As características físicas e o comportamento mecânico de células vivas podem explicar como elas atuam biologicamente no organismo. Um estudo desenvolvido no Laboratório de Física Biológica da Universidade Federal do Ceará está ajudando a compreender esta relação. A pesquisa foi publicada no periódico Scientific Reports da revista Nature e vem chamando a atenção da comunidade científica internacional. O artigo é um dos 100
trabalhos mais lidos de 2020 da área de física da revista.
Um dos professores responsáveis pelo trabalho é Cláudio Lucas Nunes de Oliveira, do Departamento de Física. Em entrevista para a Agência UFC, o professor afirmou que a descoberta pode abrir caminho para formas de controlar doenças como o câncer. O estudo analisou doze diferentes linhagens celulares, com foco nas cancerígenas humanas, como as de próstata, cólon e gástrico. Todas as células tiveram o mesmo padrão de comportamento nas suas respostas mecânicas.
Isso quer dizer que pode ser possível futuramente pensar em métodos que determinem o funcionamento das células a partir de intervenções bioquímicas. Elas mudariam as suas propriedades mecânicas e, consequentemente, a forma como agem no nosso organismo.
Outra pesquisa desenvolvida na UFC já havia constatado que células cancerígenas possuem menor rigidez, o que explica a sua facilidade de se locomover pelos vasos sanguíneos, atravessar as paredes dos vasos e se instalar em novos órgãos. Caso seja possível intervir em suas capacidades mecânicas, pode ser desenvolvido um
tratamento que impeça a metástase destas células.
Os pesquisadores observaram fatores como viscoelasticidade e tempo de resposta para entender justamente as ações e a capacidade das células de migrarem e serem invasivas. Outra porta que se abre com esta pesquisa é que sejam feitas análises com outras linhagens de células para descobrir se o padrão de comportamento mecânico se
mantém ou se há comportamentos distintos.
Participaram do estudo pesquisadoras e pesquisadores dos Departamentos de Física e Bioquímica e Biologia Molecular, e do Núcleo de Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, além de colaboradores do Instituto de Biofísica da Universidade de Bremen, da Alemanha, e do Núcleo de Biologia Experimental da UNIFOR - Universidade de
Fortaleza.
Com informações da Agência UFC, Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.