A seca no Nordeste está entre as questões mais discutidas tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil desde os tempos do Império. Colocada muitas vezes como um fenômeno de causas naturais, a seca não é encarada com a devida atenção. A falta de água, aliada ao descaso histórico do Estado em articular políticas públicas eficientes para a região, reflete em uma das paisagens mais famigeradas do país.
Em 1984, o programa Opinião da Rádio Universitária FM entrevistou a então professora do departamento de Teoria Econômica do mestrado em Economia da Universidade Federal do Ceará, Liana Carleial. A entrevista foi concedida na oportunidade do Fórum Universitário de Educação, Ciência e Cultura da UFC, em que Liana realizou a conferência “Seca, momento para repensar a pobreza do Nordeste".
O mito de que a seca é responsável pela fome e a miséria da região Nordeste foi o norte da discussão. De acordo com a professora, o cenário da seca é aquilo que aparece e, portanto, acabando sendo o elemento que é mais divulgado. A condição de flagelo, no entanto, não está necessariamente apenas relacionada à seca. O que determina, então, de acordo com Liana, a pobreza no Nordeste, além dos fatores naturais, são fatores históricos e estruturais.
De acordo com a pesquisadora, para se perceber a relação entre seca e pobreza no Nordeste é indispensável perceber como se conforma a estrutura produtiva do Estado, estruturada sob o uso concentrado de terras, pouco investimento e falta de emprego. No caso específico do Ceará, ela ressaltou que “a estrutura produtiva é pouco dinâmica, porque está centrada basicamente na estrutura latifúndio nas zonas rurais, que inibe mudanças e expulsa populações e nas zonas urbanas, centradas no complexo indústria, comércio e serviços que é extremamente pouco dinâmico.”
Confira abaixo a entrevista completa: