Com as médias de novos casos e mortes por Covid-19 controladas no Brasil, governos estaduais e municipais começam a discutir sobre a flexibilização do uso de máscaras. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou na última terça-feira projeto de lei que autoriza governo do estado e prefeituras a flexibilizarem o uso. Já a cidade de São Paulo, que também estudava a flexibilização, decidiu manter a obrigatoriedade.
A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará Lígia Kerr, pós-doutora em epidemiologia pela Escola de Saúde Pública de Harvard, analisa que o momento deve ser de cautela, além de observação do que vem acontecendo em países que fizeram a flexibilização:
"Nós estamos vendo a Europa brigando pra não usar a máscara, vários países, e a Covid crescendo lá novamente. E ela vem crescendo por causa da combinação da Delta com a flexibilização das medidas de prevenção. Então na minha opinião ainda é cedo pra se fazer isso, e nós temos que acompanhar [por] muito mais tempo a epidemia, esperar mais grupos serem vacinados. E sabemos que nessa variante, se nós permitirmos o crescimento [de casos] de novo, novas variantes podem aparecer".
No Reino Unido, pioneiro na vacinação contra a Covid-19 no mundo, e atualmente com 70% de sua população completamente vacinada, o número de casos vem crescendo. Por lá, o uso de máscaras deixou de ser obrigatório em julho.
Outros países da Europa também estão vendo casos e mortes por Covid-19 subirem. Alguns por conta da baixa adesão à vacina, como Bulgária e Romênia; e outros pela dificuldade de acesso aos imunizantes. É o caso da Armênia, com apenas 7% de vacinados.
No caso do Brasil, 53% da população está imunizada com as duas doses, e parte significativa das internações por Covid hoje no país são de pessoas que não completaram a imunização. Como a vacina por si só não impede a transmissão, a máscara ajuda a cumprir esse papel essencial. Para a epidemiologista Lígia Kerr,
flexibilizar o uso de máscaras pode representar o aumento dos casos, como estamos vendo acontecer na Europa. E posteriormente a necessidade de retorno da obrigatoriedade seria um processo muito difícil.
"Existe um valor simbólico do que é você retirar uma medida. Então vai gerando uma falsa sensação de segurança nas pessoas no momento que nós estamos vivendo de uma das variantes mais transmissíveis que nós já tivemos até agora. Mais de 91% do vírus que está circulando hoje no Brasil é a variante Delta".
Segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa com dados das Secretarias de Saúde, em relação aos últimos sete dias o Brasil está com média de 348 mortes e de 12 mil casos.
Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.