(Foto: Reprodução/Facebook)
No mês das festas juninas abençoadas por São João, a seção Memória do site da Rádio Universitária FM 107,9 revisita trabalhos e personagens marcantes da cultura nordestina. Nesta semana, resgatamos uma conversa realizada em 19 de outubro de 1982 no estúdio da Universitária FM para o programa Entrevista, com a participação do cantor e compositor cearense Ednardo. O programa Entrevista teve apresentação de Everardo Sobreira e operação de áudio de Antônio Carlos Lima.
Na época com dez anos de carreira, Ednardo lançava o décimo álbum, Terra da Luz (clique aqui para ouvir). Segundo o artista, todas as faixas do álbum são composições autorais ("Foi um disco de parceria comigo mesmo"), embora o disco tenha tido participações especiais de Manassés de Sousa, Carlinhos Patriolino e Robertinho do Recife.
Explorando blues, baião, rock e muitos outros estilos, o repertório do álbum desconstrói o formato "quadradinho" das produções da época. O título Terra da Luz, de acordo com o compositor, "não é só alusão geográfica, é uma alusão também de um projeto discográfico que trabalha com o lado luminoso da cabeça das pessoas que eu redescobri, revisitei morando em Fortaleza".
Atualmente, Ednardo acumula mais de 300 músicas compostas e dezenas de álbuns, com registros autorais, de parcerias e trilhas sonoras de cinema. Canções como "Pavão Mysteriozo", "Enquanto Engoma a Calça" e "Beira-mar" se perpetuam no imaginário popular como sinal de resistência.
Pessoal do Ceará
Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem (1973) foi o primeiro LP da carreira de Ednardo (ouça aqui). Por meio do trabalho realizado em parceria com o compositor Rodger Rogério, a cantora Téti e o arranjador Hareton Salvanini, nascia um dos mais importantes movimentos da música contemporânea cearense. O "Pessoal do Ceará", como ficou conhecido, era composto por um grupo de jovens que escolheram cultivar a cearensidade nas suas produções.
Desconstruindo valores
Na entrevista, o artista defende que Terra da Luz busca apresentar uma visão antropofágica, uma rebeldia leviana dos ritmos e hits disseminados na indústria cultural, em particular no eixo Rio-São Paulo. Para Ednardo, essa mídia concentrada manipula o que a população consome e simplifica o ser da melodia nordestina. É preciso "recolocar, retraduzir essa visão, essa estética da música nordestina em algo mais amplo, que não seja só aquela visão colonizada de que nordestino tem que tocar xaxado e baião de uma maneira engraçada para satisfazer, para massagear os anseios dos meios de comunicação", pontua.
O artista possui a preocupação de criar canções que possam "dizer coisas que sejam discutidas" de uma forma modificadora e interativa. Por fim, Ednardo defende uma nova geração de jovens que passa a manifestar, no início da década de 1980, a insatisfação com os padrões midiáticos, comportamentais e políticos. "O verdadeiro milagre brasileiro é a desobediência", enfatiza.
Escute a entrevista completa:
Em outubro de 2015, a seção Memória resgatou uma outra entrevista concedida por Ednardo ao programa Artistas da Terra, em 18 de abril de 1988, devido ao lançamento da trilha sonora do filme "Luzia Homem", direção de Fabio Barreto, e adaptação do livro do escritor cearense Domingos Olímpio (1851-1906) (ouça aqui).