Você já ouviu falar em pessoas superdotadas? Logo de cara pensamos que são indivíduos muito inteligentes e que sabem de tudo, mas não é exatamente assim.
A professora de Psicologia da Educação da UFC, Tânia Viana, comenta sobre esse erro comum.
"Quando eu converso com a população em geral, o sonho das mães é que os seus filhos fossem superdotados. Porque elas têm aquela ideia de que o superdotado é aquele aluno que é brilhante em todas as áreas e por isso ele está destinado ao sucesso profissional e a uma vida financeira bastante estável. Na verdade, o superdotado não é isso".
De acordo com o autor Joseph Renzulli, as pessoas superdotadas possuem três características principais: Se destacam em uma ou mais áreas específicas, são criativas e possuem uma grande motivação no que fazem.
A professora Tânia Viana ressalta que esse conhecimento vai além das matérias tradicionais da escola.
"O que nós observamos são pessoas que tem uma capacidade bastante elevada em alguma área do saber e do fazer. A inteligência ela existe fora da escola. Então, você pode ter alguém que tenha altas habilidades no futebol, como cozinheira, nas ciências, em qualquer campo do saber e do fazer".
Os estudantes superdotados, ou com altas habilidades, como preferem chamá-los os estudiosos da área, precisam frequentar a escola como todos, mas necessitam de um acompanhamento suplementar para que venham a desenvolver suas habilidades.
Paulo Victor Loureiro é professor do Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará, o CREAECE. Ele explica o que pode acontecer com esses estudantes caso não recebam o acompanhamento adequado.
"Necessariamente não é que eles tenham um prejuízo, mas eles deixam de ter um estímulo que seria muito importante para desenvolver suas potencialidades. Esses alunos eles tem uma criatividade, uma curiosidade, uma capacidade de liderança, uma vocação para a oratória, e o que acontece é que se eles não forem estimulados, eles vão se equiparar aos demais. Se estimulados de forma errada, acabam deixando essa habilidade latente".
Para dar assistência aos estudantes com altas habilidades, foi criado o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação, o NAAHS. O núcleo recebia alunos, pais e professores e fornecia o acompanhamento necessário.
Em 2012, o NAAHS foi incorporado ao CREAECE. O acompanhamento passou a ser realizado por meio do Atendimento Educacional Especializado, O AEE.
O professor Paulo Victor Loureiro comenta sobre as perdas e ganhos dessa mudança.
"Dentro desse serviço, a gente teve alguns ganhos e algumas perdas. Vamos para os ganhos. Agora, os alunos com altas habilidades ou superdotação, além do serviço de suplementação de habilidades nas mais variadas áreas do conhecimento, Música, Biologia, Língua Portuguesa, Física, Matemática, eles também tem uma equipe muito grande de profissionais da saúde, que dá esse apoio tanto ao aluno quanto à família. Mas em termos de organização do serviço o AEE é muito rígido, então os atendimentos demoram 40 minutos e são individuais muitas das vezes. Isso para os alunos com superdotação acaba sendo um entrave".
Já a Professora Tânia Viana da UFC explica o problema do modelo educacional convencional e como ele pode ser desestimulante para os alunos com altas habilidades.
"Nós ainda persistimos em um modelo escolar muito voltado para memorizar e repetir. Principalmente no ensino médio, ele está voltado para preparar para uma seleção de ingresso no ensino superior. Onde está a identidade educacional do ensino médio? E o que nós estamos fazendo das nossas escolas que os alunos com talento, com altas habilidades e superdotação não gostam da escola?".
O Ministério da Educação trabalha em um cadastro de estudantes superdotados, para que políticas públicas voltadas a esse público possam ser elaboradas.
Reportagem de Fabrício Girão com orientação de Carolina Areal.