Ouça "Mona Gadelha é convidada dos Encontros Literários Moreira Campos da UFC" no Spreaker.
A cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha é a convidada dos Encontros Literários Moreira Campos e restaura o cenário do rock, na Fortaleza “setentona”.
Ela refaz o que chama de “um itinerário da inquietação”, a partir do livro Perfume Azul: rock e transgressão em Fortaleza nos anos 70, que lançou este ano.
Antes de ser palavra, Perfume Azul era os amigos Mona Gadelha, Lúcio Ricardo e Siegbert Franklin, juntos em uma banda de rock, em 1976.
Em entrevista à Rádio Universitária FM, a artista passeia por seus lugares de afeto.
"Primeiro, eu gostaria de dizer que é sempre um grande prazer e uma honra falar com a Rádio Universitária, uma emissora pela qual eu tenho um grande afeto, grande respeito e carinho. Esse livro, essa abordagem, vai muito ao encontro das ruas nos anos 1970. Eu tenho uma relação muito densa, muito intensa com as ruas de Fortaleza, especialmente dessa região, do centro, ali já próximo da 13 de Maio, do Benfica, porque eu morava na rua Senador Pompeu quando eu era adolescente e os amigos do perfume azul Lúcio Ricardo e Siegbert Franklin eles moravam na Barão do Rio Branco, paralela a a rua Senador Pompeu."
O trio caminhava e cantava a cidade, traça Mona Gadelha.
Então eu chamo isso de itinerários hoje, um itinerário afetivo e inquieto porque naquela época a gente estava vivendo sob uma ditadura, vivendo numa sociedade extremamente conservadora, não que a gente tenha se livrado disso, infelizmente ainda não, mas a gente tinha essa vontade de mudar o mundo como todo jovem nessa década de 1970, com muita referência de rock, comigo também principalmente de blues."
Com a música, ela foi abrindo caminhos pelo coração da rua até o mundo.
"Eu vou abordar isso, essa essa relação que está totalmente relacionada a uma inquietação mesmo, a uma reflexão, a uma atitude diante do mundo."
O “itinerário da inquietação”, pela cidade e pelo tempo, também mostra outro olhar sobre si mesma, reflete Mona Gadelha.
"Eu acho que a cidade e o tempo revelam um outro olhar. É interessante porque já me perguntaram o que mudou a partir da canção "cor de sonho" que eu cantei na Massafeira [Livre], no Theatro José de Alencar, em 1979, que eu regravei depois do meu primeiro disco solo, lançado em 1996, o que que mudou? Eu acho que sonho ele também se transformou numa certa melancolia, numa certa noção de realidade, né?".
E esse passeio pelas horas reserva muitos encontros, conclui Mona Gadelha.
"Eu acho que tem alguns aspectos nostálgicos também, embora o sonho não envelheça, como dizem os mineiros "os sonhos não envelhecem", eu tenho a memória afetiva da cidade, é a memória afetiva dos amigos que já se foram, por exemplo, o Siegbert Franklin, ele não está mais aqui, um multiartista, visionário, que já se foi. Nesse momento da minha vida é uma relação com uma certa nostalgia de uma cidade, ao mesmo tempo do fato de ter voltado pra Fortaleza depois de vinte e oito anos de São Paulo. Voltei e estou na cidade nos últimos dez anos. Me abriu também um outro horizonte pra acompanhar uma nova geração de artistas que eu acompanho através do meu trabalho na Escola Porto Iracema das Artes, onde atualmente eu estou na coordenação do Laboratório de Música."
Os Encontros Literários Moreira Campos com Mona Gadelha serão nesta quarta-feira, as seis e meia da noite, no auditório José Albano, localizado na área I do Centro de Humanidades da UFC, no Benfica.
O evento é aberto ao público e tem entrada gratuita.
Reportagem de Ana Mary C. Cavalcante