23/07/24

Emicida se despede de AmarElo junto de Fortaleza

No último sábado, 20 de julho, Emicida subiu ao palco do Iguatemi Hall para a despedida da turnê AmarElo - A Gira Final (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Júlia Vasconcelos
Especial para a Rádio Universitária FM

Foi em solo fortalezense que Emicida concluiu a travessia da turnê AmarElo - A Gira Final. No último sábado, 20 de julho, o artista subiu ao palco do Iguatemi Hall ao lado de nove talentosos músicos, todos vestidos em tons terrosos, para o último show da turnê de despedida de “AmarElo” (2019). O álbum foi o último lançado por Emicida e apresentou ao mundo a encruza entre rap e neo-samba criada pelo artista.

“Obrigado, Fortaleza! Nosso último show da turnê ‘AmarElo - A Gira Final’ não poderia ter sido de nenhuma outra forma senão com vocês”, declarou Emicida em suas redes sociais. A legenda acompanhava o vídeo de um momento inicial do show. Enquanto tocava a flauta de A Ordem Natural das Coisas”, segunda música do setlist, a emoção transbordava por trás dos seus óculos escuros amarelos.

Com sua folha de arruda atrás da orelha e um cenário que remetia a janelas de catedrais, Emicida entregou uma experiência quase espiritual. Depois da segunda música, a força dos aplausos e gritos do público tomou conta do espaço. Ele ria como quem se pergunta o que fez para ser ovacionado ou talvez sem entender a própria emoção. Afinal, o show tinha apenas acabado de começar.

Emicida também tocou canções de outros artistas, como “Carinhoso”, de Tom Jobim, e “A Amizade”, do grupo Fundo de Quintal (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Emicida também tocou canções de outros artistas, como “Carinhoso”, de Tom Jobim, e “A Amizade”, do grupo Fundo de Quintal (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Consagrado como um dos maiores nomes da música brasileira na atualidade, a reputação de Emicida o precede. Mas a sua Gira Final mostra que o trabalho do artista não se sustenta só com reputação. Com o público demonstrando o quanto queria vê-lo, ele só se deu conta de que não havia o cumprimentado adequadamente depois de 50 minutos de show. “Agora que eu lembrei que eu não dei nem boa noite pra vocês”, brincou, deixando nítido que a emoção bagunçou um pouco o protocolo.

“AmarElo”, penúltima faixa do álbum homônimo, foi um dos momentos mais marcantes do show. Lançada em um contexto político apropriado para trazer Belchior de volta, é fato que a canção caiu nas graças do público. Mas ouvi-la ao vivo, com o público cantando em uníssono e jogando as mãos para o alto em sincronia, concretiza sua força de ser. Na ausência de Majur e Pabllo Vittar, que cantam na gravação original da música, a presença de Mateus Fazeno Rock nesse momento trouxe um brilho especial ao espetáculo.

Depois de cantarem a canção “AmarElo” juntos, Emicida cedeu o palco ao cantor fortalezense. Mateus aproveitou o espaço para cantar seu último single, “Madrugada”. Na sequência, Emicida elogiou o cantor e também exaltou Matuê, outro artista de Fortaleza que tem ganhado o Brasil. Ele se perguntou como continuaria seu trabalho depois de Mateus Fazeno Rock e arrancou risos do público, mas logo encontrou seu prumo. A essa altura, a apresentação contida do início não tinha mais vez. O show foi longo, mas a duração estendida permitiu a construção de um setlist para ninguém botar defeito. Uma despedida digna.

Emicida recebeu no palco o artista cearense Mateus Fazeno Rock (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Emicida recebeu no palco o artista cearense Mateus Fazeno Rock (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Nenhuma faixa de AmarElo ficou de fora do espetáculo, mas músicas do “Emicida do Velho Testamento”, como dizem internautas por aí, também tiveram seu espaço. Elas fizeram alguns dos momentos de maior destaque do show. A aceitação do álbum de 2019 era óbvia pelos coros notáveis, mas “Bang!”, “Levanta e Anda” e “Hoje Cedo”, por exemplo, renovam sua potência inegável quando encontram o público.

Levanta e Anda é uma dessas canções inegociáveis de um artista. Fez um dos pontos altos do show e coube como uma luva no espetáculo. A letra já nos dava um vislumbre do Emicida de AmarElo. Sua caneta incendiária já destilava esperança lá em 2013. Hoje, mesmo em uma atmosfera mais solar, sua boca não hesita em proclamar em alto e bom som: “minha caneta tá f****** com a história branca, e o mundo grita ‘não para, não para, não para’”.

Libre” foi tocada no segundo momento da apresentação. Depois de “Principia”, quando Emicida desce do palco e cumprimenta o público de perto, todos os músicos se retiraram de cena. A falsa despedida enganou poucas pessoas. Quando voltaram ao palco, músicas dançantes como “A Chapa É Quente fizeram companhia a “Libre”. Por fim, “Passarinhos encerrou o show em clima de leveza em uma sequência de reggae (até “Here Comes The Sun”, dos Beatles, entrou na onda).

Emicida batia no peito várias vezes ao longo do show, em um gesto de profunda gratidão ao público (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Emicida batia no peito várias vezes ao longo do show, em um gesto de profunda gratidão ao público (Foto: Julio Benedito @julioproduz)

Teria sido especial terminar o show cantando “tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis”, mas, surpreendentemente, “Passarinhos” se tornou um dos momentos mais bonitos do espetáculo. E olha que não faltaram momentos emocionantes nessa imersão à carreira de Emicida – os olhos marejados que fitavam o palco não negam.

O dueto originalmente gravado com Vanessa da Mata virou uma colaboração coletiva entre Emicida e o público. O artista brincou de maestro, coordenando as vozes da plateia, que tinha o refrão na ponta da língua. Mais baixo, mais alto, lado esquerdo, lado direito, todo mundo em harmonia: “...soltos a voar, dispostos a achar um ninho. Nem que seja no peito um do outro”.

A visão de todos com os braços coreografados de um lado para o outro provou merecida a celebração calorosa do início do show. Emicida segurou firme a apresentação de duas horas e meia, que acabou com a plateia rendida ao artista. Em uma noite que declarou como inesquecível, Emicida comungou com o público o poder da sua música e, na terra do sol, pintou tudo em AmarElo. Enfim, a gira se fez.

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