Foto: Breno Reis
O programa Rádio Debate do dia 26 de Agosto discutiu os conflitos territoriais no Ceará. O programa aborda duas questões emblemáticas sobre o tema: o caso do assassinato do líder comunitário José Maria do Tomé e o assentamento Maceió em Itapipoca.
O líder comunitário, agricultor e ambientalista José Maria foi assassinado em 2010 por crime de pistolagem, por pano de fundo, a sua luta contra a utilização dos agrotóxicos e os grandes latifundiários da região.
Para falar sobre a questão do assassinato de José Maria, Cláudio Silva, integrante da Rede de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e do escritório de Direitos Humanos e assessoria jurídica popular Frei Tito de Alencar, foi convidado ao programa. Cláudio afirma que é uma realidade comum, não se trata de um caso isolado. A morte de Zé Maria foi uma morte anunciada já que a luta do agricultor era política e tinha visibilidade.
"Apesar de um aparente discurso de modernidade, o agronegócio se vale de expediente do atrasado e do que tem de pior da política brasileira, por exemplo a pistolagem."
Dia 19 de Agosto, a justiça Estadual do Limoeiro do Norte (CE) decidiu que os acusados do
assassinato de José Maria Filho deverão ser levados à Júri Popular.
Loudes Vicente, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais de Sem Terra (MST), lembra que os camponeses são os produtores de todos os alimentos que consumimos
e que, na história do Brasil, os ataques à este modo de vida são constantes.
"Não tem um caso que a gente não lembre, olhando desde o litoral até o sertão, nas nossas
serras, que não esteja vivendo processos de conflitos. De um lado, pessoas que moram há muito tempo cuidando deste território, vivendo suas vidas, e do outro empresas
que chegam com sua ganância dizendo que tem que atingir o PIB econômico."
Sobre o movimento, Lourdes afirma que a luta tem se intensificado nos últimos anos.
Convidada para falar sobre o papel da Igreja Católica na luta no campo, Luciane Diniz é membro da congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur e coordenadora editorial do livro A Nossa Luta foi uma Luta Sagrada . Como irmã, Luciane Diniz conta a história da congregação católica, a mesma congregação que a Irmã Dorothy fazia parte e foi assassinada, 10 anos atrás, por questões territoriais na Amazônia.
A congregação tem por intuito viver junto ao povo camponês e apoiá-los na luta.
O programa contou também com a presença de Antônio Sousa, agricultor, nascido no assentamento Maceió e presidente da associação de cultivadores e cultivadoras de algas do assentamento. Antônio fala sobre o apoio da Igreja Católica, sobre a irmã Maria Alice, a idealizadora do livro A Nossa Luta foi uma Luta Sagrada. O livro reúne relatos e memórias com depoimentos colhidos nos últimos anos de trajetória para contar a história de luta pela terra do povo do assentamento que completa 30 anos. A publicação costura a história e a memória de uma narrativa que é, comumente, negada na oficialidade dos dados.
Raquel Chaves, produtora e co-apresentadora do programa Rádio Debate, traz a questão do acampamento e a luta na disputa contra grandes empresários, em 2007, no qual pessoas do assentamento Maceió se reversaram para proteger o espaço. Cerca de 40% da renda do assentamento vêm do mar, segundo Antônio Sousa. Com a ajuda do MST, o assentamento conseguiu nesta época, impedir a construção de resorts na região.
"A luta pela terra é uma luta constante.", asserta Antônio Sousa.
Escute o programa completo abaixo:
O Rádio Debate começa às 11h30 e vai até 12h30. O programa tem produção de Raquel Chaves e Breno Reis e apresentação de Marcos Robério e Raquel Chaves.