Em 2019, Cuba completa 60 anos de um período que entrou para a história do país. No dia 1º de janeiro de 1959, o ditador Fulgêncio Batista deixava a ilha cubana, tornando o Exército Rebelde vitorioso. O processo liderado por Fidel Castro revolucionou o país e influenciou diversos movimentos em outras nações.
Mas isso não aconteceu da noite para o dia. O professor de história da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Altemar da Costa explica o cenário que antecedeu e possibilitou a revolução:
"É caracterizado por um período de muita expansão econômica, principalmente para a extração de açúcar, rum, tabaco. E também era um espaço onde os turistas americanos iam para se divertir e liberar todas as suas fantasias, todas as suas taras como acontece hoje em Las Vegas. Só que hoje o que acontece em Las Vegas, naquele tempo era em Cuba. Então, por conta disso, houveram vários problemas envolvendo cidadãos americanos e cubanos, e isso começou a gerar um sentimento anti-americano muito forte, principalmente por conta de uma ditadura financiada pelos Estados Unidos, que há anos comandava o país, que era a ditadura de Batista".
A crescente insatisfação com o governo ditatorial deu a Fidel Castro ainda mais domínio para, aos poucos, vencer as lutas armadas. Os diversos embates foram fortalecidos pelo apoio popular. E ainda hoje a participação política do povo cubano herda traços da Revolução, como ressalta o pesquisador do Observatório das Nacionalidades da UECE Gustavo Guerreiro:
"O apoio popular ao modelo político de lá, e aí eu não estou fazendo nenhum pré-julgamento, nenhuma avaliação subjetiva, objetivamente, eles participam afetivamente das eleições cubanas. Tanto é que elas se organizam através de assembleias municipais do poder popular, onde elegem delegados. Eles tiveram na última, em 2007 se não me engano, a participação de oito milhões de eleitores, qualquer cidadão pode se candidatar".
Como mais um traço revolucionário, Cuba resiste até hoje à total abertura da sua economia. Embora tente dar espaço, existe certa singularidade em seu processo econômico. E o apoio popular se torna fundamental para sustentar essa ideia. É o que destaca o professor Altemar da Costa:
"O próprio governo cubano já tentou de várias vezes fazer a abertura da sua economia, e tem feito isso, mas dentro do tempo e do compasso que essa Revolução quer. Não dentro do tempo e do compasso que os americanos querem, que seria na verdade, o retorno completo dos anticastristas, que até hoje moram em Miami, para retomar as propriedades que ainda seriam deles, na opinião deles. Mas eu acredito sim, que, no essencial, esse povo, esse governo cubano, eles se mantém no poder graças a uma grande base popular que ele tem".
A Revolução Cubana foi de grande contribuição para o mundo não só pela sua importância no contexto histórico da Guerra Fria. Segundo Gustavo, seu significado vai além da relevância documental:
"Era um mundo bipolarizado, Cuba se tornou um pivô nessa luta acirrada entre as potências, e se constituiu, automaticamente, como um modelo a ser evitado, e até aniquilado, por um outro modelo que foi defendido e exportado pelas potências capitalistas mundiais. Então, nesse sentido, eu entendo que a projeção e a significação mundial da Revolução Cubana se dá em decorrência dessa radicalização da Guerra Fria. Então, isso foi agravado pelos choques de interesses, mas o seu grande significado, ele vai muito além da repercussão histórica dessa bipolaridade... É um movimento revolucionário guerrilheiro, que ousou derrubar, em meados do século XX, numa ilha caribenha, sem a menor infraestrutura, uma ditadura corrupta que era subserviente a interesses imperialistas".
Hoje, após 60 anos, o acontecimento que marcou a história de Cuba pode ser visto como determinante, não só para esse país e para seu povo, mas também para a trajetória de outras nações. É o que veremos na segunda parte deste especial, que será publicada na próxima semana. Além disso, buscaremos entender por que o país desperta tantas paixões.
Reportagem de Theresa Rachel com orientação de Igor Vieira e Caio Mota