22/12/17

Projeto Fotografia Tátil do Curso de Design da UFC

O projeto Fotografia Tátil tem o objetivo de promover a inclusão através da fotografia (Foto: Divulgação)

Todos os indivíduos devem ter acesso de forma igual e democrática às produções artísticas e aos espaços que as acolhem, sendo então necessário o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem essa comunicação.

Com o objetivo de promover a inclusão através da fotografia, em 2015, surgiu o projeto Fotografia Tátil, coordenado por Roberto Vieira. O professor do Curso de Design da Universidade Federal do Ceará (UFC) explica como surgiu o projeto:

“Começou a partir de um contato da associação dos cegos. Na época, eu não era nem professor. Eles entraram em contato pedindo doações para comprar bengalas pra crianças cegas no interior do Ceará. A partir desse contato, eu comecei a refletir sobre possibilidades de atividades que a gente poderia criar pra que eles mesmos pudessem desenvolver alguma atividade, né? E de repente até comercializar o produto desse trabalho. O processo de desenvolvimento da ideia é um pouco longo, mas chegamos ao formato final onde o próprio cego tirasse as fotos, que nós fizéssemos algumas oficinas, pra mostrar o que é fotografia, as possibilidades da fotografia, e que a gente materializasse essas fotos. Isso foi possível no momento em que eu entrei na Universidade como professor”.

O ingresso de Roberto Vieira como professor coincide com a montagem da Oficina Digital do Departamento de Design, Arquitetura e Urbanismo da UFC. Esse espaço possui máquinas de fabricação digital e possibilitou, junto aos alunos do curso de Design, iniciar o projeto no final de 2014, informalmente.

Giovanna Magda, aluna do curso de Sistemas e Mídias Digitais da UFC e bolsista do Fotografia Tátil desde o começo de 2017, explica como é o processo de escolha e materialização das fotos:

“O projeto, ele tem duas fases, que seria a produção das fotos e a materialização das fotos. A gente que promove essa produção, a gente faz essa produção por meio ou de oficinas com pessoas cegas ou através de concursos; e, também, como faz parte de um dos objetivos do projeto, dá suporte de acessibilidade a fotógrafos profissionais. A gente se utiliza dessas peças fotográficas já existentes. E a segunda etapa acontece da seguinte forma: há um tratamento na imagem e a gente aplica padrões de processamento de imagem; e a gente materializa através da máquina a laser ou da fresadora CNC, dependendo dos objetivos da peça”.

No projeto Fotografia Tátil, as fotos produzidas passam por um processo de materialização através de corte e entalhamento em MDF (Foto: Divulgação)

No projeto Fotografia Tátil, as fotos produzidas passam por um processo de materialização através de corte e entalhamento em MDF (Foto: Divulgação)

Depois dos procedimentos citados por Giovanna, tem início o processo de corte e entalhamento em MDF das peças, onde elas são separadas por camadas e coladas manualmente. O professor Roberto Vieira complementa a fala de Giovanna, relatando como se dá a produção de fotos por pessoas cegas:

“É uma outra percepção. Quando nós falamos desse projeto especifico as pessoas se surpreendem ‘ah, mas como o cego vai fazer fotografia?’, mas o processo é bem simples. Quando a gente explica fica muito claro. A ideia é descrever o ambiente. Tem o monitor do lado do cego que vai tirar a foto, descrevendo o ambiente e todo o entorno, 360 graus, e aí o monitor vira em direção a esse objeto junto com o cego, liga o LCD da máquina e começa a descrever o enquadramento do LCD, tudo que está dentro do enquadramento da máquina. Aí quando ele acha que a margem está interessante ele tira a foto”.

O projeto que visa promover a arte e a acessibilidade, também proporciona a possibilidade de experimentar essas manifestações artísticas sob diversas óticas, e de compreender as limitações de outros indivíduos. Giovanna Magda, bolsista do Fotografia Tátil, explica a importância desse projeto para a Universidade:

“Eu acho que é extremamente importante a gente pensar no fato que a acessibilidade nada mais é que um design universal, que todo mundo tem esse direito. E que a fotografia tátil ela tem uma importância de trazer novas perspectivas, tanto pra pessoas cegas que não tiveram contato com isso quanto para pessoas videntes que têm oportunidade de experimentar a fotografia em outras linguagens. É extremamente importante quando a gente consegue criar essa conexão entre pessoas que enxergam e pessoas que não enxergam no mesmo projeto”.

Por fim, a estudante pontua a relevância do projeto para a sua formação acadêmica, profissional e pessoal:

“O projeto me enriqueceu em diversos aspectos: primeiro, ele me fez perceber que eu gosto de acessibilidade, que é com isso que eu quero trabalhar o resto da minha vida; segundo, porque a minha pesquisa, a área que eu quero seguir é de design de interação e design de experiência do usuário. Então você trabalhar com experiências, você se colocar na visão de uma pessoa que tem uma perspectiva de mundo completamente diferente que a sua é extremamente enriquecedor e exercita muito a questão da empatia”.

O Fotografia Tátil conta atualmente com dois bolsistas e completa dois anos de existência em 2017. Para mais informações sobre o projeto acesse a página do projeto no Facebook.

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