesufc. Na bio do perfil você encontra a coletânea em formato e-book.
Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.