De 2019 pra cá, a quantidade de podcasts produzidos na Universidade Federal do Ceará (UFC) tem crescido significativamente. Das relações internacionais à engenharia de alimentos, a versatilidade do formato permite que alunos, professores e servidores, das mais diversas áreas, levem suas pesquisas e debates para toda a comunidade acadêmica e além. Mas, afinal, o que é podcast? Para Bruno Balacó, jornalista e mestrando em Comunicação pela UFC, podcast é uma nova forma de fazer rádio:
"Existem algumas definições técnicas para podcast. Foi uma ferramenta que surgiu com essa ideia de ser um blog pra ouvir, até ela ganhar uma definição, que eu creio ser mais simples e direta, que define o podcast como sendo um material que é entregue no modelo de áudio, parecido com um programa de rádio. Só que ele [o podcast] se diferencia pela distribuição, que é feita, exclusivamente, através dos meios digitais, através da internet. Além disso, o podcast tem uma característica fundamental que é o consumo sob demanda: o usuário escuta o podcast na hora que ele quiser e do jeito que ele quiser, diferente do rádio que tem aquela escuta ao vivo."
O Brasil é o segundo país com maior consumo de podcasts do mundo, de acordo com o levantamento da Podcast Stats Soundbites, ficando somente atrás dos Estados Unidos. Bruno, que também é pesquisador de rádio e podcast, diz que essa adesão se dá por dois fatores:
"Essa democratização do podcast se deve, ao meu ver, em primeiro lugar, às pessoas estarem entendendo que o podcast é uma ferramenta de comunicação muito poderosa e eficiente e que é acessível. Afinal de contas, você só precisa de duas coisas para fazer um podcast: um celular ou um computador para gravar, e a internet que é o espaço onde você vai disponibilizar esse conteúdo. Isso do ponto de vista da gravação, por que pra consumir você não precisa necessariamente da internet o tempo inteiro, por que o arquivo do podcast pode ser baixado. Você faz o download sem que você precise estar ali, conectado, o tempo inteiro durante a escuta."
Não é à toa que muitos projetos de extensão da UFC começaram a ver no podcast uma forma de divulgação científica. É o caso do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais da Faculdade de Direito (GEDAI). A criação do InterCAST teve o objetivo de levar o conhecimento produzido dentro da Universidade para fora dela. É o que conta Pedro Menezes, graduando em Direito e diretor responsável pelo podcast:
"Não é de hoje que a divulgação científica é o nosso principal meio para chegar nas pessoas e mostrar o nosso trabalho. E eu acredito que o podcast cumpre de forma muito efetiva esse papel, porque ele é muito acessível. Por muito tempo, a divulgação científica ficou restrita às revistas científicas, que se tornou algo interno, para o próprio público acadêmico. E o podcast, não. Ele alcança, assim como uma rádio e como um canal no YouTube, as pessoas que não estão na faculdade, que não estão em uma universidade. Na verdade, ele também tem o papel de cumprir um dos pilares fundamentais da Universidade, que é a extensão."
Outro projeto que aposta na divulgação científica é o Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Medicina do campus da UFC em Sobral, que iniciou a produção de conteúdo em 2020, tratando sobre o Coronavírus na sua primeira edição. Nickolas Souza, estudante do curso de Medicina de Sobral e presidente discente do PET, conta sobre o podcast do Programa:
"A ideia de um podcast surgiu a partir da necessidade de transmitir informações confiáveis e atualizadas para a população acadêmica e para a população em geral. A gente decidiu fazer um podcast por que ele apresentava uma boa imersão na sociedade. O programa é feito por meio de uma teleconferência entre os 'petianos' [membros do PET] entrevistadores e o profissional de saúde entrevistado. Com o avançar da divulgação e da distribuição dos nossos episódios de podcast, nós esperamos que haja uma maior adesão pela população sobralense."
Mas nem só de divulgação acadêmica e pesquisa são feitos os podcasts da UFC. O professor Rafael Zambelli, do curso de Engenharia de Alimentos, viu nesta ferramenta uma oportunidade de renovar suas técnicas de ensino:
"O Alimentando a Engenharia surgiu como base para fazer uma disciplina metodologicamente mais ativa, com a participação dos alunos mais efetiva, com outras ferramentas não tradicionais de ensino e aprendizagem. Os cinco ou dez primeiros episódios eram temas voltados para assuntos vistos em sala de aula. Posteriormente, a gente começou a ver a necessidade de expandir isso para a área de engenharia de alimentos de uma forma mais completa. Tentar conectar o aluno com o mercado de trabalho, por exemplo, com empreendedores da área de alimentos, com empresas que atuam no processamento de alimentos."
Pesquisando sobre a adesão dos podcasts na UFC, o jornalista Bruno Balacó percebeu que ela ocorre nas mais diversas áreas da instituição:
"Dentro da UFC, a gente já percebe essa movimentação dos cursos e das unidades de extensão e pesquisa, que já contam com seus próprios podcast. Em um levantamento que eu fiz para uma pesquisa que está prestes a ser publicada, eu identifiquei 14 podcasts produzidos dentro do âmbito da universidade, seja por estudantes, professores ou servidores, sobre os mais diversos assuntos."
O podcast também pode ser uma ferramenta cultural e de diálogo, como comenta o professor Rafael Zambelli:
"Eu acredito que os podcasts são uma ferramenta muito útil na aprendizagem dos alunos, seja para conteúdo acadêmico, seja para conteúdo cultural ou de outras áreas também. É uma ferramenta que eu consumo e que eu procuro também transmitir para os meus alunos o conhecimento através dela."
Um exemplo de podcast com conteúdo cultural é a nova produção da Rádio Universitária FM, Vamos Mostrar Cultura, que fala sobre tudo que envolve cultura, sejam artes visuais, teatro ou música pop. O primeiro episódio traz uma entrevista com o ator Tavares Neto e pode ser escutado aqui. O podcast, que publica um episódio novo sempre na última sexta-feira do mês, também está disponível nas plataformas de streaming Spotify, Deezer, iTunes e em outros agregadores de podcast.
Reportagem de Beatriz Gonçalves com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira