Quando era menino, Josenildo já tinha sonho de gente grande. Ainda pequeno, queria contar histórias que mexessem com o coração do povo. Por isso desenhou quadrinhos, gravou radionovelas, entrou para o teatro do bairro e manteve vivo o desejo de produzir cinema. Na sua meninice, Gislândia aspirava ser estrela. Se encantou com Chiquititas, com as telenovelas e procurou o teatro do bairro. Como mágica, do encontro fortuito dos dois nasceu um amor desses de cinema.
Poderia ser a sinopse de um filme, mas, na verdade, é o enredo responsável por, anos depois, levar às telas do Cineteatro São Luiz o casal Josenildo Nascimento e Gislândia Barros durante a estreia da sua última produção, o filme de época Botija (2015). Atores e diretores de cinema do bairro Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, os dois já assustaram, emocionaram e cativaram a comunidade com tramas, gravadas ali mesmo, que vão desde abuso sexual, divórcio até possessões demoníacas.
Nem sempre foi assim. A chegada à vida adulta mexeu com os planos; as obrigações, com o tempo; e os seus sonhos com a incredulidade dos moradores. "Muita gente dizia: 'vocês tão doidos', 'isso é coisa de criança, 'vocês não vão conseguir fazer não'", revela Josenildo. Não obstante, os aspirantes à sétima arte precisavam ainda superar as limitações técnicas de quem não possuía equipamentos e o primeiro assombro de fazer um filme sem formação. "Nossa ideia era ver se a gente sabia [produzir um filme]", explica.
Nas boas narrativas, além de movimentar o enredo, os obstáculos transformam as personagens e permitem que a história enverede por novas possibilidades. De um amigo, veio a câmera. Do trabalho, o cenário. Da internet, a maquiagem. Do bairro, o elenco. Gravado, de sábado para domingo, na madrugada dos mortos, o média-metragem de terror O Inferno É Aqui (2008) foi a primeira produção de Gislândia e Josenildo. O filme foi colocado na locadora da mãe - e o sucesso foi imediato.
De lá para cá, a dupla virou casal, lançou quatro produções próprias bem-sucedidas e bastante distintas entre si. O longa Apenas Detalhes (2012), inaugurou, com um drama familiar, um nova fase na história dos dois, que já rendeu frutos como o curta Jessica (2013) e o Botija. Com as obras difundidas pelo bairro e pela internet, o reconhecimento não demorou a chegar. Fundaram o empreendimento cultural Bom Jardim Produções, reunindo sua obra e oferecendo, aos jovens da região, formações na área.
Seria o final feliz de um enredo improvável, mas, no que depender do público, essa saga tem continuação: "Depois que nosso filme passou no cinema, eu achava que tinha conquistado. Mas agora que tal produzir para ocupar todas as salas de cinema do Brasil? Meu sonho é esse, não sei se vou conseguir, mas sempre digo pra ela - vamos lá".
Confira a a seguir a entrevista completa:
*Entrevista realizada nos estúdios da Rádio Universitária FM no dia 13 de setembro de 2016.
Assista às obras de Josenildo Nascimento e Gislândia Barros no seu canal no YouTube.