Ficar em casa, sair com máscaras, lavar bem as mãos. Você deve ter escutado essas recomendações nas últimas semanas e, certamente, elas vieram de algum meio de comunicação, seja ele rádio, TV ou internet. A informação é fundamental para se proteger da Covid-19. Buscar saber como se prevenir e se há alguma vacina no horizonte se tornou hábito para muitos de nós. Os meios de comunicação são nossos aliados em tempos de pandemia.
“O papel dos meios de comunicação nesta pandemia é o de fazer a divulgação das boas práticas e de colocar em xeque aquilo que está equivocado”, destaca o professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Luiz Ferrareto. Doutor em Comunicação e Informação, o professor Ferrareto coordenou, em parceria com Fernando Morgado, professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), um grupo de pesquisa de estudiosos da área para desenvolver o e-book Covid-19 e Comunicação: um guia prático para enfrentar a crise. A obra tem a finalidade de melhor orientar os profissionais de comunicação durante a pandemia.
Luiz destaca que a importância dos meios profissionais de comunicação é ainda maior em um contexto no qual as informações passadas por instituições governamentais são desencontradas e conflitantes. O professor observa que não há uma estratégia de combate ao vírus que una as três esferas de governo, resultando em planos divergentes de comunicação no País, nos estados e nos municípios.
“Cada município, cada governo estadual tem a sua estratégia. O que não tem é algo unificado. Está dando certo a estratégia de comunicação global, porque as pessoas estão com medo, e aí vai depender também da comunicação profissional dos veículos. Eu acho que a comunicação profissional conseguiu compensar a falta de uma política mais ordenada, mais unificada por parte do Governo Federal, que também se reflete na comunicação deste”, analisa o professor.
Comunicação para todos
Não só os meios tradicionais estão fazendo a diferença no papel de levar a informação necessária para enfrentar o novo coronavírus. Há quem aposte em outros métodos para que mais pessoas fiquem informadas. O professor e pesquisador Hugo Fernandes tem uma presença relevante nas redes sociais. Para os milhares de seguidores em suas redes, Hugo leva conteúdo de divulgação científica em uma linguagem mais acessível, característica de outros influenciadores da internet. “O que nos diferencia é nós termos a linguagem mais adaptada a diferentes tipos de público”, explica o professor. Biólogo e docente da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Hugo Fernandes dirige o Science Vlogs Brasil, uma organização que envolve 60 canais de divulgação científica no YouTube, entre eles o canal do médico Dráuzio Varela e do cientista Átila Iamarino.
O biólogo percebeu um maior engajamento em seus posts nos últimos dias. “Eu acho que é até um tanto quanto esperado, uma vez que estamos em uma pandemia e, se existe uma forma da gente sair dessa ou de a gente estabelecer planos de mitigação em relação a essa doença, a melhor resposta possível é a ciência”, reflete. O professor ressalta a importância de cientistas e especialistas que sejam criadores de conteúdo digital de divulgação científica. “Temos um contato direto, basicamente, sem intermediários, em relação ao que é produzido cientificamente. Nós, divulgadores científicos, quando estamos analisando aquele artigo que acabou de sair, em pouquíssimos passos, a gente consegue saber se é isso mesmo, se já tem alguém colocando alguma controvérsia”, explica.
Uma comunicação direta e próxima do público tem sido o diferencial, nesta pandemia, das chamadas mídias contra-hegemônicas, termo usado por Helena Martins para definir aqueles veículos que são frutos da intervenção da sociedade civil na esfera comunicacional. Doutora em Comunicação e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Helena pesquisa sobre as mídias hegemônicas (representadas por grandes empresas) e contra-hegemônicas e faz uma análise do papel destas últimas na atual pandemia. “As mídias contra-hegemônicas têm cumprido esse papel de trazer à tona realidades específicas e muito importantes de serem observadas, como a realidade das periferias, e também o aprofundamento. Publicação de textos, produção de podcasts, que tentam ampliar o olhar sobre o problema que a gente vivencia, tentando contextualizá-lo com o modo de vida global”, observa a professora.
Helena sublinha a importância de mídias que estejam mais próximas das comunidades. “Você tem uma série de comunicadores das periferias produzindo conteúdo, articulando-se em rede para ampliar a difusão, visualizando os problemas específicos, apresentando reivindicações próprias dessas comunidades”.
Informar-se bem é fundamental sempre. Informar-se bem, diante de uma doença pouco conhecida, pode ser um ato que salvará muitas vidas.
Reportagem de Gustavo Castello com orientação de Síria Mapurunga e Igor Vieira