Convidado do programa Café com Letra, no início dos anos 1980, o jornalista e poeta Tárik de Souza falou aos apresentadores Heloísa Buarque de Holanda e Charles Peixoto sobre seu livro recém-lançado, intitulado E esse nó no peito, e a poesia dentro da Música Popular Brasileira (MPB). A poesia de que Tárik veio falar é, em sua própria definição, uma emoção concentrada a partir de uma vivência social. O nó, que seu livro menciona, é para ele o sufoco que marca sua geração, sob aspectos políticos e poéticos.
Tárik, que também é crítico musical, falou de características comuns entre a música e poesia, inclusive presentes em seu trabalho. "Minha poesia tem muito de ritmo. Eu faço uma rima mais de ritmo, de pontuação. Então, eu acho que, nesse ponto, essa sensibilidade é uma sensibilidade de música."
Durante a conversa, ele explica que, em determinado momento, a poesia veio a se desviar para a música, fato que ele atribui à facilidade que esta tem de acessar o público. "A música entra na casa das pessoas pelo rádio, não é como a poesia que você tem que se deslocar até uma livraria, buscar em um livro..." De acordo com o jornalista, essas dificuldades enfrentadas pelos escritores fizeram com que, muitos desses, viessem a se tornar letristas, havendo uma migração da poesia para o campo das composições. Ele aponta, como provas dessa mudança, a qualidade textual de algumas canções da MPB que, se colocadas apenas no papel, ainda se sustentariam por si só, sem a melodia.
Essa qualidade textual, segundo ele, não é apenas uma consequência da erudição de alguns dos grandes intérpretes da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gilberto Gil. O poeta aponta letras de nomes como Cartola e Nelson do Cavaquinho que, embora não dispondo da mesma erudição, tem nas suas composições, um aspecto poético guiado pela intuitividade.
Tárik de Souza
Reconhecido como um dos grandes nomes da crítica musical brasileira, o jornalista e poeta já escreveu para publicações como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Isto é e Vogue. Colaborou e escreveu diversos livros durante sua carreira, como O som do Pasquim, O som nosso de cada dia, Autópsia em Corpo Vivo e Tons sobre Tom, uma biografia sobre Tom Jobim lançada em parceria com Márcia Sezimbra e Tessy Calado. Desde 2005, apresenta o programa Bossa Moderna na Rádio MEC do Rio de Janeiro e é pesquisador do programa O Som do Vinil, do canal Brasil. Em 2017 lançou mais um livro, intitulado Sambalanço, a Bossa Que Dança - Um Mosaico. A obra, resultado de 15 anos de pesquisa, comemora o centenário do samba e aborda umas de suas raízes menos estudadas, o sambalanço.
O programa Café com Letra com o tema Carreira e Poesias foi veiculado no início da década de 1980, com produção e apresentação de Heloísa Buarque de Holanda e Charles Peixoto e operação de áudio de Carlos.