Mas toda ave é de pena
Deixe de bestiologia
Com exceção de uma delas
Chamada Ave Maria
Que nasce no pôr-do-sol
Se despindo do dia
Pinto do Monteiro, Cantador
Em 12 de Julho de 1982 o programa Manifestações Culturais teve como tema cantadores, repente e poesias da tradição oral. O convidado para falar sobre o tema foi Francisco Linhares, economista e pesquisador da cultura popular nordestina, autor do livro Antologia Ilustrada dos Cantadores, escrito com o poeta popular Otacílio Batista. O livro levou 15 anos para ser feito e à época estava em sua segunda tiragem.
“Os cantadores são repentistas extraordinárias, que fazem de improviso. Nós procuramos na Antologia pelo menos registrar uma parte desse campo imensurável, para sabermos o valor do cantador”, afirmou.
Segundo o pesquisador, o primeiro cantador do Brasil foi Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, pois rompeu com a tradição das cantigas de amor e entrou no satirismo, criticando os poderosos. Quem, entretanto é considerado o precursor dos cantadores, é Ugolino do Sabugi, que nasceu em 1832 na Serra do Teixeira e morou em Santa Luzia do Sabugi. “Ele foi o criador do folheto de feira. O folheto veio da Europa, mas cordel se chamava tudo aquilo que ia para corda ou as histórias pequenas, que podiam ser em versos ou em prosa. Ugolino deu outra conotação: ele achou que só fosse cordel aquilo que fosse narrado em verso, com a dimensão de 11 cm por 16,5 cm, e no estilo tradicional do cantador em técnica de sextilha, martelo ou décima”, explicou Francisco Linhares.
O livro registrou mais de 300 repentistas, como Pinto do Monteiro, Canhotinho, Cego Aderaldo, Lourival Batista, Dimas Batista e o próprio Otacílio Batista, irmão mais novo da famosa trindade. Entre os temas das cantorias estavam preconceitos sociais e raciais, religião, morte, amor e velhice, versados por meio do humor.
Ouça o programa completo:
O programa Manifestações Culturais foi veiculado em 12 de Julho de 1982, com produção e apresentação de José Rômulo e operação de áudio de Paulo Frazão.