Ouça "Abril azul: mês de conscientização do autismo" no Spreaker.
Rafael Santana
Especial para a Rádio Universitária FM 107,9
No último dia 2 de abril foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data que marca todo o mês através da campanha Abril Azul. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por um desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados.
Cláudia Rodrigues, vice-presidente da Fundação Projeto Diferente, um centro de acolhimento para pessoas com TEA, explica a importância da data:
“O dia 2 de abril foi uma data escolhida pela ONU para promover conhecimento e conscientização a respeito desse transtorno, visto que a mídia se cerca de mitos, se cerca de estigma com as pessoas com transtorno do espectro autista, que é tão vasto como própria natureza humana.”
O diagnóstico
A avaliação precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) desempenha um papel crucial no desenvolvimento e no bem-estar da criança. Ao identificar esses sinais, como dificuldades na comunicação, interação social e padrões comportamentais restritos e repetitivos, os profissionais de saúde podem intervir positivamente, possibilitando o acesso a terapias especializadas, que podem ajudar a maximizar o potencial de desenvolvimento da criança e a melhorar sua qualidade de vida a longo prazo.
Eva Martins, neuropsicopedagoga e professora na Fundação Projeto Diferente ressalta a importância deste diagnóstico nos primeiros anos de vida da criança:
“O diagnóstico precoce é de fundamental importância para que a partir daí, possam ser realizados os estímulos necessários ao desenvolvimento dessa criança. Com a estimulação adequada, essa criança poderá desenvolver habilidades e, por consequência, a aquisição de uma vida funcional e com hábitos que facilitem sua interação social.”
Miguel Bernardo de 11 anos foi diagnosticado com TEA, ainda quando tinha um ano de idade, em 2014. Sua mãe, a dona de casa Cícera Ferreira, relembra como foi o processo de descoberta do autismo de seu filho mais novo, em uma época que o assunto ainda não era tão debatido, e a adaptação à nova realidade familiar:
“O aceitar o diagnóstico é um processo muito lento. Mas eu lembro que foi realmente um processo muito assustador, porque tinha essa possibilidade: Qual nível desse autismo? Será que vai ser uma criança verbal? Será que vai ser uma criança que vai ter contato com o outro? Qual a relação do barulho com a criança? Então, foi realmente um processo demorado de se compreender.”
Já para a farmacêutica e criadora de conteúdo Kassiane Costa, o processo de diagnóstico aconteceu já na fase adulta. Em toda a sua vida ela sofria com questões que não compreendia, como alto índice de timidez, questões sensoriais, seletividade alimentar, temperamento mais delicado e uma irritabilidade com mudança. Sua vida mudou quando foi diagnosticada como uma pessoa no espectro autista:
“Como agora eu sei do que se trata, então eu me abraço muito mais, eu me perdoo muito mais, eu entendo muito mais as minhas questões e respeito muito mais meu espaço e minhas dificuldades, porque hoje eu entendo que não vem do nada, eu entendo que não é frescura, que não é porque eu sou explosiva. No fim, tudo tem um motivo de ser, tudo tem uma explicação.”
Compreender e aceitar o diagnóstico é fundamental para os pais e cuidadores, pois permite a eles acessar recursos educacionais, terapêuticos e de apoio específicos para o TEA. Com um diagnóstico formal e precoce, a criança pode se qualificar para serviços de educação especial, adaptações escolares e suportes individualizados que atendam às suas necessidades específicas.
Isso promove uma inclusão mais eficaz e uma melhor qualidade de vida para indivíduos com TEA, os ajudando a alcançar seu pleno potencial e a participar ativamente na sociedade.
Os obstáculos e uma conscientização precisa
Diariamente pessoas autistas enfrentam diversos desafios na sociedade devido à falta de compreensão, conhecimento e aceitação generalizada do TEA, o que leva a estigmatização, discriminação e exclusão social. Além da falta de suporte e recursos adequados para atender às necessidades específicas desses indivíduos, como explica Cláudia Rodrigues, vice-presidente da Fundação Projeto Diferente:
“Os obstáculos são muitos, dentre eles o pouco acesso às terapias. O número de diagnósticos vem crescendo exponencialmente e, infelizmente, a estrutura de saúde e a educacional não cresceu na mesma velocidade para abraçar essas pessoas”.
Cláudia Rodrigues ressalta ainda a importância da empatia:
“Basta que você olhe para aquela pessoa próxima a você com TEA e a enxergue como você, alguém que necessita de afeto, de condições de vida, e de fazer parte da sociedade."
Para a neuropsicopedagoga Eva Matias, o entendimento sobre o assunto tem que ser aderido em várias estruturas sociais:
“O profissional, seja de que área for, precisa estar aberto para compreender, para receber aquela criança e sempre demonstrando o máximo de empatia pelo outro.”
Cicera Ferreira sonha com um mundo mais justo e inclusivo para o filho Miguel:
“As minhas maiores esperanças para o Miguel é que na trajetória dele, ele encontra todo aparato que ele necessita. E para isso, o meu desejo é que várias partes da nossa comunidade também andem, e que possamos ser mais inclusivos.”
Em um mundo que cada vez mais valoriza a diversidade e a inclusão, a conscientização sobre o autismo é essencial. Ao compreender e respeitar as diferenças, construímos uma sociedade mais justa e acolhedora para todos. Juntos, podemos criar um ambiente onde cada pessoa, independentemente de suas características, seja valorizada e tenha a oportunidade de florescer plenamente, com um toque especial de azul.