19/11/24

Agora a rainha é doutora!

No dia 15 de novembro de 2024, a cantora Maria Bethânia recebeu o título de Doutora Honoris Causa na Concha Acústica da UFC (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

Rafael Santana
Especial para a Rádio Universitária FM 107,9

Era tarde de sexta-feira, feriado da Proclamação da República. A Concha Acústica e os arredores da Reitoria estavam agitados. Um momento único estava prestes a acontecer.

Diversas pessoas, com peculiaridades distintas, chegavam, e dava para sentir a ansiedade no ar. Fofocas, burburinhos, comentários e até falácias eram proferidos. Mas a pergunta era sempre a mesma: “Cadê ela?”

Ela, filha de Iansã, devota de santos católicos e conhecida como “Rainha da MPB” e “Abelha Rainha”, chegou por volta das quatro e meia da tarde. Já estava lá! Acredito que também ansiosa, mas feliz, feliz por saber o valor do título que iria receber.

Maria Bethânia Viana Teles Veloso foi uma das 100 personalidades a receber o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará. Não havia como negar: a UFC e a capital cearense estavam em festa. Todos sabiam que ela merecia.

Maria Bethânia em seu cortejo enquanto Luiza Nobel cantava “Carcará” (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

Maria Bethânia em seu cortejo enquanto Luiza Nobel cantava “Carcará” (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

Prestes a completar 60 anos de carreira, Maria Bethânia é mais que música: é poesia. Os versos declamados, as conquistas, o sorriso, sua energia, sua vida, tudo isso parece uma grande prosa que ecoa por todo o Brasil. Sua contribuição para nossa cultura é inquestionável.

Esse reconhecimento foi aprovado pelo Conselho Universitário em março deste ano, justificando-se pelo fato de que "a artista jamais se eximiu de defender e de pôr em discussão Brasis encobertos pela violência e pelos ‘podres poderes’. Em décadas de carreira, tem cantado as subjetividades de um país complexo, negro e indígena, belo e misterioso, revelando as potências do povo brasileiro em meio à diversidade de etnias, biomas, paisagens, espiritualidades, tradições, mostrando-nos que há muitas formas de lutar, amar e autoinscrever-se na história".

Já tinha escurecido, os bancos estavam lotados de fãs e admiradores da cantora. Pessoas de todas as idades, de diferentes gerações. A imprensa não podia faltar. E, para confirmar ainda mais a grandiosidade do momento, figuras políticas como o Ministro da Educação e o Governador do Estado marcaram presença.

A entrega do título, a “maior honraria da UFC”, seguiu vários ritos, como o cortejo das autoridades e de Bethânia, por volta das 18 horas. Apresentações musicais, homenagens e projeções resgatando momentos marcantes de sua trajetória completaram a programação.

Foi um verdadeiro espetáculo!

O espetáculo de projeções trazia referências imagéticas alusivas à trajetória da artista (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

O espetáculo de projeções trazia referências imagéticas alusivas à trajetória da artista (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

O branco era uma cor marcante, seja nas roupas do público, que lembravam a artista, ou nas fardas que diversos estudantes e servidores da UFC usaram para criar um espaço de união, abrindo caminho para Bethânia passar.

O ápice da noite foi quando o reitor da UFC, Custódio Almeida, entregou a ela as vestes talares ou vestes doutorais. Quando chegou o momento de lhe entregar o capelo, símbolo doutoral, ele deixou que ela mesma o colocasse, proferindo a seguinte frase: “Uma rainha se coroa a si mesma.”

Em seu discurso, repleto de felicidade e gratidão, Bethânia rememorou momentos de sua trajetória que a aproximaram da universidade e da educação. Homenageou o Ceará, mencionando figuras importantes de nosso imaginário, como a escritora Rachel de Queiroz, os poetas Patativa do Assaré e Cego Aderaldo, e a socióloga Violeta Arraes.

O clima já era de encerramento, mas todos, inclusive eu, ainda estávamos hipnotizados por essa figura majestosa. Surpreendendo a todos, antes de finalizar sua fala, Bethânia soltou a voz com "O Que é, o Que é?", do grandioso Gonzaguinha. E assim se encerrou um dos maiores acontecimentos nesses 70 anos da UFC. Viva a cultura brasileira!

Deixo agora com vocês um dos trechos do discurso de Bethânia:

“Estou aqui, em primeiro lugar, como mulher, e digo isso a fim de marcar essa necessidade sempre urgente de ampliar o lugar das mulheres na sociedade civil brasileira. E mais, estou aqui como trabalhadora: como uma das muitas trabalhadoras desse imenso, formidável e difícil País. Mas falo a partir de um lugar específico: a música popular.”

Maria Bethânia

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