10/09/20

A trajetória de uma pesquisa científica

Grande parte das pesquisas publicadas no Brasil correspondem à área das Ciências Naturais (Foto: Pixabay)

Em junho de 2020 começou a ser testado em pacientes com Covid-19 o Elmo: capacete de respiração assistida, um incentivo do governo do estado do Ceará elaborado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e outras instituições. O capacete funciona como uma aparelho de respiração assistida não invasivo, que substituirá a necessidade do paciente ser entubado, além de prevenir a contaminação dos profissionais de saúde. Sendo aprovado, o Elmo poderá ser produzido em larga escala e ajudar no tratamento de dezenas de enfermos.

Mas para que projetos e pesquisas, como o Elmo, cheguem a sociedade, precisam passar por um longo processo, cheio de etapas, e que precisa ter capacidade de ser reproduzido por qualquer pesquisador, e publicados em forma de artigo científico: Textos que explicitam uma pesquisa científica. Segundo o Web of Science, site que fornece dados abrangentes de pesquisas feitas em todo o mundo, de agosto de 2019 até agosto de 2020, foram produzidos, ao todo, 131.150 artigos científicos no Brasil. 

O primeiro passo é definir um objetivo, o tema da pesquisa, como explica o professor do departamento de física da UFC, Antonio Gomes: “A busca pelo entendimento nos faz elaborar perguntas que não sabemos as respostas. É a partir das perguntas formuladas que avançamos para o próximo passo que consiste em definir como as respostas serão construídas”.

A definição dos caminhos adequados para obter essas respostas é a metodologia, que pode ser elaborada de diversas formas, dependendo da área do conhecimento e do que se deseja encontrar. Para o professor Antonio Gomes, é necessário que a metodologia escolhida seja reproduzível e neutra. "É a parte mais importante de uma pesquisa, principalmente quando o objeto de estudo é complexo e tem muitas variáveis que influenciam o resultado. É por essa razão que o método científico é central nesse processo para que o resultado obtido seja imune à preferência do cientista”, destaca. 

A coordenadora de pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UFC, Geanne Matos, acrescenta que o método científico “é um conjunto de regras básicas para realizar uma experiência, protegendo o pesquisador da subjetividade e impedindo que a pesquisa seja questionada de forma negativa". 

Após a pesquisa e o artigo estarem concluídos, eles podem ser publicados em revistas científicas ou ser apresentados em congressos. Esse processo é fundamental para a divulgação científica. “Na pesquisa, a publicação é muito importante, não adianta fazer descobertas relevantes e não mostrar os resultados para a comunidade acadêmica e para a sociedade”, afirma a professora Geanne Matos.

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Um artigo publicado em uma revista se torna permanente e só é alterado caso sua metodologia seja refutada (Foto: Pixabay)

As revistas científicas são diferentes das informativas, que podem ser encontradas em bancas de jornais. Nas científicas, após o pesquisador submeter o artigo em uma revista, este passa por um processo de revisão, no qual outros pesquisadores especializados no tema vão, de forma anônima,  fazer comentários e apontar o que deve ser esclarecido ou corrigido, contribuindo para a qualidade do trabalho. 

Essas ações de divulgação científica também são importantes para aqueles estudantes que desejam seguir carreira acadêmica, cursar mestrado, doutorado ou serem professores, como coloca a coordenadora de Pesquisa da PRPPG da UFC, Geanne Matos. “A apresentação de trabalhos em eventos científicos nacionais ou internacionais e a publicação dos resumos em anais do evento é uma ótima porta de entrada para estudantes que querem iniciar carreira no meio acadêmico”, pontua.

Segundo dados coletados pela Clarivate Analytics, no sistema Web of Science, no período de 2011 a 2016, 95% das publicações tem origem nas universidades públicas, predominando pesquisas correspondentes a agricultura, medicina e saúde, física e ciência espacial, psiquiatria, e odontologia. Esses dados dão ao Brasil a 13ª posição de 190 países em quantidades de pesquisas.

O professor Antonio Gomes, que também é responsável pelo Cientista Chefe, principal programa de auxílio à pesquisa e inovação da Funcap, ainda ressalta a importância de incentivar a pesquisa em todas as áreas do conhecimento. “As ciências exatas, biomédicas, biológicas e as engenharias têm aplicações facilmente materializadas no dia das pessoas. Por outro lado, são os desenvolvimentos das ciências humanas e sociais que nos permite entender o comportamento dos indivíduos e da sociedade. Portanto, o mais importante é sempre incentivar a boa ciência!", declara. 

Reportagem de Beatriz Gonçalves com orientação de Fabrício Girão e Igor Vieira

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